Um novo ciclo para o PIM

Manaus poderia ser uma área modelo para a reconstrução da indústria nacional, com alta tecnologia e grande agregação de valor local. Entretanto, um potencial de sucesso ou algum sucesso relativo, leva a uma atração pela destruição e pelo ataque, aqui, acolá, entre buracos, portos, ex-tarifários, IPI ou qualquer outro elemento de distração

Por Augusto César Barreto Rocha
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Finalmente o cenário de fundo do poço do Polo Industrial de Manaus (PIM) mudou positivamente. O ano de 2021 foi marcado pelos buracos das ruas tampados e por um crescimento substancial no faturamento. Segundo relatório divulgado nesta última semana, com atualizações até meados de dezembro, há um expressivo crescimento em 2021 com relação a 2020: de US$ 24.3 bilhões para US$ 33.2 bilhões, ou seja, mais de 36%. É o melhor faturamento desde 2015 e inverte uma tendência de queda ou de flutuação no entorno dos US$ 25 bilhões de 2007, que vinha sendo o patamar típico, entre 2015 e 2020. Finalmente descolamos da planície do “fundo do poço”.

É um desafio fazer relações de causa e efeito em um aglomerado de indústrias, mas é importante destacar outros aspectos, além dos buracos reparados. O setor de Bens de Informática, que antes possuía pequena diferença em relação ao eletroeletrônico, despontou como líder, representando 37% de crescimento e quase 28% do que produziu o PIM. Salta aos olhos o incremento em todos os subsetores da área industrial e convém observar o maior consumo de insumos estrangeiros, o que pode suscitar uma maior importação de componentes, em detrimento da indústria nacional.

É um excelente resultado e pode ser uma mudança de cenário. Mesmo assim, sigo a acreditar que é um faturamento pequeno frente ao potencial do Brasil e da região. Deveríamos produzir muito mais. Como afirmei em 2012 – e já se passaram 10 anos – mesmo os US$ 41 bilhões de 2011 parecem tímidos. E, da mesma forma, US$ 33 bilhões é pouco. Precisamos ajustar esta percepção – não é pouco para os nossos bolsos. É pouco, muito pouco, para o potencial desta área industrial. Há um potencial muito maior que este, se forem tampados os outros buracos: institucionais, de infraestrutura e de estabilidade que construa confiança.

Manaus poderia ser uma área modelo para a reconstrução da indústria nacional, com alta tecnologia e grande agregação de valor local. Entretanto, um potencial de sucesso ou algum sucesso relativo, leva a uma atração pela destruição e pelo ataque, aqui, acolá, entre buracos, portos, ex-tarifários, IPI ou qualquer outro elemento de distração. Ao invés de se buscar como construir produções maiores, arrecadações maiores, mais empregos, mais tecnologia ou novas estruturas produtivas, seguimos a tapar rombos dos “tiros” que afugentam a indústria daqui.

Que esta vitória do PIM, da Suframa e do Amazonas seja transformada numa vitória do Brasil, para uma mudança de rumos, ao invés de um elemento de celebração para atrair o ataque destrutivo. Que consigamos, com mais ciência, com mais tecnologia, com mais empresas e com mais capital, atrair as mudanças necessárias para a geração de mais produção, mais empregos e mais impostos – e que estes recursos gerados sejam usados para transformar a realidade do Amazonas, que segue com o Índice de Desenvolvimento Humano sofrível em comparação com o restante do país e com o mundo. Que saibamos travar a guerra certa, que é contra a nossa fome e miséria e não contra a prosperidade.

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Augusto Rocha é Professor da Universidade Federal do Amazonas
Augusto César
Augusto César
Augusto Cesar Barreto Rocha é professor da UFAM

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