No Brasil, os amazônidas reclamam que Brasília é que decide tudo pela Amazônia sem escutá-los na maioria das vezes, e que isto é um erro. No comando da OTCA, se espera que este erro não seja cometido, e que os povos da floresta sejam ouvidos e atendidos.
Juarez Baldoino da Costa
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O Brasil é líder na América do Sul em tamanho, em PIB e em população, tendo relevância também nas questões comerciais do tratado do Mercosul, formado por Brasil, Argentina Uruguai e Paraguai, cuja sede é em Montevideo. É também líder do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) criado por iniciativa do ex-embaixador brasileiro Rubens Ricupero em 1978, que evoluiu para a criação da OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica em Brasília em 1998, única organização internacional multilateral com sede no país, cujas novas instalações foram inauguradas em Brasília em 21 de outubro de 2021.
A organização é formada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, e a boliviana Alexandra Moreira, atual secretária-geral, encerra seu mandato em janeiro/22. Pelo sistema de rodizio, a Amazônia continental ou internacional será gerida nesta instância por um brasileiro, cuja indicação passa também pelo Itamarati.
Sabe-se que gerir a Amazônia tem sido uma enorme dificuldade para os países da região, e é tarefa para amazônidas que entendam de indígenas e de ribeirinhos e de seu saneamento básico, das suas culturas da floresta, de sua educação a seu modo e do seu querer de vida conforme devam ser escutados.
Não servirá à Amazônia se for um secretário ou secretária-geral que seja apenas um mero e trivial desenvolvimentista, que apenas repita a retórica do tal desenvolvimento sustentável que até hoje não se explica. Se ainda tiver desconforto com piuns e carapanãs, se o ar pegajoso de 90% de umidade o incomodar, se o calor de 30 graus lhe for sufocante, e se ficar enjoado com as planícies infindas descritas por Euclides da Cunha, preferindo o gabinete com ar refrigerado, de fato não servirá à Amazônia.
Servir à Amazônia evidentemente não é ter o cuidado com as árvores ou com os macacos como objetivo, mas cuidar da sua gente. Só que para cuidar de sua gente, o secretário ou secretária-geral precisará entender em algum momento que sem árvores e sem macacos não há povos da floresta, mas apenas povos. É preciso saber se os amazônidas querem ser povos da floresta com o seu próprio modo de prosperidade ou se desejam apenas ser povos como quaisquer outros.
No Brasil, os amazônidas reclamam que Brasília é que decide tudo pela Amazônia sem escutá-los na maioria das vezes, e que isto é um erro. No comando da OTCA, se espera que este erro não seja cometido, e que os povos da floresta sejam ouvidos e atendidos.
Eles sabem muito melhor o que é prosperidade, a seu modo, e como obtê-la, amazonicamente.
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