Pesquisas revelam que, no período pré-colombiano, incêndios na Amazônia faziam parte do manejo e conservação da floresta pelos povos originários, práticas muito diferentes da escala atual de destruição.
Os incêndios na Amazônia em 2025 atingiram níveis alarmantes: mais de 93 mil focos já foram registrados, um aumento de 60% em relação ao ano passado e o maior número desde 2010. Segundo a Nasa, as queimadas atuais também são mais intensas. A paleoecologia, ciência que estuda ambientes antigos, mostra que o fogo sempre esteve ligado à ação humana na floresta, mas em contextos muito diferentes do atual.

Pesquisas com sedimentos e camadas de carvão revelam que povos indígenas usavam queimadas de baixa intensidade há milhares de anos para limpar áreas, cultivar alimentos e enriquecer solos. Essa prática, que preservava árvores em pé e aumentava a diversidade de espécies como castanheiras e açaí, deixou marcas duradouras na ecologia da floresta, tornando algumas regiões mais inflamáveis até hoje.
Estudos indicam que não há registros de fogo natural significativo na região. “A marca do fogo é uma marca exclusivamente humana na Amazônia”, afirma Mark Bush, da Florida Institute of Technology. Crystal McMichael, da Universidade de Amsterdã, explica que os solos enriquecidos por populações pré-colombianas ainda influenciam a vegetação, deixando as árvores menores, copas menos verdes e maior vulnerabilidade em períodos de seca — fatores que ajudam a explicar a propagação dos atuais incêndios na Amazônia.
A diferença central entre as práticas dos povos originários e as atuais está na escala. Enquanto os povos ancestrais realizavam queimadas frequentes e controladas, que preveniam grandes incêndios, as práticas modernas são ligadas ao desmatamento e à expansão agropecuária, com o objetivo de destruição em larga escala. Amostras do Lago Caranã (PA) mostram que, nas últimas décadas, o depósito de carvão é quatro vezes maior do que no auge do período pré-colombiano.
Especialistas alertam que, embora os povos amazônicos tenham usado o fogo como parte do manejo sustentável da floresta, os incêndios na Amazônia ligados à expansão agropecuária representam uma crise sem precedentes, cujos impactos podem levar séculos para serem reparados.
