Foto: FIEAM
Wilson Périco(*) [email protected]
A ideia de instalar uma Secretária de Meio Ambiente no coração da Floresta Amazônica é tardia, entretanto, extremamente oportuna. Antes tarde do que nunca. Não faria sentido não fazê-lo considerando que se trata do maior bioma florestal do mundo. Nunca é demais sublinhar que esta unidade pública precisa estar focada em duas questões de modo indissociável: a conservação florestal e a promoção da cidadania. É absurdo pensar numa floresta robusta e a população em condições de miséria. Sem a depredação da ganância nem preservacionismo xiita. E nossa economia, há mais de meio século, já sabe promover o desenvolvimento com sustentabilidade.
Proteger é atribuir valor
Dizem os estudiosos que não há como proteger a floresta sem lhe atribuir um valor econômico. Portanto, sem ingenuidade nem devastação inconsequente podemos promover o aproveitamento dos recursos naturais para a geração de riqueza com aproveitamento inteligente e responsável das reservas minerais, da fruticultura, piscicultura, silvicultura de manejo florestal, a disseminação da Bioeconomia como Polo de diversificação, adensamento e regionalização do desenvolvimento econômico, hoje muito concentrado na capital.
Ambientalismo oportunista
Recursos não nos faltam, falta a aplicação dos fundos recolhidos pelas empresas de acordo com o que determinam as Leis que os criaram. Eles são fundamentais para prospecção destes novos negócios que decorrem da inovação tecnológica para agregar valor e sustentabilidade aos produtos regionais. O problema não é recurso, é a burocracia e o posicionamento “pseudo-ambiental” de alguns organismos públicos, movidos por um oportunismo obscuro.
Não podemos mais aceitar o “não pode”. O proibicionismo insustentável.Temos inteligências e saberes consolidados que mapearam as alternativas/possibilidades disponíveis. Temos a universidade mais antiga do Brasil, a UFAM. E o INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, vai completar 70 anos, a Embrapa Amazônia Ocidental vai fazer 50. Ou seja, acervos, coleções, protocolos são abundantes. Falta compromisso com a sociedade, a geração de riqueza, a construção da prosperidade.
Singapura, um paradigma
O que nos falta para fomentar o empreendedorismo para demonstrar a insensatez do proibicionismo. Será que os governantes de Singapura, para dar um exemplo, tem mais QI que os governantes do Brasil e da Amazônia? Óbvio que não. Entretanto, aquele país soube priorizar a cidadania sem depredar a ecologia, gerando riqueza para possibilitar a reposição dos recursos naturais. Ninguém em sã consciência defende matar a galinha dos ovos de ouro. Estamos há 20 anos consolidar um Polo de Biotecnologia na Amazônia e temos esbarrado num arcabouço legal baseado na negatividade da proibição em detrimento da positividade do fomento e estímulo para o ato de empreender.
Academia, tecnologia e inovação.
Na Amazônia, o papel das universidades e dos institutos de pesquisa, desenvolvimento e inovação devem oferecer o conhecimento necessário para consolidar novas matrizes econômicas, a partir das quais podemos discutir e viabilizar a consolidação definitiva do PIM, Polo Industrial de Manaus, de onde saem os recursos para minimizar possíveis impactos ambientais e também contrapartidas caso algum impacto seja inevitável. Temos insistido muito nessa tecla por uma razão muito simples, no caso do PIM. O Estado do Amazonas não pode continuar refém da capital, ou do capricho de um gestor federal.
Dependência temerária
A indústria, hoje, está assentada em três setores, o eletroeletrônico, duas rodas e bens de informática. São quatro produtos principais que respondem pelas atividades socioeconômicas de nosso Estado. É impossível, entretanto, imaginar no curto e médio a substituição dessa estrutura. O que é urgente é sua diversificação. E nós que aqui vivemos somos aqueles que sabem para onde ir e o que é necessário para promover esta mudança. Não queremos soluções de paraquedas. O Brasil perdeu o bonde da construção de seu equilíbrio regional quando priorizou o café, que viabilizou a prosperidade do Sudeste, e virou as costas para a Bioeconomia da borracha. Hoje, proíbe o acesso às oportunidades da biodiversidade com uma burocracia infernal. O caminho e as lições sabemos de cor e salteado. Só resta respeitar nossos direitos de trabalhar para assegurar a transformação de que precisamos, principalmente a favor dos que habitam a Amazônia.
Descentralização e autonomia
A possível instalação dessa Secretaria implica na aproximação do Poder Central, na desconcentração e talvez descentralização. A estrutura instalada em Manaus depende de atribuições, recursos e capital intelectual. Se o governo quer “plantar” um solução verdadeira, deveríamos ter uma estrutura que seria a parcela ministerial autônoma do Meio Ambiente. Mas se for só pra dar uma satisfação ao mundo…
(*) Wilson é economista, empresário e presidente do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas.
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