“Sem infraestrutura, está na hora de mudar esta realidade, para que exista uma mudança da dinâmica econômica nacional. Fora disto, seguiremos por séculos fazendo de conta que queremos desenvolver e fingindo cumprir a lei que afirma que deveríamos reduzir as desigualdades nacionais”
Não há como uma região sem acessibilidade ter atividades econômicas. As populações de pequenas cidades do interior que seguem isoladas, como se estivessem centenas de anos atrás, seguirão com as atividades econômicas de centenas de anos atrás. A infraestrutura é anterior à mudança da dinâmica econômica. Sem ela, até mesmo as eventuais produções de subsistência nunca terão a oportunidade de construir excessos para atingir outros mercados, pois sem o mínimo comércio, não há mudanças.
Ao longo dos séculos, o comércio é que viabilizou as “rotas da seda” ou a “rota das especiarias”, que comercializou tecidos entre a Ásia e a Europa. Mesmo as rotas (abomináveis) do Atlântico, que transportaram açúcar, ouro e escravos, na formação do Capitalismo é que viabilizaram as transformações econômicas de diversas regiões. As propriedades fundiárias em si, sem as atividades de comércio, não criavam riquezas. Comércio e inovação de produtos e tecnologias é onde está o avanço do crescimento econômico ao longo dos séculos. O intercâmbio cultural e comercial é que tem viabilizado transformações.
No Brasil contemporâneo estamos sabotando as oportunidades de crescimento. Não se aceita a criação de novas infraestruturas e se faz um dano ao desenvolvimento tecnológico, com pífios investimentos em educação e tecnologia. É como se não quiséssemos desenvolver e mudar o modelo econômico para o aumento da prosperidade. É como se quiséssemos seguir um país agrário e extrativista, enquanto o mundo segue para as novas tecnologias e trocas comerciais.
A ampliação do emprego formal é maravilhosa, mas precisamos de empregos mais bem remunerados, não por decreto, mas por competência que precisa ser criada com investimentos. Ignorar e atacar as possibilidades de crescimento e de ocupação do território brasileiro é um erro enorme. Mais educação sem tecnologia não leva ao crescimento natural da renda. É necessária a criação de oportunidades, mas com juros tão altos e sem investimentos, como criar oportunidades?
É revelador o que a Folha de São Paulo publicou em 19/10/2025 “Desde 2015 deputados e senadores separaram pouco mais de R$ 520 milhões no Orçamento federal para a pasta de meio ambiente, enquanto da Noruega vieram recursos no valor de R$ 1,75 bilhão para o Fundo Amazônia.” Estamos desprezando o nosso próprio território e seus potenciais de crescimento econômico. Não há infraestrutura transformadora sendo construída e os acessos ao interior seguem como séculos atrás. Como ter uma economia do século XXI nestas condições?
Com isso, o Sudeste é a origem e o destino dos recursos nacionais até para o meio ambiente, aonde vão 28,3% das emendas parlamentares, enquanto o Norte recebe apenas 1,9%, o que é natural, pois há menos parlamentares dali. E a Região Norte é onde está a grande fronteira do desenvolvimento nacional contemporâneo. Está na hora de mudar esta realidade, para que exista uma mudança da dinâmica econômica nacional. Fora disto, seguiremos por séculos fazendo de conta que queremos desenvolver e fingindo cumprir a lei que afirma que deveríamos reduzir as desigualdades nacionais.