Os ninhos de formigas da tribo Attini possuem estruturas que desempenham funções ecológicas importantes, como a ventilação do solo, reciclagem de nutrientes e a manutenção da saúde do ecossistema
Formigas da tribo Attini, conhecidas por cultivar fungos como fonte de alimento há milhões de anos, revelaram uma habilidade “arquitetônica” surpreendente na construção de seus ninhos. Esse inseto cria estruturas extremamente diversas, desde pequenas câmaras isoladas a 30 cm de profundidade até complexos túneis subterrâneos com até 2,05 metros, que se assemelham a verdadeiros “arranha-céus” no subsolo. Essas estruturas desempenham funções ecológicas importantes, como a ventilação do solo, reciclagem de nutrientes e a manutenção da saúde do ecossistema.
Em um estudo publicado no Brazilian Journal of Biology em junho, pesquisadores radiografaram 49 ninhos de cinco gêneros diferentes de formigas no campus da Unesp em Rio Claro, São Paulo, seguindo as operárias até as entradas das colônias, que foram marcadas, escavadas manualmente e analisadas em detalhes.
Medidas como largura, profundidade e número de câmaras foram registradas, e materiais encontrados — como fungos, larvas, pupas e operárias — foram levados ao laboratório para análises complementares.

A pesquisa revelou que a arquitetura dos ninhos de formigas da tribo Attini é altamente adaptável, variando conforme a linhagem evolutiva de cada gênero. Os ninhos do gênero Trachymyrmex, por exemplo, representando 31 dos 49 ninhos analisados, apresentaram estruturas profundas e com várias câmaras, o que favorece uma ventilação natural mais eficiente e acelera a decomposição da matéria orgânica, com maior influência sobre o ambiente ao redor.
Por outro lado, os ninhos de gêneros como Cyphomyrmex (4 ninhos) e Mycetarotes (3 ninhos), mais superficiais, têm impactos ambientais mais localizados, sem tanta alteração estrutural no solo. Também foram estudados ninhos de Mycocepurus (7) e Myrmicocrypta (4), ampliando o panorama evolutivo e ecológico das espécies.

Entender essa diversidade estrutural ajuda a prever como essas formigas podem responder às mudanças climáticas, auxilia no planejamento de práticas para recuperação de solos degradados, e até inspira projetos de ventilação passiva em obras subterrâneas humanas.
Papel das formigas no estudo do solo
Assim, na agricultura e gestão de ecossistemas florestais, o impacto desses insetos também pode ser levado em conta. Como explica Aldenise Alves Moreira da Uesb, autora do estudo desenvolvido como parte de seu pós-doutorado, essas formigas cultivam fungos que metabolizam o material forrageado coletado pelas operárias, transformando-o em uma forma de alimento digerível.
“Entender como fazem isso permite compreender a forma como organizam seu espaço, o que influencia o fluxo de nutrientes, a decomposição da matéria orgânica e a estrutura do solo”, diz. Por exemplo, ninhos mais complexos, como os do gênero Trachymyrmex, possuem maior capacidade de acelerar a ciclagem de nutrientes, o que pode favorecer a fertilidade do solo em ambientes florestais.