Acessível apenas de barco, a ilha na Amazônia funciona como um observatório crucial para estudos sobre o campo magnético da Terra
O Observatório Magnético de Tatuoca (TTB), localizado em uma ilha desabitada a 12 km da costa de Belém, Pará, desempenha um papel crucial no estudo de fenômenos geofísicos. Fundado em 1957 pelo Observatório Nacional e parte da rede internacional INTERMAGNET, o TTB fornece dados precisos sobre o campo magnético terrestre.
Sua localização remota e isolada, acessível apenas por barco, cria um ambiente ideal para medições científicas, livre de interferências urbanas, veículos ou atividades humanas. Isso garante a qualidade dos estudos realizados na região, onde a Floresta Amazônica encontra as águas do Atlântico.
A história científica da ilha de Tatuoca começou em 1917, quando foram realizadas as primeiras medições do campo magnético na margem equatorial brasileira. Na época, a região foi considerada para um experimento que confirmaria a Teoria da Relatividade de Albert Einstein durante o eclipse de 1919. No entanto, devido à presença intensa de nuvens, a escolha final para as observações foi Sobral, no Ceará, sob a liderança do Observatório Nacional.
A importância dos estudos na ilha
O campo magnético da Terra, gerado pelo movimento contínuo de ferro e níquel no núcleo externo a mais de 2.900 km de profundidade, atua como um escudo vital contra o vento solar e raios cósmicos, garantindo condições para a vida no planeta. Segundo Cristiano Mendel, diretor do Instituto de Geociências da UFPA, observatórios como o de Tatuoca são essenciais para monitorar e estudar os fenômenos magnéticos terrestres, inclusive para compreender a história do campo magnético da Terra e projetar seu futuro.
“É a estação científica mais antiga em funcionamento ininterrupto na Amazônia”, destacou Mendel.
Assim, os dados coletados permitem avanços no conhecimento sobre as profundezas do planeta, como a dinâmica do núcleo terrestre, e oferecem suporte para tecnologias essenciais, incluindo a navegação de satélites.
“Em Tatuoca são feitas medidas muito relevantes para a compreensão da estrutura, dos processos, das variações do campo da Terra e da interação do campo magnético da Terra e do Sol. Tudo isso é importante para a operação de satélites, linhas de transmissão e vários outros sistemas tecnológicos fundamentais em nossa sociedade”, destacou à DW André Wiermann, tecnologista sênior do Departamento de Geofísica do Observatório Nacional (ON), órgão responsável pelo observatório presente na ilha na Amazônia.
Fenômenos relacionados ao campo magnético do planeta
A Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS) é um exemplo de fenômeno geofísico relacionado ao campo magnético terrestre, caracterizado por uma região onde esse campo é mais fraco. Essa fraqueza permite a entrada de partículas de alta energia na magnetosfera, representando riscos para satélites e astronautas.
Desde o século XVII, a AMAS tem se deslocado gradualmente em direção ao Brasil, aumentando em área e reduzindo a intensidade do campo magnético, o que faz da região um foco importante para estudos científicos.
Além do Observatório Magnético de Tatuoca (TTB), o Brasil abriga o Observatório Magnético de Vassouras (VSS), operado desde 1915 e um dos mais antigos do mundo. Localizado a 120 km do Rio de Janeiro, o VSS possui uma posição estratégica para monitorar a AMAS, complementando o trabalho realizado pelo TTB.