“…mais do que nunca devemos exigir que se cumpra o mandamento constitucional de redução das desigualdades regionais, retendo na região a riqueza aqui gerada. E transformar recurso em riqueza é a especialidade de quem só faz isso há 53 anos”.
— por Wilson Périco —
Saindo dos palpites para a ação, estivemos fazendo uma varredura na web sobre os maiores fabricantes mundiais de alguns produtos relacionados, ou complementares, às cadeias produtivas do Brasil e aqui no Polo Industrial de Manaus. Diante dos resultados, fomos investigar que empresas fabricam esses produtos no Brasil e o resultado mostrou que as empresas eram as mesmas, aqui e lá. Ou seja, nossa diversificação e adensamento industrial não precisa ir tão longe. A rigor, precisamos criar ambientes de negócios mais atraentes, enxugar a burocracia e agregar o aditivo ambiental: “produzir na Amazônia significa manter a floresta em pé e ajudar o planeta a respirar melhor”.
Riscos da desindustrialização
Estes são alguns de nossos atrativos, além de nossa capacidade e talento para produzir o que for demandado pelo mercado. Temos provado isso, em clima de Pandemia, com a quebra global das cadeias de suprimentos e de produtos. Só não fizemos em tempo recorde os produtos que exigiam insumos indisponíveis. Por isso, o Brasil carece de conhecer este Brasil ao Norte, também talentoso, porém, costumeiramente deixado para depois.
Tomara que a lição da Covid econômica tenha sido assimilada. Depender em mais de 90% dessa cadeia aparentemente atraente é colocar em risco a estrutura econômica/ industrial e geradora de oportunidades que nos custou suor e sangue para construir. Em nome de acordos bilaterais supostamente atrativos, pensar em reduzir impostos na importação de produtos significa liquidar mais ainda as chances de sobrevida da indústria nacional e local.
Explosão do desemprego
Em outras palavras, corremos o risco de importar de quem hoje já produz aqui no Brasil e aumentar o desemprego. Como concorrer com empresas instaladas aqui e na Coreia se eles não precisam trabalhar seis meses para pagar impostos ao seu país? E o que é irônico: sobram recursos para a sonhada infraestrutura competitiva. Ah, mas o produto importado, depois desses acordos, chegará mais barato ao mercado. Não tenhamos dúvida em muitos casos, mas quem vai comprar se o cidadão estiver desempregado, sem renda?
Importar e descuidar da indústria nacional causa danos em cadeia ao Brasil. Reforça o comodismo e atrofia o espírito empreendedor. Adia a materialização dos projetos e respectiva inovação tecnológica de que precisamos. De quebra atrofia a inteligência nacional e subutiliza talentos. Como vamos investir na inovação tecnológica – que nada mais do que uma resposta nova para antigos problemas – se não há necessidade de criar saídas ou respostas, pois elas já vem prontas?
Confisco sem fronteiras
Existem meia dúzia de países que ditam tendências e o Brasil não é um deles. Aqui, replicamos/industrializamos produtos (tendências) desenvolvidos nesses países. E porque estamos fora deste clube? Podemos arriscar alguns palpites locais e regionais, todos causados pelo confisco da riqueza aqui gerada. Não temos laboratórios de nanobiotecnologia para gerar riqueza de que o Brasil precisa para sair do atraso. Não temos porque ZFM virou o baile do confisco nos últimos 20 anos. Um baile no qual fomos injustamente barrados. Nossa representação no CAPDA – Comitê responsável pelas verbas de P&D – foi voz vencida na decisão da ZFM sustentar por dois anos, num repasse de R$ 2 bilhões, do programa Ciência Sem Fronteira do MEC. Temos as atas. Não estamos reivindicando a devolução desses recursos. É uma utopia diante da argumentação burocrática federal.
Redução das desigualdades regionais
De uma certeza, porém, estamos convencidos: mais do que nunca devemos exigir que se cumpra o mandamento constitucional de redução das desigualdades regionais, retendo na região a riqueza aqui gerada. E transformar recurso em riqueza é a especialidade de quem só faz isso há 53 anos.
Não se trata de definir aqui quem vai gerenciar a verba de P&D que, aliás, não pertence ao governo. Defendemos, porém, a produção de um omelete de transformação. O consumo público dos ovos, costumeiramente usado para custeio da máquina pública, deu no que deu. Em praticamente nada. Esse omelete- diz o bom-senso – deve ser desdobrado em qualificação de recursos humanos e infraestrutura competitiva, os pilares de uma Amazônia desenvolvida, sustentável e acesso do país ao Clube das Tendências, conquistado por um Brasil que aprendeu a enxergar o Brasil.
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