“…por que o resto do Brasil quer impor a sua visão de desenvolvimento aos amazônidas de agora?”
Juarez Baldoino da Costa
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Para o Brasil melhorar e manter as condições de exportação de commodities vegetais à Europa, tem estado atento ao que fazer com a Amazônia e tem feito discursos recentes alinhados com a visão destes compradores.
Com a evolução da agenda mundial sobre a ecologia agora também reorientada pelos Estados Unidos, as commodities não vegetais (minérios e animais) igualmente estão no mesmo contexto. Se fosse interessante vender somente para a China que não demonstra as preocupações ambientais europeias e norte americanas, o comércio seria facilitado, mas a concentração num só cliente deixaria a dependência brasileira em condição de fragilidade estratégica.
O Brasil tentou há algum tempo deixar claro que a Amazônia é nossa e o que fazer com ela é do nosso interesse regional. Porém, os sinais mais recentes são de que, mesmo sendo nossa e mesmo não sendo este subjugamento de todo bom grado entre alguns brasileiros, o país tem externado que as opiniões internacionais quanto aos cuidados ambientais, discurso este inclusive dos brasileiros plantadores de grãos e que sabem o valor do negócio, são aceitáveis, independentemente de seu mérito.
Se esta história de clima, temperatura e preservação ou não de florestas será confirmada (ou não), não se sabe quando, mas os dólares no momento têm a sua importância. Isto porque “cuidados ambientais”, sem entrar no mérito, para uns significa um mero conjunto de restrições ao desenvolvimento, e para outros, seriam práticas voltadas inclusive para as tais das “futuras gerações” que ainda não estão definidas quanto ao tempo em que nos referimos a elas, ou mais precisamente, quantas seriam estas gerações.
Bolsonaro discursou em 22/04/21 no Leaders Summit on Climate e se referiu também às futuras gerações, mencionando este compromisso firmado pelo Brasil na ECO-92. Não sendo definidas no tempo, falar em ”futuras gerações” vai nos remeter ao conceito de eternas, como se a humanidade fosse eterna, e que precisaria, portanto, que as condições básicas para viver no planeta fossem também eternas (ou pelo menos que consigam chegar até o dia do Juízo Final).
Este subjugamento europeu remonta à época de Carvajal e Orellana no século XVI, e foi repelido pelos amazônidas de então, mas ao final os europeus venceram. Por outro lado, por dentro da Amazônia, e desde Carvajal, os habitantes genuínos continuam se embrenhando na floresta, num movimento contínuo, agora aparentemente fugindo do subjugamento do resto do Brasil. Os povos indígenas e muitos dos chamados “ribeirinhos” que vivem pelo interior, incluídos os imigrantes seculares, por suas várias razões, aparentemente não desejam viver nos centros urbanos e vão se afastando deles conforme se espalhem. E o Brasil vai atrás, e eles, parece, vão fugindo…
Se não aceitamos de bom grado a imposição da visão da Europa, que já se classificou de prepotente, intromissora, e que menospreza a inteligência e os costumes locais, ditando o que comer ou vestir, é de se perguntar: por que o resto do Brasil quer impor a sua visão de desenvolvimento aos amazônidas de agora?
Como destacou Rosalía Arteaga Serrano, ex-presidente do Equador e ex-secretária geral da OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, em seu artigo de 25/11/2005 publicado no jornal Folha de S. Paulo, e transcrito no livro Pan-Amazônia – Visão História e Perspectivas de Integração e Crescimento, organizado por Osiris Silva e Alfredo Homma (2015), a riqueza da Amazônia “…ainda não favoreceu aqueles que deveriam ser os primeiros beneficiados: os povos da bacia. Sob o predomínio de uma ideia de um progresso “para” a Amazônia, foi relegada a necessidade de um progresso “da” Amazônia…”.
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