A Universidade do Estado do Amazonas, o maior legado do modelo ZFM, completa 16 anos. Assim como a Universidade Federal do Acre, entre outras ações de qualificação dos recursos humanos, este representa a certeza do melhor caminho para a construção do futuro desta região. No limite, em vez de dizer que é o melhor, sob diversos pontos de vista, este é o único caminho para equacionar, pela via da qualificação dos recursos humanos e da inovação tecnológica, os entraves que separam a gestão da prodigalidade dos recursos naturais amazônicos em oportunidades efetivas de prosperidade geral. E qual a vocação de uma Universidade no Estado do Amazonas com a maior distribuição multicampi do Brasil, quiçá do planeta, presente em todos os municípios do interior? Certamente não é porfiar com instituições congêneres de outras regiões do país, abastecidas de infraestrutura de transportes, comunicação e energia, e da oferta de recursos humanos para cumprimento de suas finalidades e programas. Daí a importância relativa, a rigor secundaria, de indicadores de desempenho como o RUF, Ranking Universidade da Folha. O destaque da UEA será sempre sua habilidade em formular parcerias e socializar o papel e desafio que é decifrar as oportunidades e fragilidades do bioma amazônico, suas potencialidades de negócios socialmente promissores, ambientalmente equilibrados e economicamente rentáveis. O polo produtivo de Manaus, de onde a União retira mais da metade da riqueza aqui gerada, contribuindo, dados da Suframa, com mais de R$ 50 bilhões líquidos nos últimos 10 anos, jamais poderia ser chamado de paraíso fiscal. Aqui as empresas instaladas, recolhem mais recursos para o poder público que as outras plantas produtivas do Brasil, se associa as festividades de mais um aniversário da UEA, o maior legado deste projeto, a ZFM, o mais acertado modelo de desenvolvimento regional do Brasil fundado em renúncia fiscal. E é gratificante, do ponto de vista de um investidor, poder contribuir com a formação acadêmica de dezenas de milhares de jovens e adultos desta região e de outros quadrantes nacionais que aqui aportam. São 550 indústrias instaladas na região que financiam integralmente a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), somando investimentos anuais de R$ 400 milhões que garantem a manutenção do ensino e pesquisas realizadas pela instituição. Única presente em todas as cidades de um estado, o feito é ainda mais relevante por se tratar do Amazonas, com suas dimensões continentais e regiões isoladas pela natureza e infraestrutura precária. Entretanto, deixar um legado de caráter eminentemente educacional, de preservação e dinamização da cultura, da potencialização de talentos, de afirmação de valores, e criação de novos caminhos de realização profissional, pessoal, social e familiar é algo que, decididamente, tem valor e gratificação inestimável.
Aproximação necessária
Uma passeata dos alunos da Escola Superior de Tecnologia, há três anos, com faixas e palavras de ordem, exigindo professores na área de Engenharia e Afins, além de gratificar quem acompanhou o feito – não é todo dia que alunos vão às ruas para exigir mais professores – motivou o Centro da Indústria do Estado do Amazonas, que representa as empresas mantenedoras da instituição a buscar a direção da UEA para propor maior interatividade e debater demandas comuns e eventuais projetos compartilhados que pudessem dinamizar a relação entre academia e setor produtivo. Surgiu, então, com apoio e presença da Federação da Indústria e a Fundação de Amparo à Pesquisa, a formação de um grupo de trabalho para levar adiante essa aproximação, considerada necessária, salutar e emergencial sob todos os pontos de vista. Ainda não foi autorizado pela lentidão burocrática a composição do Conselho Curador onde tenha assento as entidades que representam as empresas mantenedoras, mas desde então uma interação entre os parceiros já se consolidou num Grupo de Trabalho que está funcionando. A expectativa do setor produtivo, longe de interferir na autonomia universitária, é promover a partilha de conhecimentos e procedimentos a serviço do desenvolvimento e da prosperidade geral, de tal forma que a construção da indústria do conhecimento fosse o resultado mais imediato desta parceria. Trabalhar em conjunto, formular propostas e desenhar cenários de prosperidade e progresso, em última instância, significa apostar no compromisso de que é mais inteligente e eficiente dar saltos permanentes de qualidade quando os caminhos e desafios são compartilhados. Tecnologia, Biotecnologia, Educação, Gestão, entre outras áreas do saber e do fazer, em interação, vão apontar as saídas de um novo tempo.
O nó da competitividade industrial
Convidado para o debate sobre a nova Matriz Econômica Ambiental do Amazonas, na discussão iniciada nesta segunda-feira, entre os atores públicos e não-governamentais, o presidente do CIEAM, Wilson Périco, ao falar sobre Competitividade Industrial no contexto do novo programa do governo, lembrou que o setor produtivo está fazendo sua parte, e que as entidades tem alertado o poder público há alguns anos sobre os gargalos de expansão do crescimento, razão pela qual a indústria vem encolhendo sua atuação e, consequentemente, a contribuição social. Há 11 anos, quando promoveu entre seus associados um levantamento das principais dificuldades para insuflar o crescimento e assegurar a competitividade, o CIEAM tornou público e com dados estatísticos demonstrativos, o gargalo na logística dos transportes, fonte de custos inaceitáveis que inviabilizam a competitividade do setor industrial. Por R$ 300 não dá para pagar o serviço de um motoboy para ir e voltar dos aeroportos de Campinas e Guarulhos (SP) ou mandar uma caixa de Sedex com 5 kg de Manaus a São Paulo. Mas é dinheiro suficiente para pagar o frete de um contêiner com 20 toneladas de produtos da China para o Brasil. O valor do frete marítimo de contêineres entre a Ásia e o Brasil está até 85% mais baixo que o de 2014. É o menor da história da navegação entre os país, segundo o maior operador em atuação, a empresa Maersk. Em Manaus, isso não paga sequer a diária de uma carga que ficou retida no armazém de uma das empresas portuárias porque faltou fiscal do MAPA para liberar o contêiner. E por que essas mazelas perduram? Por que a questão energética não foi estabilizada, a despeito dos generosos repasses deste modelo ZFM para a União? Por que, apesar de tanta afinidade política da representação parlamentar com o grupo político no poder, fomos excluídos do Plano Nacional de Banda Larga? Isso sem falar na maldição burocrática, que consome recursos, talentos e planilhas de custo. Como competir com tantas forças públicas remando ao contrário?
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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