“A logística no Norte do país é negligenciada, ignorada e a proteção da floresta e dos biomas é realizada pela inação. Precisamos com urgência de estudos sobre a vazão do Rio Amazonas, do Rio Madeira e de todo o sistema desta bacia hidrográfica”
O Decreto Nº 12.600, de 28/08/2025 dispõe sobre a inclusão de empreendimentos públicos federais do setor hidroviário no Programa Nacional de Desestatização, incluindo as Hidrovias do Madeira, do Rio Tocantins e do Rio Tapajós. A opção da concessão do Rio Madeira segue a lógica do descuido e baixa importância para o Norte do país. Olha-se o escoamento das commodities do Centro-Oeste e coloca-se em risco a navegabilidade do Rio Amazonas para o trânsito de grandes navios.
Deveríamos ter estudos, que nem custariam tão caro, frente aos milhões que são gastos na dragagem inútil na região da Foz do Madeira e do Tabocal. Em 2023 e 2024 as dragagens não foram suficientes para garantir 12,8m de calado. Este ano, pela abundância das chuvas, é bem provável que ela seja desnecessária.
Ao invés de dragar, deveríamos fazer estudos hidrodinâmicos e climatológicos para viabilizar uma maior compreensão da Amazônia. Ao contrário disto, estamos muito preocupados em escoar a soja, que já ocupa uma área superior à da Alemanha. Ao conceder o Rio Madeira, coloca-se em risco todo um bioma e uma geomorfologia do Rio Amazonas. Pior que a subsunção capitalista do trabalho, é a imposição territorial na Amazônia, sem respeitar os biomas e os sistemas econômicos regionais.
A concessão, se fosse considerada de maneira sistêmica, deveria ter ido muito além do Rio Madeira. Há tanto sedimento naquele trecho de rio, que segue praticamente em paralelo à BR-319, que fazemos um misto de nem recuperar a rodovia, respeitando o seu entorno ambiental, nem respeitar o maior rio do mundo, correndo o risco de assorear ainda mais o principal canal de acesso para a indústria do Amazonas.
A logística no Norte do país é negligenciada, ignorada e a proteção da floresta e dos biomas é realizada pela inação. Precisamos com urgência de estudos sobre a vazão do Rio Amazonas, do Rio Madeira e de todo o sistema desta bacia hidrográfica. As cargas e tipos de sedimentos, a sazonalidade, as dunas móveis dos leitos do rio, o regime de enchente e formação de canal precisa ser compreendida antes de uma intervenção que pedagiará o rio.
A Amazônia é gigante, mas seguimos apenas com um interesse econômico. Esquecemos da natureza, das pessoas e das economias regionais. Queremos explorar a floresta – há pouco ou nenhum interesse no convívio, no aprendizado ou nas trocas harmônicas e pouco invasivas. A concessão que se avizinha a partir deste decreto segue pelo pior caminho.