Imagens revelam novas áreas de garimpo em terras indígenas na Amazônia

Dados contradizem nota recente do governo, que alega a não identificação de novas áreas de garimpo na região ao longo do mês de setembro

Por meio do Greenpeace Brasil, novos pontos de garimpo foram identificados e divulgados em terras indígenas do território amazônico, incluindo Kayapó e Yanomami, que já ocupam o topo da lista das mais prejudicadas pela atividade. A organização informa em nota encaminhada com exclusividade à Agência Brasil que, de julho a setembro deste ano, o garimpo provocou o desmatamento de mais de 500 hectares nas terras Kayapó, Yanomami, Munduruku e Sararé, o equivalente a 707 campos de futebol.

Em comparação com o mesmo período de 2023, constata-se um aumento de 44,48% da área desmatada das terras Kayapó, Yanomami e Munduruku no trimestre analisado, sendo a Kayapó o território que mais perdeu florestas, com aumento de 35% de área. Foram 315 novos hectares desmatados, o equivalente ao dobro do tamanho do Parque Ibirapuera, em São Paulo. O território também foi o que registrou a maior concentração de incêndios florestais em 2024.  

Dados sobre áreas de garimpo contradizem nota oficial

Já nas terras dos indígenas yanomami, a quantia total de áreas de garimpo é de 4.123 hectares, dos quais 50 hectares foram registrados no trimestre avaliado. O aumento, nesse caso, foi de 32%, um pouco menor do que o das terras Kayapó. “Essa informação conflita com a nota publicada pelo governo federal, no início de outubro, alegando que no mês de setembro não foi identificado nenhum novo garimpo na região”, observa o Greenpeace.

“As imagens de satélite ainda revelam que houve expansão da nova fronteira de garimpo no sul do território Yanomami, denunciada pelo Greenpeace no início de 2024. Novas fronteiras também foram identificadas no Parque Nacional Pico da Neblina, localizado no sul da região”, completa a entidade.

Povo Munduruku em protesto contra o garimpo ilegal, em 2022
Povo Munduruku em protesto contra o garimpo ilegal, em 2022 | Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace

No dia 4 de outubro, a Casa Civil divulgou nota em que afirma que, apenas ao longo do mês de setembro, foram realizadas mais de 2 mil operações nas terras indígenas Yanomami, focadas no combate ao garimpo ilegal. De acordo com a nota, “desde o início dessas ações, em março de 2024, houve uma queda expressiva de 96% na abertura de novos garimpos, em comparação aos números de 2022”.

Em solo munduruku, a organização observou uma alta de 34,7% nas áreas de garimpo devastadas. O número total foi de 32,51 hectares abertos no último trimestre. O território também teve 3% da área afetada por queimadas e pela estiagem, que agravaram a crise alimentar e hídrica.

Já na terra indígena Sararé, o desmatamento nas áreas de garimpo corresponde a uma área de 106,98 hectares em agosto e setembro deste ano. Segundo o Greenpeace, a área total de garimpo é de 1.863,78 hectares, o que reforça a escalada de violência no território.

A reportagem da Agência Brasil procurou os ministérios da Justiça e Segurança Pública, dos Povos Indígenas, a Casa Civil, e a Funai e aguarda resposta.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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