As entidades do setor produtivo, assim como as torcidas em partidas de futebol decisivas, começam a soltar o grito na proporção exata da intuição dos resultados. O grito neste momento de desassossego e de imperativa mobilização, não é de campeonato, mas de indignação e disposição clara de mudança. O tabuleiro político onde as questões são administradas e resolvidas, passou a ser a fonte maior da indefinição. As medidas propostas, injustas e equivocadas, minam os acertos e esforços daqueles que apostaram na promessa do trabalho como meio eficaz para construir o Brasil. E mesmo que os esforços criativos possam desembarcar na proposição de mudanças profundas, é bíblica a recomendação de que vinhos e seus odres precisam estar coerentemente alinhados. Do jeito que está é que não pode continuar. A economia do Brasil em geral e do modelo ZFM em particular, começou a fazer água pela precária interlocução entre os entes públicos e o setor produtivo, por conta da recusa dos atores envolvidos em provocar, insistir e abrir o debate sobre as alternativas viáveis de enfrentamento das adversidades típicas da ordem de produção capitalista. Isso se aplica à gestão Brasil onde a política industrial inexiste, a reforma fiscal, previdenciária, trabalhista e por aí vai são evitadas como se fossem a peste da destruição. Essa mesma apatia se aplica à economia do modelo ZFM, Zona Franca de Manaus, perversamente açoitada pela visão vesga dos gestores federais e omissão obsequiosa dos atores locais. Há um ano, no debate com os candidatos ao governo, o governador José Melo propôs reduzir drasticamente os embaraços burocráticos que atravancam desnecessariamente as ações do setor produtivo, o empregador e grande contribuinte no suporte da ação pública.
O que diz a Lei?
Em fevereiro último, na primeira reunião da Federação da Indústria do Estado do Amazonas, o próprio governador, já eleito, reiterou sua disposição de parceria para enfrentar conjuntamente os gargalos que atingem de morte a competitividade do modelo. Chegou a dizer que assinaria integralmente a análise e a proposição contida na Carta ao Governador, entregue na ocasião. O que aconteceu desde então? O que faltou para dar sequência aos itens das sugestões formuladas. É bem verdade que já naquele momento a crise do país de credibilidade e fragilidade política, com graves reflexos na economia, desfocou a atenção para os pontos ali levantados, obrigando a todos a assumir o papel de bombeiros para controlar o fogo da inquietação. Ironicamente, porém, esta seria a melhor hora para juntar talentos, esforços, experiência e bom senso para a partilha de opiniões e sugestões de saída. Ninguém pretende aqui apontar o riste da acusação. Mas é fundamental reconhecer a colaboração individual e na primeira do plural para não fazer desta crise algumas janelas de oportunidades. E aí quem sabe sejamos capazes de rever o embate político e, a partir de um acordo cívico, em nome do interesse comum, passar a limpo todos os itens de descaso legal e desacato constitucional que possa apontar e respaldar uma nova ordem – baseada no que a Lei determina – que seja transparente, proativa e criativa e assegure recompor as peças de reconstrução do modelo ZONA FRANCA DE MANAUS.
Quem cala consente?
Na semana passada, retomamos a prosopopeia da reconstrução da BR 319, as figurações mirabolantes desta comédia política, tragédia física e drama logístico, cívico e imoral sobre o qual ninguém, na mídia impressa, ou social, nada repercutiu. Quem cala consente? Aceitar esse axioma popular poderia ser motivo de desistência coletiva no desafio de estabelecer a ordem jurídica e social necessária à rotina da produção, geração de riqueza e prosperidade social. Mas a teimosia de fazer de limões refrescantes limonadas sugere a via do esclarecimento, necessária ao debate e aos avanços que momentos de adversidades como este costumam representar. O que não pode é deixar crescer mais ainda o buraco como as crateras que se ampliam nas ruas do polo industrial de Manaus, a melhor tradução dessa insensatez da omissão destrutiva. Os buracos mostrados pela Rede Amazônica na série sobre a BR 319, na semana passada, pouco se diferenciam dos buracos do Polo Industrial de Manaus e de todas as unidades da Suframa, ela mesma esburacada pela incúria de seus gestores, a começar por aqueles que teimam em governá-la a partir de Brasília, de costas para seu cotidiano, porém ávidos por seus dividendos.
Físicos, metafísicos e institucionais
Estamos às vésperas de acabar o ano que não existiu em termos de avanços, investimentos, definição vitais como gestão da ZFM, revisão do uso de seus recursos de P&D, TSA, FTI, UEA, FMPES, recursos para a pesquisa, gestão, interiorização e qualificação dos recursos humanos, onde o assento, a sugestão, o encaminhamento e discussão de resultados não incluíram a participação dos seus mantenedores. Isso mesmo, as empresas que recolhem a base material e financeira para incentivar pesquisas, atrelar esses estudos a modelagens novas de desenvolvimento, contribuem para desenvolver o turismo, financiar o desenvolvimento do interior, formar as gerações novas no ensino superior, entre outras ações de extrema relevância, são excluídas do acompanhamento do uso desses recursos. A exclusão se dá pela falta de reuniões nos últimos anos ou porque os fundos não têm conselhos constituídos. O FTI, Fundo de Interiorização do Desenvolvimento, que recebeu R$ 800 milhões em 2014, se reuniu uma vez em mais de 10 anos de existência. E a UEA, com quem as entidades formaram uma parceria para essa maior participação, ainda não constituiu seu Conselho. Os buracos são físicos, metafísicos e institucionais.
Viva o Brasil!!!
E é simplista a acusação que responsabiliza exclusivamente os gestores públicos por essa anomalia em estado crítico e crônico de ampliação. É claro que os buracos físicos e metafísicos refletem a percepção vesga do problema político visto na sua mais obtusa e mesquinha manifestação. Poucas vezes o Brasil assistiu a uma classe política tão focada no seu umbigo de poder e tão ausente da demanda do cidadão. Esta é a miséria da filosofia e da política nacional, no contexto geral da sociedade que entende competitividade como um jogo burro de vaidades que teimamos em aceitar. Um jogo cujo enfrentamento histórico remete às raízes coloniais e monárquicas deste pensar pequeno a questão nacional. O fato é que ainda não amadurecemos como vontade política coletiva, capaz de gritar, em nome do interesse público, em uníssono e elevado tom: Viva o Brasil!!! E com isso, enfrentar a questão, aqui entendida como uma decisão dos gestores públicos referendada e viabilizada pelo estofo da adesão social e popular de quem paga a conta no fim da sessão, empreendedores e trabalhadores.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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