Pesquisa mostra que nanoplásticos já se acumulam em toda a cadeia alimentar do planeta

Estudo de universidades do Rio de Janeiro revisou 140 pesquisas e aponta que nanoplásticos podem atravessar células, afetar órgãos e trazer riscos à saúde

A poluição plástica evoluiu para formas quase invisíveis e potencialmente mais perigosas. Os microplásticos, fragmentos de até 5 milímetros, e os nanoplásticos, ainda menores (menos de 1 micrômetro), já foram detectados em oceanos, rios, solos, alimentos e até no corpo humano. Embora diferentes em tamanho, ambos representam riscos à saúde e ao meio ambiente.

Os microplásticos surgem da fragmentação de resíduos maiores ou são adicionados intencionalmente a produtos como esfoliantes e cosméticos. Já os nanoplásticos, derivados desses mesmos resíduos, são tão pequenos que escapam das técnicas convencionais de detecção, o que dificulta seu estudo. Ainda há muito a descobrir sobre sua presença, comportamento e efeitos tóxicos.

Partículas de microplásticos sobre o dedo humano, representando aditivos usados em produtos cosméticos como esfoliantes. Presença de partículas acende debate sobre perigos dos nanoplásticos.
Microplásticos presentes em cosméticos, como esfoliantes, são uma das fontes diretas de contaminação humana. Foto: Alexander Stein/ GETTY IMAGES, ULLSTEIN BILD/ GETTY IMAGES

Um estudo conduzido por pesquisadores da UFRJ, UFF e UERJ, publicado no periódico Microplastics, revisou 140 pesquisas científicas e reforçou que os nanoplásticos já estão em matrizes ambientais e biológicas. Pelo tamanho reduzido, atravessam membranas celulares, chegam à corrente sanguínea e se acumulam em órgãos como pulmões, fígado e cérebro, podendo representar riscos ainda maiores que os microplásticos.

A exposição humana ocorre por múltiplas vias: ingestão de peixes e frutos do mar contaminados, consumo de água, especialmente a engarrafada, inalação de partículas suspensas e até contato com produtos de uso diário. Estima-se que cada pessoa consuma entre 39 mil e 52 mil partículas de microplásticos por ano, número que pode chegar a 120 mil quando considerada a inalação.

Imagem de microscopia mostra partículas de plástico em microscópio 3D.
Imagem de microscopia mostra partículas de plástico em microscópio 3D. Foto: Arne Dedert, Picture Alliance/Getty Images

No Brasil, microplásticos já foram encontrados em peixes da Bacia Amazônica, do rio Paraná e do rio Uruguai, mostrando que esses contaminantes circulam em diferentes biomas e alcançam facilmente a cadeia alimentar humana.

Essas partículas não vêm sozinhas, elas carregam aditivos químicos tóxicos, alguns ligados a inflamações, distúrbios metabólicos, desequilíbrios hormonais e danos ao DNA. Os nanoplásticos, por sua área de contato maior e capacidade de penetrar células, podem agravar esses efeitos.

O problema é global. Todos os anos, mais de 330 milhões de toneladas de plástico são produzidas, a maior parte a partir de fontes fósseis. Estima-se que 4,9 bilhões de toneladas já estejam acumuladas e que esse volume ultrapasse 12 bilhões até 2050.

Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

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