Incêndios na Amazônia destruíram cerca de 10 vezes mais que o desmatamento

A escala de destruição dos incêndios na Amazônia equivalem a 6,7 milhões de estádios de futebol, como o que sedia a COP29 no Azerbaijão

Entre janeiro e outubro deste ano, incêndios na Amazônia devastaram cerca de 67 mil quilômetros quadrados da floresta, um número que alarmou cientistas por ser dez vezes maior que o desmatamento oficial registrado no mesmo período. Este último, captado por satélites entre julho de 2023 e agosto de 2024, foi de 6,3 mil quilômetros quadrados.

Os dados são do Monitor do Fogo, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), vinculado à rede Mapbiomas, e foram apresentados na COP29, realizada em Baku até sexta (22). Para ilustrar a escala da destruição, o número equivale a 6,7 milhões de estádios de futebol, como o que sedia a cúpula no Azerbaijão, afetados pelas chamas.

Incêndios na Amazônia devastaram cerca de 67 mil quilômetros quadrados da floresta em 2024
Incêndios na Amazônia devastaram cerca de 67 mil quilômetros quadrados da floresta em 2024 | Foto: Mauro Pimentel AFP  Getty Images

As secas extremas de 2023 e 2024 provocaram mudanças profundas na Amazônia, deixando a floresta mais vulnerável ao fogo. Com menos folhas, menor disponibilidade de água e enfraquecimento de sua barreira natural contra incêndios externos, a floresta perdeu parte de sua resistência a esse tipo de fenômeno.

 “Imagina a situação de muita seca, muitas folhas no chão. As árvores desfolhadas permitem a entrada de mais radiação solar e ar quente. É perfeito para o fogo se espalhar”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.

Pará é líder dos incêndios na Amazônia

Entre janeiro e outubro deste ano, foram cerca de 2,8 milhões de hectares queimados apenas no Pará, que foi responsável por 42% dos incêndios na Amazônia neste período. “O dado revela o impacto da emergência climática, que provocou a seca severa, uma vez que o Pará foi um dos estados que mais reduziu o desmatamento no país”, pontua Alencar.

No total, foram 6,7 milhões de hectares destruídos na Amazônia. Ou seja, 73% do fogo no país em outubro foi na região.

No estado do Pará, as queimadas frequentemente apresentam indícios de ilegalidade, atingindo áreas protegidas como terras indígenas e territórios de comunidades tradicionais. A gravidade da situação levou o Ministério Público Federal (MPF) a reiterar, no dia 18, a necessidade de medidas urgentes para combater os incêndios no estado.

Apesar de iniciativas como o Plano Estadual de Ações para Estiagem, Queimadas e Incêndios Florestais e o projeto Prevfogo, o MPF aponta uma execução insuficiente e falhas na coordenação das ações anunciadas pelos governos estadual e federal. Essa lacuna entre planejamento e implementação evidencia a necessidade de maior articulação e fiscalização para conter os megaincêndios e proteger áreas essenciais à biodiversidade e às comunidades locais.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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