A bastilha caiu na mão de um povo revoltado

“As vezes, para que a humanidade possa evoluir para um patamar superior, faz-se necessário retroceder alguns passos. A revolução é inevitável. E o cheiro já pode ser sentido, já está no ar.”

Farid Mendonça Júnior
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No dia 14 de julho de 1789, o mundo passou por um daqueles momentos em que a chave mestra da história dá uma virada no ferrolho do tempo e as revoluções bradam e devastam o que estiver pela frente.

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Farid Mendonça Júnior é
Advogado, economista e administrador

Este momento foi a tomada ou queda da bastilha, no rastro da revolução francesa.

Evidente que as coisas já não andavam tão boas há tempos. O absolutismo ainda insistia em dar seus últimos suspiros. A glória de Luís XIV, o rei sol, já não era a mesma com Luís XVI, considerado um rei fraco, indeciso e pouco “fértil”. Naquela época, o povo comentava que o rei não achava o buraco da fechadura.

Deixando a fechadura de lado, a França envolvera-se em mais uma guerra contra a Inglaterra, e, por ter perdido, resolveu apoiar a independência dos Estados Unidos, como uma forma de revidar a Inglaterra.

Durante este enredo, o povo francês, dividido em 3 classes, clero, nobreza e plebe, sendo que clero e nobreza correspondiam a menos de 1% da população, e a plebe o restante, encontrava-se (plebe) numa situação muito difícil, passando fome, frio e as constantes epidemias que assolavam os Estados europeus.

Por falar em fome, o isolamento social da nobreza era tão grande em relação à real situação da plebe, que a rainha da França, Maria Antonieta, chegou a declarar que o povo devia comer brioche no lugar do pão, o qual se encontrava escasso e caro. Ou a rainha era extremamente ignorante ou simplesmente ridicularizava o sofrimento do povo. Sinceramente, acredito que eram as duas situações.

Diante de tanto desconhecimento dos reis sobre a real situação fiscal, econômica e social, e incapazes de tomar decisões eficazes e voltar atrás nas decisões erradas que tomavam, parecia que a queda do absolutismo era questão de pouco tempo.

Este dia chegou, pelo menos de forma simbólica, no dia 14 de julho de 1789 com a queda da bastilha. O povo, cansando de tanto sofrimento e com a piora da situação a cada dia que passava, decidiu invadir a Bastilha (que funcionava como um depósito de armas do estado francês), apossando-se das armas e investindo contra o próprio Estado.

Vale lembrar que durante a revolução, o povo também chegou a invadir o Palácio de Versalhes, residência dos reis franceses, situado cerca de 22 km da cidade de Paris, tal era a revolta e o desespero do povo em relação ao governante. Nem mesmo a distância da cidade de Paris foi capaz de impedir a caminhada do povo revoltado até a residência do rei.

Estes fatos narrados, assim como tantos outros momentos chaves da história da humanidade servem para nos alertar que tudo tem limite e que, diante das circunstâncias que vivemos, uma revolução social pode estar a caminho.

No caso da França daquela época, a situação não estava boa. O nível de desigualdade era gigantesco há muito tempo (séculos pra falar a verdade). Mas foi preciso um ou vários gatilhos para que o povo se agigantasse. Estes gatilhos foram a crise fiscal do estado francês, as guerras que a França se envolveu, a fome aliada ao frio e às epidemias, a desigualdade, e o descaso das autoridades (reis, a nobreza e o clero) com a situação da população.

Não é novidade que o mundo atual, ainda alimentado por um capitalismo altamente desigual e concentrador, cada vez mais empurra a população para um fosso social sem precedentes no mundo contemporâneo. A concentração de riqueza é brutal, fazendo com que os 1% mais ricos do mundo detenham mais do dobro de 6,9 bilhões de pessoas.

O gatilho atual para uma revolução brutal e assustadora que ronda o horizonte pode ser a atual pandemia do coronavirus (Covid-19), haja vista que a situação é insustentável, não só no Brasil, mas em diversas partes do mundo.

Após uma revolução, muita coisa muda, começando por uma nova ordem global, uma nova economia, uma nova forma de governar e uma nova relação dos governantes com os governados. Mas antes que a revolução atinja seu fim, muitas cabeças serão “guilhotinadas”, assim como na revolução francesa, ou seja, muito sangue vai rolar.

As vezes, para que a humanidade possa evoluir para um patamar superior, faz-se necessário retroceder alguns passos. A revolução é inevitável. E o cheiro já pode ser sentido, já está no ar!

Farid Mendonça Júnior
Farid Mendonça Júnior
Farid Mendonça é advogado, economista e administrador

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