Sistema prometeu avanços, mas entregou a exploração — do homem e da Natureza. Catástrofe ambiental se avizinha e ações mitigadoras não bastarão: será preciso uma revolução. O primeiro passo: reconhecer ação predatória do homem
Na prática, o capitalismo opera sob os condicionantes de duas forças: a “Força Político-Econômica” e a “Força antrópico-inercial”. Neste processo, a “Força Político-Econômica” representa a interface dinâmica onde se dá o conflito e se constrói a cooperação entre as três principais variáveis do sistema capitalista: o Estado, o capital e o trabalho. Por este ângulo, o crescimento da economia apresenta-se como condição necessária para a convergência política das três variáveis mencionadas (ou grupos de interesses conflitantes) e a superação de algumas de suas diferenças. Já a “Força Antrópico-Inercial” diz respeito ao fato de não existir um modelo de desenvolvimento econômico sustentável alternativo, forçando, assim, a “Força Político-Econômica” a seguir operando o sistema capitalista de forma ambientalmente insustentável e humanamente cruel.
Isso posto, não se pode discutir mudanças climáticas sem considerar o impacto do sistema capitalista sobre o meio ambiente. Esse impacto tem sido percebido nos níveis históricos de emissões de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento generalizado da temperatura no planeta.
A pressão do capitalismo sobre a sustentabilidade do planeta tem sido evidente. A partir dos anos 1950, a população mundial dobrou para 6 bilhões de habitantes no final do século XX e hoje já somos 7,8 bilhões de pessoas.
A quantidade de automóveis em 1996 era de aproximadamente 700 milhões e hoje a estimativa é de que seja 1,3 bilhão; o número de pessoas vivendo em áreas urbanas passou de 30% para 50% da população mundial, podendo chegar a 70% em 2050; o consumo de papel alcançou 412 milhões de toneladas (STEFFEN, CRUTZEN, MCNEILL, 2007). Interpretando esses dados sob qualquer perspectiva, não é nenhum absurdo imaginar que o enfrentamento da questão ambiental passa pela busca de “mecanismos” que equacionem os interesses do capital, as necessidades materiais das pessoas, o uso racional dos recursos naturais, a preservação dos ecossistemas e a viabilidade dos estados como agentes provedores de segurança e bem estar para suas populações.
A afirmação do Ministro Paulo Guedes, no início desse ano em Davos, de que “O pior inimigo do meio ambiente é a pobreza” e que “As pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer” não surpreende. Ele é parte de um governo que defende o negacionismo em várias áreas e o meio ambiente é apenas uma delas. Assim, infere-se da fala do ministro que aquele que já está penalizado pela sua condição de pobreza tem de carregar, também, o fardo de ser inimigo do meio ambiente. O ministro está equivocado. Vale ressaltar que o Brasil tem sido alvo global de críticas, justamente, por não apresentar uma estratégia ambiental para o país.
O enfrentamento dos desafios impostos pelos efeitos destrutivos do sistema capitalista sobre o meio ambiente passa por uma revolução que abranja a sociedade, a economia e o meio ambiente como um todo. Nesse sentido, o primeiro passo é reconhecer, e não negar, que as mudanças climáticas foram potencializadas pela ação do homem, principalmente, a partir da aceleração do crescimento econômico mundial nos últimos 50-60 anos.
Fonte: Outras Palavras
Comentários