Mobilidade urbana gratuita

“Montar um mecanismo de alto nível para a estruturação das cidades e da mobilidade urbana poderá ser uma revolução social e econômica. As cidades congestionadas poderão repensar toda a dinâmica de uso do solo, abrindo uma oportunidade social, econômica e ambiental — especialmente diante dos cerca de 8 milhões de brasileiros que deixaram de usar ônibus após a pandemia”

 Há pouco de discussão no Brasil sobre como fazer um país melhor para todos. No debate público há de tudo, com baixa densidade de discussão, com superficialidade ou obscurantismo na informação e com pouco contraste de opiniões. Há muito da visão do “mercado”, há um pouco da visão de “empresários” e há um quase nada do interesse da maioria da população.                 

Assim, é compreensível que, na maior parte do país, estejamos ancorados nos paradigmas de mobilidade urbana dos anos 1970-1980. Fala-se apenas em automóveis e o transporte público fica “de lado”. As bicicletas e ciclovias, depois de um tímido avanço, voltam a ser colocadas “de lado”. Assim, o volume de motocicletas cresce expressivamente e as plataformas de aplicativos toma o espaço do trânsito para quem não tem poder aquisitivo para comprar um automóvel para ficar a maior parte do tempo parado.

Assim, chama a atenção o debate público de uma mobilidade urbana gratuita. Quem sabe voltaremos com isso a ter grandes missões que interessem para a sociedade como um todo. Afinal, mesmo com o SUS, a saúde não é gratuita para todos, com uma parcela da sociedade pagando planos de saúde e a mesma coisa acontece na educação, onde as escolas públicas não estão sozinhas para resolver o problema de ensino nas cidades.

mobilidade urbana
Adoção da tarifa zero é vista por estudiosos como incentivo para uso do transporte coletivoFoto: Alex de Jesus/O TEMPO

                

Se aumentarmos o transporte por ônibus nas cidades, o trânsito melhorará. Um projeto com esta característica terá o condão de ser positivo para todos. Afinal, os municípios, com uma estranha opção de ter poucas ou nenhuma equipe própria de Engenharia de Transportes tem ficado com um pesado e crescente fardo de subsídios, por conta da falta de mudança e modernização dos paradigmas de serviço, mesmo com todos os benefícios da Internet e dos sistemas de controle de tráfego.

As empresas e os trabalhadores que já arcam com os custos do Vale Transporte ou da passagem possuem um custo nada desprezível de seu cotidiano associado com o transporte urbano, podendo representar até 6% das remunerações, segundo a legislação atual. Montar um mecanismo de alto nível para a estruturação das cidades para o transporte público poderá ser uma revolução social e econômica. As cidades que estão congestionadas poderão repensar toda a dinâmica de uso do solo. Há aqui uma oportunidade social, econômica e ambiental. Afinal, cerca de 8 milhões de pessoas pararam de usar ônibus depois da pandemia.

Não faltarão argumentos contrários e rasos. O grande desafio que se apresenta é como acreditar que os Governos conseguirão resolver um problema nunca enfrentado com vigor no país. Depois das iniciativas de corredores exclusivos, no modelo desenvolvido pelo Arquiteto e político Jaime Lerner ou as ciclovias criadas em alguns Estados, pouco há de revolucionário ou verdadeiramente inovador neste setor. Este tipo de missão tem a capacidade de mudar as paisagens urbanas para melhor. Tomara que enfrentemos os problemas reais, que iniciarão pelas barreiras técnicas e políticas.

Augusto Rocha
Augusto Rocha
Augusto Cesar Barreto Rocha é professor da UFAM

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