A designer Rafaella de Bona Gonçalves é uma das três finalistas do prêmio Jovens Inventores.
A designer brasileira de produtos e serviços Rafaella de Bona Gonçalves foi indicada para a primeira edição do Young Inventors prize do Escritório Europeu de Patentes (European Patent Office – EPO) pelo desenvolvimento de absorventes higiênicos e tampões biodegradáveis para melhorar a higiene menstrual de grupos desfavorecidos. Ela usou fibra de resíduos de banana para desenvolver primeiro o design em formato de rolo de um absorvente interno para mulheres sem-teto e, mais tarde, um absorvente multifuncional biodegradável que deve ser vendido na base de “compre um, doe um”.
Com seus projetos, Rafaella espera usar forro de bambu, celulose, espuma de soja e fibra de banana como materiais para ajudar a combater a pobreza menstrual – o acesso inadequado a produtos sanitários, instalações de lavagem e gerenciamento de resíduos afeta pelo menos 500 milhões de mulheres em todo o mundo todos os meses.
“A abordagem da Rafaella de Bona Gonçalves na resolução de problemas é inteligente e empática. Ela aborda duas questões simultaneamente: aumenta o acesso das mulheres aos produtos sanitários necessários e, ao mesmo tempo, transforma um fluxo de resíduos em um material valioso”, afirma o presidente da EPO, António Campinos, anunciando os finalistas do prêmio Young Inventors prize 2022. “O que começou como um projeto universitário solo se transformou em um empreendimento social promissor, com rede de parceiros comprometidos e um produto com potencial de impactar positivamente a vida de muitas mulheres.”
Rafaella foi nomeada como uma dos três finalistas do novo prêmio Jovens Inventores, com o qual o EPO pretende incentivar a próxima geração de inventores. O prêmio reconhece jovens inovadores com 30 anos ou menos que desenvolveram soluções para enfrentar problemas globais e ajudar a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Os vencedores do prêmio Young Inventors prize 2022 serão anunciados na cerimônia virtual do European Inventor Award do EPO, que será realizada no dia 21 de junho.
Projetando para a pobreza menstrual
Rafaella teve a ideia de desenvolver um produto menstrual específico para mulheres sem-teto enquanto fazia um curso sobre soluções de design que abordam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como parte de seus estudos de graduação.
“Conversando com moradores de rua, descobri o problema conhecido como pobreza menstrual”, explica Rafaella. “Para mim, foi uma descoberta chocante, pois não tinha pensado nisso antes. Pensei: ‘Sou mulher e não sabia disso. Quem está olhando para esse problema?’ E então optei por fazer um produto que abordasse isso.”
Materiais naturais de origem local
As mulheres sem-teto podem não ter roupa íntima para colocar os absorventes, nem qualquer lugar para lavar copos menstruais. Por isso Rafaella desenvolveu um tampão descartável, totalmente biodegradável, que não cria resíduos de plástico.
Enquanto pesquisava materiais, ela se deparou com uma empresa indiana que fabrica absorventes menstruais a partir de resíduos pós-colheita de fibra de bananeira — um recurso abundante no Brasil. Seu produto foi concebido como um rolo semelhante ao do papel higiênico, que desenrola folhas conectadas de material absorvente de fibra de banana em camadas, as quais podem ser arrancadas, desdobradas e enroladas em tampões de qualquer tamanho.
Tendo desenvolvido um protótipo de maquete feito à mão, Rafaella tomou consciência das questões de distribuição e decidiu criar um segundo produto: outro item sanitário biodegradável que pode ser usado como absorvente com tiras adesivas ou rasgado ao longo de perfurações para ser convertido em dois tampões, dependendo da preferência ou das circunstâncias pessoais de vida.
Absorventes para o povo
O primeiro produto de Rafaella (patente pendente), chamado “Maria – absorvente íntimo”, foi projetado para ser distribuído gratuitamente pelos governos locais, mas como isso não era possível, ela se inspirou em modelos de empresas sociais. Ela optou pela abordagem “compre um, dê um”, que envolve a venda de um produto premium — sua segunda versão — cujo preço permite doar outro para quem não pode pagar por ele. Em 2021, ela lançou uma campanha de conscientização chamada “Eu Faço Parte”, baseada no conceito do produto, e ganhou diversos prêmios de design.
Rafaella está atualmente trabalhando com a EcoCiclo, um mercado online brasileiro liderado por mulheres jovens para produtos sustentáveis feitos por mulheres, para desenvolver ainda mais os absorventes e trazê-los ao mercado.
O projeto atual usa uma fibra de bambu macia para a primeira camada, fibra de banana, espuma de soja ou celulose de madeira para a segunda e uma camada externa impermeável e biodegradável. A fibra de banana é fornecida pela cooperativa Rede Mulheres de fibra, que também fabrica outros produtos com resíduos de banana e emprega mulheres carentes. O próximo passo é obter financiamento para o maquinário necessário para aumentar a produção e reduzir custos, já que as almofadas absorventes são atualmente feitas à mão. Eles esperam começar a vender o “Eu. Faço Parte” através de uma campanha no EcoCiclo.
Fonte: CicloVivo
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