“O garimpo ilegal é mais que um crime ambiental: é uma ferida aberta no corpo da Amazônia, cujas sequelas já atingem o sangue, o cérebro e o futuro de milhares de crianças. Ignorá-lo é permitir que essa herança tóxica se transforme na nova maldição da floresta”
A floresta que sangra ouro e mercúrio
O brilho do ouro que escorre dos igarapés da Amazônia custa muito mais do que se imagina. No silêncio da floresta, dragas sugam o leito dos rios e despejam toneladas de mercúrio em suas águas. Essa prática, ilegal e devastadora, espalha-se como um veneno invisível, contaminando peixes, adoecendo populações inteiras e deixando marcas que podem durar até cem anos.
O mercúrio que envenena os rios e a vida
Em agosto de 2025, uma expedição científica da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) percorreu mais de 1.700 km do rio Madeira. O resultado foi alarmante: altos índices de mercúrio em diferentes espécies de peixes consumidas diariamente pela população ribeirinha.
Crianças: vítimas inocentes da herança tóxica
Se os adultos já estão expostos a níveis perigosos, as crianças são ainda mais vulneráveis. Em aldeias Munduruku de Itaituba, mais de 60% da população indígena apresentou contaminação, com 15% das crianças afetadas por problemas de desenvolvimento neurológico.
A cadeia do crime: o contrabando de mercúrio
O mercúrio usado na Amazônia é, em grande parte, contrabandeado. Entre 2019 e 2025, estima-se que mais de 180 toneladas entraram ilegalmente na região, vindas principalmente da América do Norte.
O Estado contra o garimpo: o desafio da imensidão
Apesar dos esforços de fiscalização, a Amazônia ainda é um território quase ingovernável diante do poder econômico do garimpo. Operações federais se multiplicam, mas enfrentam frota insuficiente, logística precária e a imensidão florestal como aliada do crime.
Um futuro ameaçado
O legado do garimpo não termina com a saída das dragas. O mercúrio permanece nos rios, nos solos e nos corpos. Ele se bioacumula em cadeias alimentares, alcança comunidades que jamais tiveram contato com o garimpo e compromete a segurança alimentar de milhões de pessoas.
Caminhos para a cura
Em abril de 2025, a WWF-Brasil lançou um plano de mitigação que prevê monitoramento contínuo, campanhas de conscientização, atendimento médico especializado e apoio direto às comunidades afetadas. Mas sem uma política pública integrada — que una saúde, meio ambiente, segurança e desenvolvimento sustentável — o combate ao mercúrio continuará sendo uma corrida perdida contra o tempo.
Fora da lei não há solução
O garimpo ilegal é mais que um crime ambiental: é uma ferida aberta no corpo da Amazônia, cujas sequelas já atingem o sangue, o cérebro e o futuro de milhares de crianças. Ignorá-lo é permitir que essa herança tóxica se transforme na nova maldição da floresta.