Agricultura mais sustentável pode aumentar rendimento das safras

Um estudo internacional comparou 42 mil exemplos de práticas agrícolas diversificadas e monoculturas e concluiu que o aumento da diversidade na produção agrícola beneficia a biodiversidade sem comprometer a produtividade.

“Estamos simplificando os principais sistemas de cultivo em todo o mundo. Cultivamos monoculturas em grandes áreas homogêneas”, diz Giovanni Tamburini, da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas e principal autor do estudo. “Segundo nosso estudo, a diversificação pode reverter os impactos negativos que observamos nas formas simplificadas de cultivo sobre o meio ambiente e sobre a própria produção”.

A pesquisa, publicada na Science Advances, é baseada em 5.188 estudos com 41.946 comparações entre práticas agrícolas diversificadas e simplificadas ou de monocultura.

plantas companheiras
O cultivo agroflorestal usa muito o conceito de plantas companheiras. Foto: Pixabay

De maneira geral, o rendimento das safras se mantinha no mesmo nível ou até aumentava quando os agricultores adotavam o que chamavam de práticas diversificadas, como consórcio – diferentes culturas lado a lado – e várias culturas em rotação, tiras de flores para estimular a polinização de insetos, níveis mais baixos de perturbação do solo e sebes e cinturões de proteção florestal para encorajar a vida selvagem ao lado de terras agrícolas.

O aumento da biodiversidade beneficiou a polinização e a regulação de pragas por predação natural. Também melhorou a regulação da água e preservou a fertilidade do solo. A diversificação, no entanto, teve efeitos variáveis ​​na regulação do clima. 

agricultura regenerativa
Foto: Nestlé

“Um próximo passo importante é identificar quais práticas e condições resultam em mitigação climática positiva ou negativa e evitar práticas que causam impactos negativos”, diz Sara Hallin da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas e co-autora do estudo.

Embora muita pesquisa tenha realizada sobre o tema, os resultados da diversificação das culturas não haviam sido sintetizados anteriormente – com este estudo, Tamburini e sua equipe identificaram 41.946 comparações incorporadas em 5.160 estudos originais, além de 98 meta-análises. 

Eles descobriram que a diversificação é melhor para a biodiversidade, polinização, controle de pragas, ciclagem de nutrientes, fertilidade do solo e regulação da água pelo menos 63% do tempo. “Na maioria das vezes, as práticas de diversificação resultaram em um suporte ganha-ganha de serviços ambientais e safras”, relatam.

Muitas das práticas de diversificação testadas já estão em uso hoje, mas podem ser mais amplamente adotadas, dentro e no entorno do campo de cultivo.

“Ao reunir tantos dados, este trabalho mostra o grande potencial da agricultura diversificada para manter a produtividade, reduzindo os danos ambientais e sustentando a biodiversidade e os ecossistemas”, disse Claire Kremen da Universidade de British Columbia e co-autora do estudo.

“NO ENTANTO, PRECISAMOS AJUSTAR ESSAS TÉCNICAS PARA CULTURAS E REGIÕES ESPECÍFICAS. PRECISAMOS DE MAIS INVESTIMENTO PARA APOIAR A ADOÇÃO DE PRÁTICAS AGRÍCOLAS DIVERSIFICADAS, POR MEIO DE PESQUISAS, INCENTIVOS DE MANEJO E PROGRAMAS DE EXTENSÃO.”

Claire Kremen da Universidade de British Columbia

Solução para o clima e para a produção

Os pesquisadores afirmam que, tanto para conter as mudanças climáticas quanto para preservar o meio ambiente, as práticas agrícolas devem mudar, assim como os hábitos alimentares da humanidade. E ressaltam ainda que a produção agrícola depende das condições climáticas e de um ecossistema preservado.

“A ADOÇÃO GENERALIZADA DE PRÁTICAS DE DIVERSIFICAÇÃO MOSTRA A PROMESSA DE CONTRIBUIR PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E A SEGURANÇA ALIMENTAR DE ESCALAS LOCAIS A GLOBAIS.”

Dr. Giovanni Tamburini, Universidade Sueca de Ciências Agrícolas

Pelos resultados do estudo, conclui-se que o aumento da biodiversidade aumente a produtividade e os serviços ambientais, como polinização, regulação de pragas por inimigos naturais, renovação de nutrientes, qualidade da água e mitigação das mudanças climáticas por sequestro de carbono. 

Como diversificar sistemas agrícolas?

plantas companheiras
O plantio de flores no entrono de hortas ajuda a atrair polinizadores. Foto: Pixabay

Existem muitas maneiras de aumentar a diversidade dentro e fora do campo de cultivo. As fazendas podem adicionar espécies de cultivo às rotações de cultivo ou cultivar colheitas no mesmo campo com consórcio. 

As plantações floridas são outra opção e fornecem pólen e néctar para insetos polinizadores e predadores. As fazendas também podem apoiar a biodiversidade subterrânea cobrindo os resíduos da colheita e adicionando estrume ou minimizando a perturbação do solo reduzindo o preparo do solo.

A preservação de ecossistemas no entorno ou mesmo em conjunto com plantações é outro bom exemplo.

Com informações da University of British Columbia/ Fonte: CicloVivo

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

Artigos Relacionados

O legado do Papa Francisco para a COP30

O Papa Francisco enfatizou a necessidade de um novo diálogo sobre como poderemos formatar o futuro do nosso Planeta. Propôs uma compreensão teológica da Natureza visando a definir uma convivência harmônica do Homem com a Natureza. Na origem do Mundo está o Criador, portanto o Criador precisa ser honrado em sua obra. Se não respeitarmos a obra do Criador não respeitaremos o próprio Criador.

Governo inicia operação para retirada de garimpeiros da Terra Indígena Kayapó

Apesar da duração estimada de três meses, lideranças indígenas já expressaram o desejo de que a ação se torne permanente, dada a recorrência e a gravidade das invasões por garimpeiros, grileiros e madeireiros.

Plástico biodegradável do futuro pode vir da gosma de um verme de 380 milhões de anos

Ao ser expelida, a gosma atua inicialmente como um líquido pegajoso, mas se transforma rapidamente em um plástico biodegradável rígido e fibroso, com características semelhantes ao nylon, um polímero sintético conhecido por sua alta resistência.

Desmatamento da Amazônia tem aumento de 55% às vésperas da temporada de fogo

O dado gera alerta pois a estiagem, típica dos próximos meses, costuma coincidir com a temporada de queimadas, quando áreas já desmatadas são incendiadas para limpeza e uso do solo, o que dificulta o controle do fogo e pode aumentar ainda mais o desmatamento da Amazônia.