Rebaixamento de reservatório em Colíder expõe aldeias Munduruku a riscos ambientais e sociais, reacendendo críticas ao modelo de hidrelétricas na Amazônia.
O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação para apurar os impactos sociais e ambientais do rebaixamento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Colíder, no rio Teles Pires, norte de Mato Grosso. O procedimento foi motivado por denúncias de lideranças indígenas que relataram cheias repentinas, alterações bruscas no nível da água e riscos às aldeias Munduruku da região.

Segundo o MPF, a Eletrobras identificou falhas em drenos da barragem, elevou o nível de segurança da usina para “alerta” e determinou a adoção de um Plano de Ação Emergencial (PAE). As comunidades atingidas, no entanto, afirmam que não receberam informações oficiais adequadas. “A maior parte do que chega até nós vem de mensagens em WhatsApp, o que nos deixa sem saber o que é mentira e o que é verdade. Falta informação segura, direta e diária para as comunidades”, destaca nota da Associação DACE, que representa os Munduruku do baixo Teles Pires.
A entidade alerta para a possibilidade de colapso em cadeia de quatro grandes hidrelétricas na Amazônia — Sinop, Colíder, Teles Pires e São Manoel. Teles Pires é o rio com maior número de grandes hidrelétricas na Amazônia. Além dos riscos físicos, indígenas relatam mortandade de peixes, ameaça a espécies de tartarugas, insegurança alimentar e água turva, fatores que comprometem diretamente a sobrevivência das comunidades.

O MPF afirmou que vai avaliar medidas para assegurar a proteção dos povos indígenas e a responsabilização das empresas. Os Munduruku exigem inclusão imediata no plano emergencial, respeito ao direito de consulta prévia, proteção à pesca e apoio emergencial às famílias atingidas.
O cenário reforça críticas recorrentes sobre o modelo de hidrelétricas na Amazônia e seus prejuízos socioambientais. Levantamento do Inesc aponta que 16 das 23 usinas em operação já impactam terras indígenas, enquanto mais de 30% das Terras Indígenas da região podem ser afetadas por novos projetos.
“Não aceitaremos viver sob ameaça constante em nome de um desenvolvimento que nos sacrifica. Defender o Teles Pires é defender a vida Munduruku e o futuro de toda a região”, ressaltaram lideranças Munduruku do DACE. Para os Munduruku, a defesa do Teles Pires é inseparável da defesa da vida e do futuro da floresta.