A reforma administrativa, pode finalmente ser o país que produz, distribui e prospera — com a floresta em pé, o trabalho valorizado e a economia em movimento.
Coluna Follow-Up
Artigo de Alfredo Lopes
O país caro e ineficiente
Há reformas que corrigem distorções; e há reformas que redefinem destinos.
A reforma administrativa, tantas vezes adiada, pertence à segunda categoria. É o passo que falta para que o Brasil reencontre o caminho da produtividade, da justiça social e da competitividade industrial.
O país vive um paradoxo que há décadas desafia o setor produtivo: um Estado que consome a riqueza antes de distribuí-la.
Uma matéria da BBC mostra que o Congresso Nacional brasileiro é o segundo mais caro do mundo, custando US$ 4,4 bilhões por ano, atrás apenas dos Estados Unidos. Cada parlamentar brasileiro custa, em média, US$ 7,4 milhões anuais, o suficiente para financiar um ano de estudo de mais de 10 mil alunos do ensino médio.
Enquanto isso, economias de alta complexidade — como a Alemanha, a França e o Reino Unido — gastam de seis a vinte vezes menos por representante.
A desproporção é o retrato do Custo Brasil Institucional, uma dimensão muitas vezes ignorada nos debates econômicos: a ineficiência do Estado e o preço que o contribuinte paga para sustentar sua própria lentidão.
A engrenagem travada do Estado
Do ponto de vista da indústria, o verdadeiro entrave ao desenvolvimento nacional não está nas fábricas, mas nos gabinetes.
Empresários enfrentam um ambiente de insegurança normativa, burocracia redundante e lentidão decisória que asfixia a inovação.
O Custo Brasil, medido oficialmente em 2022, alcançou R$ 1,7 trilhão por ano — o quanto o setor produtivo gasta a mais para operar aqui do que gastaria em países da OCDE.
Desse total, cerca de R$ 400 bilhões correspondem à complexidade de honrar tributos.
Mas o custo invisível, e talvez o mais corrosivo, é a imprevisibilidade: a incapacidade de planejar o futuro em um ambiente dominado pela incerteza.

A reforma administrativa como vetor de competitividade
A reforma administrativa, sob o olhar da indústria, é mais do que um ajuste fiscal: é uma agenda de competitividade nacional.
Sua aprovação pode inaugurar um novo ciclo de eficiência pública e crescimento produtivo.
Ela é necessária para reduzir o custo estrutural da máquina pública, liberando recursos para educação, ciência e infraestrutura. Para estabelecer meritocracia e avaliação de desempenho no serviço público, estimulando produtividade;
Uma reforma para criar previsibilidade fiscal e orçamentária, que encoraja investimentos privados de longo prazo e para reforçar a credibilidade internacional da governança brasileira.
Enquanto o setor produtivo se moderniza, investe em transição energética, sustentabilidade e inovação, o Estado continua refém de uma estrutura anacrônica.
A consequência é trágica: o país tributa muito, entrega pouco e penaliza quem gera riqueza.
Produtividade é justiça social
Uma reforma administrativa moderna não é um ataque ao servidor público — é uma defesa do cidadão e do contribuinte.
O objetivo não é reduzir o Estado, mas qualificá-lo, tornando-o mais inteligente, digital, ágil e socialmente relevante.
A realocação de recursos hoje imobilizados em custeio poderia impulsionar áreas que multiplicam valor e inclusão: educação técnica, inovação, ciência, sustentabilidade e infraestrutura verde.
Esse é o conceito que se chama de produtividade distributiva — a capacidade de gerar riqueza pela eficiência e distribuí-la pelo mérito e pela oportunidade.
O dever político de modernizar o país
Toda mudança profunda gera medo, resistência e desinformação. É natural.
Mas a história mostra que adiar o inevitável custa mais caro do que enfrentá-lo. E o Brasil não pode esperar.
A reforma administrativa vem sendo discutida há mais de 15 anos, mas só agora o país parece amadurecer para ela.
Se a reforma tributária foi um passo decisivo, a administrativa é o complemento que sustenta esse avanço.
Sem eficiência no gasto público, qualquer simplificação tributária se torna cosmética.
É o momento de coragem — não para cortar por cortar, mas para corrigir um desequilíbrio histórico entre quem produz e quem consome o que é produzido.
O Brasil que pode ser
A indústria da floresta tem cumprido o seu papel: gera emprego, investe em tecnologia, financia universidades — como a UEA, presente em todos os municípios do Amazonas — e ainda responde por 30% do PIB de toda a região Norte.
Agora, o Estado precisa cumprir o seu: gastar menos consigo mesmo e mais com o Brasil real.
A reforma administrativa é, portanto, a reforma da coragem, da responsabilidade e da modernidade.
A coragem de enfrentar privilégios.
A responsabilidade de devolver eficiência ao dinheiro público.
E a modernidade de um Estado que distribui riqueza não por decreto, mas pela força da produtividade.
Sem isso, o Brasil continuará sendo o país do “quase”: quase rico, quase justo, quase eficiente.
Mas com a reforma administrativa, pode finalmente ser o país que produz, distribui e prospera — com a floresta em pé, o trabalho valorizado e a economia em movimento.
(*) Coluna Follow Up é publicada do Jornal do Comércio do Amazonas, às quartas, quintas e sextas-feiras, sob a responsabilidade do CIEAM, e coordenação editorial de Alfredo Lopes