As condições recorde de seca na América do Sul levaram a incêndios florestais, cortes de energia e racionamento de água
Já é o segundo ano que uma seca recorde castiga grande parte da América do Sul, incluindo a floresta amazônica, afetando vidas e economias locais e trazendo um alerta para o futuro à medida que os efeitos das mudanças climáticas se tornam mais evidentes.
Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela foram particularmente afetados, com grandes áreas desses países enfrentando uma “seca excepcional”, marcada com vermelho intenso em um mapa da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), agência ligada ao governo norte-americano.
O Equador está atualmente enfrentando graves cortes de energia, com interrupções que chegam a durar até 14 horas diárias. Já o Rio Paraguai atingiu níveis baixos sem precedentes: o surubí, uma espécie vital para os pescadores locais, tornou-se escasso, obrigando muitos a buscar empregos alternativos para sustentar suas famílias. Em Bogotá, capital da Colômbia, o governo está realizando cortes no fornecimento de água para residências em intervalos regulares. Como sugestão, o prefeito indica que as pessoas “tomem banho em casal” para reduzir o consumo.
A situação do Brasil frente a seca na América do Sul
A região do Amazonas enfrenta uma das piores secas já registradas, com impactos significativos nos rios da bacia amazônica, especialmente no Rio Amazonas e seus afluentes, como Rio Negro, Solimões e Madeira. Longos trechos se transformaram em praias secas e marrons, levando autoridades a dragar partes do rio para torná-lo mais profundo.
De acordo com o climatologista Carlos Nobre, em reportagem ao The New York Times, “nunca caiu tão pouca chuva na floresta tropical, nunca as condições secas duraram tanto e nunca uma região tão vasta da floresta amazônica esteve em seca.”
“Nós temos realmente um enorme desafio, por um lado com combater as mudanças climáticas, buscar, aumentar muito a nossa capacidade de adaptação, preservar todos os nossos ecossistemas, ser o país com maior projeto de restauração florestal, mas também combater esse crime que, por razões até difícil de entender, você resolveu colocar fogo em tudo aqui no Brasil”, constatou o cientista ao podcast S.O.S! Terra chamando!, da Rádio MEC. Ele pontua que, além da questão com o aumento da temperatura global, o país ainda sofre com incêndios criminosos, causados pela ação humana, o que contribui ainda mais com as queimadas, devastação da floresta e, consequentemente, agrava as secas.
A seca na América do Sul também atingiu duramente a rede de energia do Brasil, já que a energia hidrelétrica fornece mais da metade da energia do país. As maiores represas nacionais tiveram seus reservatórios de água reduzidos para pouco mais de 40% em setembro.
Secas extremas, chuvas extremas
Os cientistas esperam que um novo padrão climático, conhecido como La Niña, comece em breve, trazendo “alguma chance” de aumento das chuvas em todo o continente e melhores condições até o final do ano. Ainda assim, isso não mudará a tendência maior: as temperaturas estão aumentando, transformando a vida em uma série de países.
Isso também impacta em um fenômeno climático extremo inverso ao da seca na América do Sul: as enchentes. Isso porque o o ar quente retém mais umidade e, com o aquecimento do planeta, ocorre uma evaporação mais rápida da água na terra e no mar. Quando chove, há uma liberação maior de água, que pode causar grandes enchentes se cair em um curto período de tempo. Alguns casos recentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul e na Espanha, exemplificam o potencial de catástrofe desse fenômeno.
“Com toda a nossa ciência moderna, nós não temos percebido que nós estamos contaminando demais o planeta. Nós temos que realmente achar as soluções para tornar o nosso planeta sustentável para todas as espécies e para preservar a nossa vida”, conclui Nobre.
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