Em live promovida pela Globo Rural, presidente e representantes do setor privado falam sobre a importância da descarbonização da agricultura brasileira e em como transformar o carbono em alternativa de renda para o produtor
O presidente da Embrapa, Celso Moretti, foi um dos convidados da live promovida no último dia 2 pela revista Globo Rural que debateu o tema “Carbono: o novo produto do agro”. Junto com Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e Eduardo Bastos, diretor de sustentabilidade da Bayer, os especialistas debateram a importância da descarbonização da agricultura e os caminhos para transformar o carbono em uma fonte de renda para o agronegócio. A mediação foi do editor-chefe da Revista Globo Rural, Cassiano Ribeiro.
Celso Moretti, em sua fala de abertura, destacou as pesquisas e as entregas da Embrapa que vem contribuindo para o ciclo de carbono. Ele explicou que o Brasil fez uma transformação fantástica na produção de alimentos, fibras e bioenergia ao longo dessas últimas décadas.
“Transformamos a situação do Brasil, de importador para exportador de alimentos, desenvolvemos uma agricultura de baixa emissão de carbono, com o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), que hoje é referência para outros países. O Sistema de Plantio Direto, a Fixação Biológica de Nitrogênio, a recuperação de pastagens degradadas, o ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) são importantes soluções tecnológicas que, se adotadas pelo produtor rural, contribuem fortemente para o avanço do mercado de carbono brasileiro”, detalhou.
“E mais recentemente, sintonizada com esse movimento de baixo carbono que existe no mundo, a Embrapa lançou a marca-conceito Carne Carbono Neutro e estamos avançando em outras cadeias produtivas”, complementou.
Moretti esclareceu, a partir de perguntas do público participante da live, sobre o processo de produção da pecuária na modalidade Carne Carbono Neutro. “Essa pesquisa começou na Embrapa há 30 anos, por isso a importância da existência de instituições públicas como a Embrapa e as universidades. Quando iniciamos o nosso objetivo era trabalhar o ILPF para a recuperação de pastagens, colocando em uma mesma área os componentes florestal, de produção de grãos e de animal. Os nossos pesquisadores observaram que o metano que sai do boi é neutralizado pelo componente florestal, pelas árvores que estão naquele ambiente. Para cada boi por hectare, precisamos de 20 árvores por hectare para a neutralização do carbono gerado pelo gado”, detalhou o presidente da Embrapa.
Marcello Brito explicou que o Brasil tem como composição na sua base de produção as reservas legais e áreas de preservação permanentes e que o país está localizado no cinturão tropical onde o ciclo de fotossíntese é rápido. “Portanto, a oportunidade que temos dentro de um ciclo de economia de baixo carbono é muito grande. Além disso, temos dois pontos importantes da cadeia a serem considerados: a ciência, representada pela Embrapa e instituições parceiras, que têm por desafio o desenvolvimento da cadeia, e, por outro lado, as empresas que podem contribuir fortemente para a atualização desse novo modelo de carbono”, explicou.
Eduardo Bastos, diretor de sustentabilidade da Bayer, esclareceu que quando o produtor adere ao programa de baixo carbono ele tem a oportunidade de acessar um crédito. “A questão é como eu faço, o quanto de carbono estou evitando lançar na atmosfera e o quanto eu posso ganhar com isso”, argumentou.
Para o diretor da Bayer, o desafio o Brasil é construir um modelo barato e de larga escala que converta o carbono que está no solo em unidade e que possa ser comercializado pelo mercado. Ele destacou que, em 2020, o mercado internacional movimentou 280 milhões de dólares no mundo. “É um mercado promissor, mas o agro ainda está afastado. Quanto mais gente boa estiver junto, melhor, por isso contamos com a Embrapa”, declarou.
Eduardo Bastos destacou o potencial do Brasil para transformar o carbono em crédito. Segundo ele, são 500 milhões de toneladas que podem ser convertidos hoje em carbono florestal e negociadas no mercado internacional, um resultado de 5 bilhões de dólares de potencial do Brasil em grãos, cana, pastagem e eucalipto. “Tem um caminho super promissor para o agro brasileiro”, declarou.
Transparência e sustentabilidade
Marcello Brito destacou que o mercado de carbono não é um mercado sem links, pois está relacionado a uma estrutura de transparência e sustentabilidade. “Mercado de carbono com degradação ambiental, não existe, o mesmo se aplica a questões relacionadas à regulação e ao acompanhamento pela sociedade”, afirma.
“Esse não é um processo novo, já está acontecendo no mundo, mas para que o Brasil se inteire mais efetivamente desse processo, precisamos fazer a nossa tarefa de casa que é cumprir a lei, seguir os acordos mundiais e fazer a regulação adequada”, complementou, lembrando que todos são importantes na cadeia: governo federal, governos estaduais, produtores rurais, fornecedores de insumos, compradores e cooperativas.
Marcelo lembrou que a cadeia produtiva de papel e celulose é o setor que está bem mais a frente no mercado de carbono no Brasil. “Eu diria que no agro temos estágios muito avançados e outros que ainda precisam começar. É um desafio”, avaliou.
Soluções tecnológicas e a sustentabilidade
Durante sua participação no debate, Moretti explicou ao público que, para o sistema de produção na modalidade Carne Carbono Neutro, pode-se trabalhar com várias espécies arbóreas – um dos experimentos da Embrapa são com pinus e eucalipto.
“Nós utilizamos eucalipto, na maioria das vezes, e em outras situações o pinus. Estamos analisando também a teca. No Brasil avançamos muito na questão do ILPF, temos 17 milhões de hectares, com propriedades no Mato Groso do Sul, por exemplo, com mais de 20 mil hectares de ILPF. O nosso compromisso, a partir do VII Plano Diretor da Embrapa (VII PDE), é, até 2024, aumentar em mais 10 milhões de hectares as áreas produtivas com ILPF”. Além do ILPF, de acordo com Moretti, há um conjunto de tecnologias de baixo carbono que juntas ocupam 47 milhões de hectares no Brasil.
Ele complementou lembrando que, além da marca-conceito Carne Carbono Neutro, a Embrapa lançou recentemente a soja de baixo carbono e o leite de baixo carbono, esse último em parceria com uma multinacional do setor. “A Embrapa desenvolve conhecimentos e ferramentas métricas para disponibilizar ao produtor rural. Muito da agricultura no Brasil já é de baixo carbono, agora é uma questão de estruturar, criar arcabouços legais para avançarmos nessa questão”, esclareceu o presidente da Embrapa.
O diretor da Bayer chamou a atenção para a necessidade de capacitação do produtor rural para atuar com o mercado de carbono. O gestor destacou o importante papel da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, o Senar, para apoiar os produtores em treinamentos. “É importante conectar o conhecimento da Embrapa com o setor privado, levar essa informação para o campo”, explicitou.
Os participantes ainda ressaltaram a importância da Conferência de Glasgow (COP26), na Escócia, para estabelecer bases legais e alternativas de modelos para a regulamentação do mercado de carbono mundial, em especial no Brasil.
“Em 2050 não haverá um setor de economia que não será afetado pela descarbonização. E felizmente nós estamos preparando o Brasil para estar pronto para responder pela agricultura de baixo carbono e participar ativamente deste processo. A Embrapa segue à disposição da sociedade brasileira”, finalizou o presidente da Embrapa.
Fonte: Embrapa
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