Curso de Agroecologia para os alunos da Universidade do Estado do Amazonas, uma disciplina que combina o acervo milenar amazônico, das populações tradicionais, e as categorias acadêmicas do conhecimento científico. Notícia sobre o Curso de Agroecologia nos confins amazonenses destacaram o Estado e ilustraram a informação de que a UEA, Universidade do Estado do Amazonas, mantida integralmente pelo setor produtivo da Zona Franca de Manaus, volta a figurar entre as 100 melhores do país, no RUF, Ranking Universitário da Folha, reafirmando o legado maior deste modelo de desenvolvimento. São notícias alvissareiras e a certeza de que estamos no rumo certo.
No mesmo dia, a Folha também publicou, juntamente com o jornal Valor Econômico, uma matéria sobre o segredo do desenvolvimento sustentável, exatamente, o investimento em inovação tecnológica, a Biotecnologia do aproveitamento sustentável dos insumos florestais, em vez de desmatar ou promover a intocabilidade burra que preserva o bioma e deixa a população amargando a experiência perversa da exclusão social. A universidade foi a que mais cresceu no RUF 2016 na região Norte do país. Subiu 18 posições e voltou ao grupo das cem primeiras, que ocupava em 2014 – hoje ela é 91ª. Com exceção do critério de inovação, a UEA melhorou em todos os indicadores que compõem o ranking. Mas o que mais colaborou para o resultado foi o avanço nos índices de ensino e pesquisa.
Uma vertiginosa recuperação para quem foi açoitado pela crise com a redução expressiva dos recursos da arrecadação. Fato instigante e emblemático: é na língua Ticuna que os alunos do curso de Agroecologia da UEA na comunidade Umariaçu, em Tabatinga, a quase 1000 km de Manaus, apresentavam um trabalho da disciplina desenvolvimento rural, do 2º ano, no fim do mês passado. Combinar cultura, ciência e biodiversidade na perspectiva de criar oportunidades é tudo de coerente e estimulante para produzir um novo caminho, “socialmente justo, politicamente correto, economicamente viável e ambientalmente equilibrado”, como preconizava Samuel Benchimol, há mais de 30 décadas, para balizar o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Na Fazenda Aruanã, do empresário Sérgio Vergueiro, o gestor se chama Francisco Bruno, que fez o curso de Agroecologia da UEA, em Itacoatiara, e é responsável pelo controle de qualidade, inovação tecnológica e segurança alimentar dos produtos. Cabe a ele, ainda, o monitoramento de produção de cogumelos, na espécie Raphanica, a sensação gastronômica da cozinha de Felipe Schandler e Alex Atala. A UEA já formou 40 mil alunos de graduação, sendo 864 indígenas. Na pós-graduação, foram 978 mestres e doutores, um presente para o futuro e a sustentação da esperança de que “… a vida poderia ser bem melhor e será”, como diz o poeta. Felicitações ao magnífico reitor, Cleinaldo Costa, a toda equipe de servidores, professores e alunos de todos os níveis, aos parceiros dessa caminhada de desafios e construção do futuro do Amazonas.
Nem preservação nem desmatamento…
A palavra preservação está relacionada a imobilidade, aquilo que os gregos chamavam de dendrolatria, a adoração pela adoração do ente florestal. Manejar é atribuir valor econômico, sem depredar, para conservar os estoques e atender demandas sociais. Na matéria sobre a quarta onda da biotecnologia, o instrumento de conservação florestal e desenvolvimento econômico, a Folha descreve uma espécie de espuma produzida, com excepcional durabilidade e utilidade, produzida por uma espécie de sapo, que inspirou a criação de novas tecnologias para capturar dióxido de carbono da atmosfera. Diz a matéria: “Plantas amazônicas também poderiam levar a descobertas em relação a antissépticos, cremes contra rugas, remédios ginecológicos e drogas anti-inflamatórias, se elas forem combinadas com novas tecnologias, afirmou o estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.” Na semana passada, depois do cientista Niro Higuchi, que propôs o Manejo Florestal Sustentável, como mecanismo de proteção florestal e diversificação da economia sustentável, foi a vez de Carlos Bueno, cientista da área de biologia e Agroecologia do Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, apresentar na sede da FIEAM – Federação da Indústria do Amazonas, uma lista enorme de oportunidades que a ciência, pesquisa e desenvolvimento daquela instituição, com 64 anos de estudos amazônicos tem a oferecer. Verdadeiros ovos de colômbio à espera de empreendedores interessados e da flexibilização dos burocratas para empurrar a economia para a prosperidade sustentável na floresta. “O desmatamento e as mudanças climáticas estão ameaçando tornar a maior floresta tropical do mundo numa savana seca, destruindo o potencial biológico”, diz a matéria.
O Acordo do Clima
Se mais de 40% da floresta for arrancada, o processo resultante de savanização poderia se tornar irreversível, segundo os diversos estudos, alguns alarmantes, outros inseridos em programas de conservação que pretendem subsidiar os novos negócio da discussão do Acordo do Clima, ratificado pelo Brasil, no último dia 12, e nesta terça, na Assembleia das Nações Unidas, onde foram apresentados alguns dos instrumentos para suas Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas, também conhecido como INDC, um documento que contém o que cada país pretende fazer para reduzir e remover as emissões de GEE – Gases do Efeito Estufa. Até o final do ano, com a ratificação, ou seja, pelo menos 55 países e 55% das emissões, a ONU deve desencadear as medidas práticas, com fundos que devem alcançar US$ 100 bi, com negócios e oportunidades ambientais. Por isso, o avanço da UEA se apresenta como algo absolutamente oportuno e necessário. Cabe a ela, neste momento, capitalizar os estudos que vão viabilizar os itens que formam os 17 ODSs, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Quem, melhor que a UEA, poderá formar especialistas na área de florestas tropicais versus agricultura, monitoramento, rastreabilidade, métrica e precificação dos respectivos serviços ambientais? A vez, também, do intercâmbio em iniciativas inovadoras que integram a conservação de recursos naturais com desenvolvimento socioeconômico. Voltaremos.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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