Abordagens de investidores privados para medir as emissões associadas ao empréstimo a governos correm o risco de criar incentivos prejudiciais aos países que mais precisam de suporte ao eixo de finanças sustentáveis
Países de baixa e média renda (LMICs, na sigla em inglês) estão sofrendo os maiores impactos das mudanças climáticas globais e precisam de acesso a financiamentos para responder e se adaptar a esses cenários. Com seus governos sem fundos suficientes para investir na redução de emissões de gases e na instalação de energia limpa e infraestrutura sustentável, esses países precisam complementar os gastos públicos com financiamento do setor privado. No entanto, o sistema financeiro global atual não oferece o capital que essas nações precisam para investir em seu eixo de finanças sustentáveis, nos preços acessíveis com os quais podem arcar.
Um novo artigo publicado nesta terça (08) na revista Nature discute esse impasse e traz análises mais aprofundadas que evidenciam uma espécie de cadeia viciosa prejudicial aos investimentos em países de baixa e média renda quando o assunto são as finanças sustentáveis. Ou seja, justamente esse conjunto de medidas adotadas com a finalidade ampliar investimentos em atividades econômicas e soluções voltadas à redução do impacto ambiental.
Compreendendo o cenário global
Muitos países de baixa e média renda estão lutando para pagar suas dívidas de empréstimos já existentes. Em 2023, meia dúzia de países não realizou os pagamentos que deviam, incluindo Líbano e Zâmbia. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), 68 países estão em risco de inadimplência em 2024, incluindo Gana, Granada, Maldivas e outras nações vulneráveis aos impactos climáticos.
À medida que esses impactos aumentam, os LMICs correm o risco de entrar em um ciclo vicioso de endividamento, justamente quando precisam investir para se tornarem mais resilientes. Exemplo: países subdesenvolvidos tendem a liberar mais gases de efeito estufa (GEE) por dólar do PIB (Produto Interno Bruto) do que países desenvolvidos. Isso pode deter investidores que estão focados em portfólios sustentáveis de investirem nesses países de média e baixa renda, dificultando que eles recebam recursos privados para implementação de ações que reduzam seu impacto ambiental e os tornem mais atrativos para outros investimentos.
Esforços em prol das finanças sustentáveis
Os gastos relacionados ao clima por famílias, empresas e instituições financeiras privadas dobraram entre 2019-2020 e 2021-2022, atingindo US$ 625 bilhões. No entanto, 91% dessa quantia foi destinada a gastos domésticos concentrados em países de alta renda. Em 2022, a Agência Internacional de Energia também estimou que uma empresa que desejasse investir em um grande projeto solar no Brasil ou na Índia exigiria retornos duas vezes maiores do que se o projeto fosse construído em um país de alta renda.
Isso ocorre pois à medida que a conscientização sobre sustentabilidade e riscos climáticos cresce, investidores privados estão cada vez mais buscando alinhar seus portfólios com o objetivo do Acordo de Paris de limitar a temperatura média global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Para apoiar essa meta, alguns padrões, métricas e ferramentas de finanças sustentáveis se proliferaram, desenvolvidas originalmente para proteger os ativos dos investidores de riscos de sustentabilidade a longo prazo, como o nível de emissão per capita de gases poluentes no país.
Entretanto, algumas dessas métricas têm consequências negativas não intencionais para quem busca investimento e ainda não possui parâmetros sustentáveis tão fortes.
Esforços já estão sendo feitos para reduzir essas barreiras de investimento aos países de média e baixa renda, incluindo a reforma da estrutura e das funções do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional para melhorar a avaliação de risco e disponibilizar mais financiamento público de baixo custo para os LMICs. No entanto, muitos desses esforços ainda não foram totalmente implementados.
Mais informações podem ser encontradas no artigo completo da Nature, em inglês, clicando aqui.
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