A Amazônia Legal representa, 60% do território brasileiro, mas responde por menos de 8% do nosso PIB. Isto significa que não somos “eficientes” no uso de nosso território do ponto de vista econômico.
Alfredo Lopes e Mariano Cenamo
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Quais são os requisitos para a construção da Bioeconomia a partir da Amazônia? Temos registros históricos de alguns ensaios que incluem a utilização da quina e do látex em processos industriais a partir da Amazônia. Em todos, porém, é ainda minoritária a presença de cientistas ou empreendedores brasileiros e menor ainda a taxa de conversão dessas pesquisas em negócios prósperos que geram emprego, renda e qualidade de vida para a economia regional. Precisamos de visão de longo prazo e muito mais ambição pra promover uma verdadeira revolução industrial a partir da floresta. Atualmente, mal passamos de poucas receitas advindas da atividade extrativista no início da cadeia produtiva. Não temos investimentos e capacidade de atrair empreenderes e negócios próprios que atendam aos desafios de desenvolver a Bioeconomia na Amazônia. O empreendedorismo predominante ainda se baseia na depredação da biodiversidade, através de um desmatamento equivocado que já removeu 20% da cobertura vegetal, queimando o banco genético florestal onde habitam as nossas maiores riquezas.
Os clones e seus benefícios
Hoje, os laboratórios de nanobiotecnologia da Embrapa Instrumentação de São Carlos-SP, para dar um exemplo animador, atendem protocolos da indústria de artefatos de borracha, pneus, preservativos e de uso hospitalar, oferecendo clones da biologia molecular da Hevea brasilienses, a seringueira, para plantio, no Noroeste paulista, de uma espécie que ocorre no Alto Rio Juruá, na divisa do Amazonas com o Estado do Acre. Isso é Bioeconomia com insumo amazônico com inovação tecnológica nacional, com indícios de novos caminhos de formatação dos protocolos da inovação, daí a urgência da formação de quadros, intercâmbio de especialistas, oferta e procura de habilidades na gestão do bioma florestal, além do proibicionismo burocrático e frustrante.
O risco da savanização
Por isso não faz sentido desmatar para produção de soja ou pecuária de corte. Se insistimos na via predatória, diz a Ciência e dizem as experiências de países tropicais asiáticos: as altas taxas de desmatamento vão modificar a dinâmica trófica da vegetação nativa e as propriedades extraordinárias que as pesquisas científicas apontam na diversidade biológica tropical. O corte raso e as queimadas criminosas comprometem as estruturas biomoleculares de regeneração das espécies. Se essas duas ações alcançarem a remoção de 25% do bioma vai torná-lo inflamável em qualquer alteração de aquecimento climático. Os especialistas apontam o processo de savanização e da impossibilidade de regeneração natural. Ou seja, grandes porções de floresta que não podem ser revertidas. E este é o melhor exemplo de negócio com baixo retorno econômico e uma irreparável tragédia climática. Trocando em miúdos, cerca de 70% do que já foi desmatado na Amazônia virou pecuária e, na grande maioria dos casos, uma pecuária de baixa rentabilidade, baixa intensidade de produção, isso gera pouca renda, gera pouco imposto, pouco trabalho, e fatores que impedem a construção de uma economia forte. A conservação das florestas na Amazônia interessa a todo o Brasil. É comprovado que a perda de florestas na Amazônia compromete a chamada “safrinha” que permite ao agronegócio nacional produzir duas safras de grão por ano (exclusiva de países tropicais) e se destacar na competitividade global pela produção e exportação de commodities agrícolas.
Bioeconomia: novas oportunidades para o desenvolvimento da Amazônia – Parte I
Sustentabilidade é o mote
A Amazônia Legal representa, 60% do território brasileiro, mas responde por menos de 8% do nosso PIB. Isto significa que não somos “eficientes” no uso de nosso território do ponto de vista econômico. E mais: precisamos investir na qualificação de recursos humanos, aproveitar as experiências dos povos tradicionais no conhecimento e enfrentamento da floresta, seus riscos, potencialidades e fragilidades. Isso representa um novo momento civilizatório de geração de riqueza e prosperidade social. Inexistem exemplos ou benchmark de um país desenvolvido ou em desenvolvimento que conseguiu viabilizar um modelo sustentável e próspero de uso da terra que não leve ao desmatamento, à destruição dos estoques naturais. Pois bem, esse é o nosso desafio na gestão da imensidão Amazônia, suas riquezas e promessas inestimáveis, criando ambiente de negócios capaz de converter potencialidades em bem-estar social. A Amazônia é o nosso grande diferencial na economia do século 21.
Açaí, um caso glamuroso
O repertório de benefícios e de oportunidades que o açaí pelo mundo afora sinaliza fomentar a Bioeconomia das frutas amazônicas, ao mesmo tempo em que se investigam as opções inovadoras de energia, transporte e comunicação e novos modelos de conexão do mercado com o consumidor. E tudo isso implica em investir radicalmente em inovação das cadeias produtivas e de infraestrutura. O sucesso do açaí é similar ao que se agregou de inovação tecnológica aos produtos e subprodutos da cana de açúcar, de plantio de eucalipto, dos avanços que a Embrapa propiciou ao agronegócio. A economia do açaí representa 5% do PIB do Estado do Pará, mas certamente, os Us$17 milhões que são gerados nas vendas para. Os Estados Unidos, o Tio Sam faz render 100 vezes mais. Precisamos inovar para usar o exemplo do Açaí nas cadeias da madeira produzida de forma sustentável, do pirarucu, da castanha, óleos e fibras.
Bioeconomia é promoção da vida
A Bioeconomia tem um ativo adicional de ser uma economia que precisa ser balizada pela ecologia. Alavancar este novo negócio vai implicar na gestão estratégica do patrimônio florestal. Gestão da riqueza produtos como óleos, vegetais, frutas, exploração sustentável de madeira e seus subprodutos. Já temos alguma tecnologia adequada que deve ser aprimorada com investimentos profundo em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Evoluir será um movimento natural é necessário. Só assim o país vai criminalizar pra valer o desmatamento e a queimada destrutiva. Eis porque o capital internacional, num montante próximo US$ 4 trilhões, satanizou o desmatamento e as queimadas da destruição, cobrando atitudes corretivas do governo do Brasil. Os investidores sabem que o tesouro não está a soja nem no boi. O mundo precisa de soluções que façam evoluir, sanear e perenizar a vida. E o mundo sabe que a resposta está aqui. A chave dessa equação vem da Natureza, da qual a condição humana se afastou. Alavancar a Bioeconomia é promover a vida, reconciliar o homem com sua configuração natural, harmonizar Ciência e Existência rumo a compreensão do enigma universal.
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