A partir de espécies tropicais como kratom e unha-de-gato, oriunda da Amazônia, estudo revela como plantas geram composto natural contra o câncer e apontam nova via na biotecnologia verde.
Pesquisadores da Universidade de British Columbia (UBC Okanagan), no Canadá, identificaram os mecanismos moleculares responsáveis pela produção da mitrafilina, um composto natural raro com potencial terapêutico contra o câncer e processos inflamatórios. A descoberta representa um avanço significativo na biotecnologia de produtos naturais e oferece uma alternativa sustentável para a produção de substâncias farmacêuticas.
A mitrafilina integra a classe dos alcaloides espirooxindólicos, reconhecidos por sua estrutura química complexa e atividade biológica intensa. Esses compostos, no entanto, são encontrados apenas em quantidades mínimas em plantas tropicais como o kratom (Mitragyna) e a unha-de-gato (Uncaria), ambas pertencentes à família Rubiaceae, o que limita sua aplicação industrial.

O estudo, liderado pela professora Thu-Thuy Dang, revelou o papel de duas enzimas essenciais no processo de biossíntese da mitrafilina. Uma delas é responsável por moldar a estrutura tridimensional da molécula, enquanto a outra realiza a torção final que confere ao composto natural sua forma funcional. Compreender essas etapas é fundamental para replicar o processo em laboratório de forma eficiente e controlada.
De acordo com os cientistas, a descoberta oferece uma nova via para a produção em larga escala do composto natural, utilizando métodos de química verde que reduzem a dependência da extração vegetal e o impacto ambiental. A pesquisa foi realizada em colaboração com a Universidade da Flórida e contou com apoio de diversas instituições científicas do Canadá e dos Estados Unidos.

Nos próximos passos, a equipe pretende adaptar essas ferramentas moleculares para desenvolver outras variações com potencial terapêutico, ampliando o leque de aplicações na área da saúde. “Queremos criar uma variedade ainda maior de compostos terapêuticos”, afirma Dang.