Sem medidas adicionais de proteção, o desmatamento na Amazônia pode aumentar em 4% em 2025, conforme projeções da PrevisIA, uma plataforma de inteligência artificial Imazon. Estima-se que 6.531 km² de floresta possam ser derrubados no próximo ano, evidenciando a necessidade urgente de políticas ambientais mais eficazes.
O futuro da Amazônia segue ameaçado por altas taxas de desmatamento. Segundo um novo relatório da plataforma de inteligência artificial PrevisIA, desenvolvida pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a floresta pode perder até 6.531 km² de cobertura vegetal em 2025. O número, equivalente a uma área quase do tamanho do município de Macapá (AP), representaria um aumento de 4% em relação ao ciclo anterior (agosto de 2023 a julho de 2024). A análise destaca as regiões prioritárias para ações de proteção e reforça a necessidade de medidas imediatas para conter a destruição.
PrevisIA: Como funciona a projeção de desmatamento?
Desde 2021, a PrevisIA utiliza inteligência artificial para identificar as áreas com maior probabilidade de desmatamento, com uma assertividade média de 73%. O modelo combina dados históricos e geoespaciais, levando em conta fatores como expansão agropecuária, infraestrutura e histórico de ocupação territorial.
A nova projeção alerta que mais de um terço da destruição esperada para 2025 pode ocorrer em áreas de alto, muito alto ou moderado risco. Essas áreas críticas se concentram no chamado “arco do desmatamento”, que inclui estados como Mato Grosso, Pará, Rondônia, Amazonas e Acre. O uso da IA para monitoramento é visto como essencial para orientar políticas públicas e ações de fiscalização.
Os números alarmantes do desmatamento
Se a projeção de 6.531 km² for confirmada, o desmatamento em 2025 superará o registrado pelo sistema PRODES do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no ciclo anterior, que atingiu 6.228 km². O crescimento de 4% pode parecer modesto, mas reflete uma tendência preocupante de perda contínua de cobertura florestal na Amazônia Legal.
De acordo com o Imazon, a previsão de desmatamento para 2025 também inclui:
- 2.269 km² em áreas consideradas prioritárias para ações de prevenção.
- A maior parte dessas áreas concentrada em três estados: Pará (35%), Amazonas (20%) e Mato Grosso (17%).
- Aumento do risco de desmatamento em estados como Acre, Rondônia, Amapá, Tocantins e Amazonas.
Esses números evidenciam a necessidade de atuação intensiva em regiões estratégicas para frear o avanço da devastação.
Áreas sob maior risco: Estados e regiões prioritárias
A análise da PrevisIA também identificou as áreas mais vulneráveis ao desmatamento para 2025. O estado do Pará, que abrigará a COP30, concentra 35% das áreas passíveis de destruição, seguido por Amazonas (20%) e Mato Grosso (17%). No entanto, as ameaças não se limitam a esses estados.
- Acre, Rondônia e Amapá estão entre os estados que devem registrar aumento nas áreas sob risco.
- Pará, Mato Grosso e Roraima podem apresentar ligeira redução em comparação às taxas de 2024.
As regiões centrais do Pará também se destacam como epicentro de ações ilegais, o que reflete a pressão crescente sobre áreas antes preservadas.
Mesmo as áreas protegidas, como Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs), não estão imunes ao avanço do desmatamento.
Terras Indígenas ameaçadas
- TI Kayapó (PA): 25 km² sob risco.
- TI Apyterewa (PA): 25 km².
Unidades de Conservação mais vulneráveis
- APA Triunfo do Xingu (PA): 95 km², sendo 3,5 km² em risco alto.
- RESEX Chico Mendes (AC): 72 km².
- APA do Tapajós (PA): 50 km².
Essas áreas desempenham papel crucial na preservação da biodiversidade e na mitigação das mudanças climáticas. No entanto, são frequentemente alvo de invasões, grilagem de terras e atividades ilegais como garimpo e exploração de madeira.
Por que as projeções podem ser conservadoras?
Os pesquisadores do Imazon alertam que os dados da PrevisIA podem subestimar a gravidade da situação. Isso porque a ferramenta ainda não incorpora os números mais recentes do desmatamento na Amazônia.
Segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), somente entre agosto e outubro de 2024, 1.628 km² de floresta foram destruídos, o que representa 25% do volume projetado para todo o ciclo anual de 2025.
“Ainda que a PrevisIA tenha se mostrado precisa, as tendências recentes indicam que as taxas de desmatamento podem ser ainda maiores do que o previsto, se não houver intensificação das ações de fiscalização”, alerta Carlos Souza, pesquisador do Imazon.
Consequências e caminhos para a preservação
O aumento no desmatamento afeta não apenas a biodiversidade, mas também compromete metas globais de combate às mudanças climáticas. A perda contínua da floresta impacta diretamente comunidades indígenas, reduz a capacidade de armazenamento de carbono e altera o equilíbrio hidrológico regional.
A próxima Conferência do Clima da ONU (COP30), que será sediada no Pará em 2025, será um palco crucial para debater medidas de preservação e combate ao desmatamento. Entre as estratégias apontadas estão:
- Reforço na fiscalização em áreas prioritárias.
- Ampliação de políticas de incentivos econômicos para preservação florestal.
- Investimentos em tecnologias como monitoramento via satélite e drones.
A previsão de desmatamento para 2025, apresentada pelo Imazon, ressalta a urgência de ações efetivas para proteger a Amazônia. Com 6.531 km² em risco, incluindo áreas protegidas e territórios indígenas, o Brasil enfrenta o desafio de conciliar crescimento econômico com sustentabilidade. Sem medidas rápidas e eficazes, a destruição florestal pode colocar em xeque compromissos internacionais e a sobrevivência de uma das maiores riquezas ambientais do planeta.
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