Cerca de 39,7% dos municípios brasileiros não contam com serviço de esgotamento sanitário, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, divulgada em 2020 pelo IBGE. A situação é ainda mais grave na região Norte do país, onde apenas 16,2% das cidades possuem esgotamento sanitário. Um projeto desenvolvido por João Paulo Borges, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos na UFMG e pesquisador do Instituto Mamirauá, tenta solucionar esse problema em duas comunidades ribeirinhas na Região Amazônica.
O projeto, chamado Fossa Alta Comunitária, contempla a instalação de unidades de tratamento de esgoto. O sistema é composto por Tanque Séptico, Filtro Anaeróbio e um sumidouro. A tecnologia social foi desenvolvida para atuar de forma semicoletiva, ou seja, um único sistema pode receber o esgoto de até quatro lares.
Entre 2019 e 2020, foram construídas cinco fossas altas na comunidade de Santa Maria, no município de Tefé, no Amazonas, e na comunidade de São Raimundo do Jarauá, no município de Uarini, também no Amazonas. Ao total, já foram beneficiados diretamente mais de 250 ribeirinhos amazônicos.
Além do sistema de tratamento, o projeto da “Fossa Alta Comunitária” contempla a instalação de sanitários (“casinha”), com caixa d’água, vaso, descarga e pia com torneira para uma adequada higiene pessoal dos moradores. O projeto prevê ainda que estes sanitários possuam adequada acessibilidade, telas de mosquiteiros e chuveiro – sendo todas estas questões e demais detalhes, uma decisão das famílias e respeitadas pelas equipes técnicas.
O custo de instalação da “Fossa Alta Comunitária” é estimado entre R$ 10 a 12 mil. “Como é semicoletiva, ela pode tratar o esgoto de até quatro residências ao mesmo tempo, reduzindo assim o custo do orçamento per capta (por pessoa)”, explica o pesquisador. “Já para a manutenção, o custo é bem baixo porque envolve aquisição de alguns materiais simples e baratos, como mangueiras, EPIs básicos. Do ponto de vista de projeto, o custo de manutenção é irrisório”, completa.
Tecnologias sociais
As Tecnologias Sociais compreendem “produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social” – aliando o saber popular, a organização social e/ou conhecimento técnico-científico para a solução de problemas sociais.
No caso da tecnologia desenvolvida pelo pesquisador a destinação foram comunidades situadas nas chamadas planícies alagáveis, também conhecidas como várzeas. A várzea amazônica é uma região desafiadora para as soluções de saneamento em função dos “pulsos de inundação”, que fazem com que as águas dos rios subam em média 11 metros entre a estação de seca e cheia. Assim, todas tecnologias precisam ser adaptadas para funcionarem adequadamente nestas condições extremas.
Qualquer ambiente que tenha essa característica alagadiça pode receber a “Fossa Alta Comunitária”.
Certificação
O projeto foi certificado em 2021 pelo Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e é uma realização do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, em parceria com a UFMG. A Universidade participou do processo de desenvolvimento tecnológico e do acompanhamento do projeto, por meio do professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental Marcos von Sperling, que orienta João Paulo Borges no doutorado.
A “Fossa Alta Comunitária” é a quinta Tecnologia Social desenvolvida pelo Instituto Mamirauá que é certificada pela Rede de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. Outras tecnologias já certificadas são: Turismo de Base Comunitária (2019); Manejo Sustentável de Recursos Florestais (2017); Gestão Compartilhada dos Recursos Pesqueiros (2015); Sistema de Bombeamento e Abastecimento de Água com Energia Solar (2011).
Fonte: CicloVivo/ com informações da UFMG e Instituto Mamirauá.
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