Bactérias que “respiram ferrugem” revelam novo metabolismo com impacto no clima global

Estudo revela bactérias MISO, que aceleram reações químicas e ligam os ciclos de enxofre, ferro e carbono, com impacto direto no clima e na saúde dos oceanos.

Cientistas da Universidade de Viena descobriram um tipo inédito de metabolismo em microrganismos que pode ajudar a manter os oceanos saudáveis. As chamadas bactérias MISO conseguem “respirar” minerais de ferro (como a ferrugem) e usar gás sulfeto, altamente tóxico, como fonte de energia.

Esses microrganismos vivem em locais com pouco ou nenhum oxigênio, como o fundo do mar, zonas úmidas e solos encharcados. Ali, eles transformam o sulfeto tóxico em sulfato, um composto mais estável, ajudando a manter o equilíbrio químico do ambiente. Essa reação, além de ser benéfica para o ecossistema, pode impedir o avanço das chamadas “zonas mortas”, áreas aquáticas onde a vida marinha não consegue sobreviver por falta de oxigênio.

Rio com coloração avermelhada causada pela oxidação de ferro, processo semelhante ao utilizado pelas bactérias MISO para gerar energia.
A oxidação de ferro, visível nas águas avermelhadas deste rio, lembra o processo que as bactérias MISO realizam ao “respirar” ferrugem e transformar compostos tóxicos em energia. Foto: Shutterstock

A descoberta, publicada na revista Nature, mostra que esse processo não acontece só por meio de reações químicas naturais, como se pensava até então. Os cientistas comprovaram que as bactérias MISO realizam a transformação de maneira mais rápida e eficiente, sendo provavelmente as maiores responsáveis por essa função na natureza.

Além disso, esse novo metabolismo liga diretamente os ciclos de três elementos essenciais para o planeta: enxofre, ferro e carbono. Esses ciclos movimentam nutrientes e regulam gases do efeito estufa, que influenciam o clima da Terra. Saber como eles funcionam e como os microrganismos participam disso ajuda a entender melhor o impacto de poluentes e das mudanças climáticas nos ambientes naturais.

Segundo o estudo, até 7% da conversão global de sulfeto em sulfato nos oceanos pode ser feita por essas bactérias MISO. E o mais impressionante é que elas estão presentes em diversos lugares do planeta, inclusive em ambientes criados pelo ser humano.

Para os autores, o achado amplia a compreensão sobre como formas de vida microscópicas moldam o equilíbrio químico do planeta e oferece pistas sobre soluções naturais para combater a poluição aquática e as mudanças climáticas.

Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

Artigos Relacionados

Na COP30, UEA transforma ciência amazônica em propostas de impacto para o clima

UEA apresenta na COP30 projetos inovadores que aliam ciência amazônica, justiça climática e soluções sustentáveis para o clima.

Denis Minev defende agroflorestas para impulsionar Amazônia na COP30

Na COP30, Denis Minev defende agroflorestas para regenerar terras e impulsionar uma economia sustentável na Amazônia.

COP30 apresenta “Pacote Azul”, plano de US$ 116 bilhões para proteger oceanos

COP30 lança o Pacote Azul, plano de US$ 116 bilhões para integrar oceanos às metas climáticas.

Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 — A Última Chamada

"A Avaliação da Amazônia, apresentada por mais de uma centena...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, insira seu comentário!
Digite seu nome aqui