Estudo indica que expandir áreas verdes nas cidades pode ajudar a combater insegurança alimentar e crise climática

Pesquisa aponta que cultivar e colher plantas em espaços urbanos fortalece a segurança alimentar nas cidades e amplia a resiliência diante do clima extremo.

Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba, mostra que o forrageamento urbano — prática de coletar ou cultivar espécies comestíveis nas cidades — pode se tornar uma ferramenta estratégica para enfrentar a crise climática e, ao mesmo tempo, fortalecer a segurança alimentar nas cidades.

A pesquisa, elaborada pelo engenheiro florestal Eduardo Ribas, sob orientação do professor Demóstenes Ferreira Silva Filho, reforça que integrar árvores e plantas ao planejamento urbano amplia não apenas o acesso a alimentos, mas também a resiliência frente a extremos climáticos, como ondas de calor e eventos de seca.

Moradores cuidam e colhem alimentos em horta urbana, prática ligada ao forrageamento urbano e à segurança alimentar nas cidades.
Moradores em horta urbana: cultivar e colher nas cidades fortalece a segurança alimentar e amplia a adaptação às mudanças climáticas. Foto: Reprodução/JBr.

O estudo mostra como a prática conecta biodiversidade, bem-estar urbano e políticas públicas. Em um país majoritariamente urbano, onde desigualdades sociais se refletem no acesso à comida saudável, utilizar áreas verdes como fonte de alimento representa uma alternativa sustentável com impacto ambiental positivo.

Além de mitigar emissões de gases de efeito estufa, árvores frutíferas e hortas urbanas ajudam a reduzir a temperatura das cidades, infiltrar água no solo e melhorar a qualidade do ar. Ribas lembra que o forrageamento resgata conhecimentos tradicionais sobre espécies nativas e medicinais que tendem a desaparecer nos grandes centros. A prática também fortalece laços comunitários e aproxima os moradores da natureza, estimulando hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis.

Para chegar a essas conclusões, a pesquisa percorreu três etapas. Primeiro, realizou-se uma revisão de literatura internacional sobre o tema. Em seguida, uma enquete com mais de 300 moradores de São Paulo, a qual revelou que 60% já haviam praticado forrageamento, sendo que quase um terço fazia isso para se alimentar. Por fim, também foram realizadas entrevistas com gestores públicos das áreas de meio ambiente, evidenciando o potencial do tema para compor programas de arborização e políticas de uso de espaços urbanos. O trabalho destaca que a expansão do forrageamento depende de maior difusão de informações sobre espécies seguras para consumo, da incorporação do tema em programas de educação ambiental e de um planejamento criterioso do espaço urbano.

Segundo Ribas, o Brasil tem condições de alinhar essa prática a compromissos internacionais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável) e 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis). Para o pesquisador, investir em forrageamento urbano é também investir em segurança alimentar nas cidades e em soluções climáticas de longo prazo, capazes de transformar o modo como se organizam os territórios diante de desafios ambientais globais.

Duas idosas e um homem colhem frutos em árvore frutífera de área urbana, exemplo de forrageamento urbano para segurança alimentar nas cidades.
Cultivo comunitário em áreas verdes. Prática resgata saberes tradicionais e reforça a segurança alimentar na cidade diante da crise climática. Foto: Gerhard Waller.

Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

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