O viveiro atende às demandas da região e reduz custos e perdas relacionadas à logística, com capacidade para produzir 330 mil mudas de café agroflorestal por ano
O município de Apuí, localizado no sul do Amazonas, vive um marco no setor agrícola com a inauguração do Viveiro de Mudas da Iniciativa Café Apuí Agroflorestal, projeto apoiado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam). Essa infraestrutura foi projetada para impulsionar a qualidade da produção de café e fortalecer os sistemas agroflorestais locais, trazendo benefícios diretos aos cafeicultores familiares. O viveiro assegura mudas de alta qualidade, mais resistentes e adaptáveis, além de ampliar as oportunidades no mercado para o café amazônico de alto padrão.
As agroflorestas são sistemas de produção que integram a agricultura com a conservação florestal em prol da recuperação ambiental e biodiversidade, por meio da combinação de espécies florestais perenes, como árvores e arbustos, com cultivos agrícolas e, em alguns casos, com a criação de animais.
O viveiro atende às demandas da região e reduz custos e perdas relacionadas à logística, com capacidade para produzir 330 mil mudas por ano. “Antes, as mudas vinham de outros estados e sofriam muito no transporte. Agora, elas vão poder sair do viveiro direto para as propriedades, sendo plantadas no mesmo dia, sem perdas ou comprometimento da qualidade inicial”, explica o cafeicultor Viriato Rolf, envolvido há anos com a cafeicultura na região e seus desafios.
“Além de melhorar a qualidade e a quantidade de produção, também é um passo importante para a adequação ambiental e o fortalecimento de outros sistemas produtivos na região”, destaca o diretor técnico do Idesam, André Vianna.
A relevância do café agroflorestal
A inauguração do viveiro está alinhada com os objetivos do projeto Café Apuí Agroflorestal, que recupera áreas degradadas da Amazônia com espécies nativas e proporciona renda para agricultores familiares.
O cultivo de café em Apuí remonta à década de 1980, mas enfrentou um período de declínio nos anos 2000. Nesse momento, uma parceria com a ONG Idesam trouxe uma abordagem inovadora para a produção na região. Essa revitalização da cafeicultura em Apuí permitiu um aumento de produtividade aliado à preservação ambiental. Adubos químicos foram substituídos por biofertilizantes, enquanto pesticidas foram trocados por armadilhas feitas com garrafas PET. Além disso, os produtores abandonaram o uso do fogo para abrir novas áreas de cultivo, contribuindo para a conservação dos ecossistemas locais.
Com a introdução de árvores nos cafezais, a prática transformou o manejo agrícola. Suas raízes profundas ajudam a trazer água para o solo, eliminando a necessidade de irrigação. Além disso, os galhos e folhas fornecem sombra ideal para o amadurecimento uniforme dos grãos do café agroflorestal e ainda servem como adubo natural, promovendo um ciclo sustentável e integrado à biodiversidade da região.
Até janeiro deste ano, o Café Apuí Agroflorestal já havia beneficiado 115 famílias ao longo da cadeia de produção e produzido mais de 100 mil quilos de café agroflorestal, o que impactou em 2.305.000 m² de áreas reflorestadas com o modelo produtivo café agroflorestal e 77.000.000 m² de floresta conservada. A notícia é positiva para a cidade de Apuí, que foi campeã nacional do desmatamento em 2022.
Outras iniciativas em prol da sustentabilidade
Além do café agroflorestal, uma outra iniciativa recente apoiada pelo Idesam também visa colaborar com a vegetação e as áreas de plantio em Apuí: a implementação de aceiros.
Os aceiros são faixas de terra limpa e sem vegetação, criadas para atuar como barreiras contra o fogo em áreas florestais, agrícolas ou próximas a residências rurais. Eles interrompem a continuidade da vegetação seca ou inflamável, evitando que o fogo se propague de uma área para outra.
“Os aceiros podem ser feitos de forma manual, com o auxílio dos brigadistas utilizando enxadas, facões e roçadeiras. Também em grandes áreas pode ser feito de forma mecanizada com apoio de trator e maquinário. No caso de algumas regiões, pela grande altura da vegetação, os aceiros são construídos da melhor forma para que ele possa evitar que o fogo transpasse de uma região para a outra”, detalha Heitor Pinheiro, geógrafo e brigadista voluntário.
A implementação foi fruto de uma colaboração entre o Idesam e o Mercado Livre, com a campanha “Ajude o Sul do Amazonas”, destinada a arrecadar recursos para a construção de aceiros em propriedades de agricultores familiares no município de Apuí.