“Enquanto falarmos que há riqueza na Amazônia, estaremos distantes dos desafios de desenvolvimento reais. Enquanto não enfrentarmos as deficiências considerando as sociedades presentes, estaremos perpetuando a lógica colonial. Será que realmente há interesse em desenvolver a Amazônia? Isso parece bem longe das pautas reais.”
Por Augusto Rocha
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As perspectivas alteram substancialmente o que se pensa sobre a Amazônia. Temos uma visão compartilhada cada vez mais fragmentada, com falsidades, reduções e generalizações para cada túnel visual. Como cada universo mental é único, no olhar de um ribeirinho que vê o rio secar e os peixes morrerem sua realidade será certamente muito diferente de um europeu médio que saboreia uma Castanha do Pará sob o nome de “Brazilian Nuts” e pensa sobre a Amazônia e a sua importância ao mesmo tempo em que acelera um veículo com eletrônica alemã, conteúdo chinês e combustível com petróleo do Oriente Médio.
Como as redes sociais estão fragmentando o mundo em bolhas cada vez menores, estamos em um espaço compartilhado reduzido e múltiplo, pois pouco ou nada há de comum para cada pessoa. E se considerarmos as perspectivas das forças que conduzem os algoritmos de influência a questão se tornará ainda mais desafiante, pois quem controla o algoritmo seguirá seus próprios interesses. Neste contexto, as instituições nacionais e internacionais que tentam organizar as relações se veem enfraquecidas em suas forças e navegam na sua própria burocracia, tentando encontrar modos de manter uma mínima legitimidade.
Na perspectiva de quem respira o ar daqui da Amazônia, podemos ter uma pureza maravilhosa ou uma fumaça de queimada que danifica a saúde. Não há uma Amazônia no mundo real, nem uma Amazônia no imaginário coletivo. Temos muitas: da pobreza, do isolamento, do potencial econômico que nunca chega, ao mesmo tempo em que existe a Amazônia da riqueza, das conexões globais e da realidade econômica do presente. Em cada camada social, há quem se aproveite da pobreza ou da riqueza, bem como há quem perca com o outro.
A quem cabe conjugar todos estes elementos em uma base coletiva e de perspectivas únicas? Como entender da crise e da prosperidade simultâneas? Onde construir uma base comum de entendimentos? Os governos democráticos foram estruturados com este papel, mas eles sempre agradarão a alguns e desagradarão a outros. Quem deve ser agradado? Qual o melhor método para criar um futuro próspero para uma maior quantidade de pessoas? É isso que realmente vem sendo feito?
As respostas destas questões não são fáceis. Entretanto, enganar é bem fácil. Basta olhar as campanhas para as prefeituras do país. O que mais se discute são pautas que não contemplam os principais papeis das prefeituras, por mais que o cidadão esteja ali bem pertinho das políticas públicas das cidades. Seus efeitos positivos e negativos são percebidos com uma velocidade grande e mesmo assim não estamos deliberando a cidade que nos interessa.
Enquanto seguirmos a identificar a Amazônia como “uma”, estaremos fadados ao fracasso no diálogo com os locais. Enquanto falarmos que há riqueza na Amazônia, estaremos distantes dos desafios reais. Enquanto não enfrentarmos as deficiências considerando as sociedades presentes, estaremos perpetuando a lógica colonial. Será que realmente há interesse em desenvolver a Amazônia? Isso parece bem longe das pautas reais.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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