Sem os empregos gerados pela Zona Franca de Manaus, a pressão sobre a floresta aumentaria exponencialmente, com crescimento de atividades como o desmatamento e o garimpo ilegal. Isso não apenas comprometeria o bioma amazônico, mas também agravaria a crise climática global. A ZFM é um pilar estratégico para a economia e para o meio ambiente, e enfraquecê-la seria um erro com consequências irreversíveis
Entrevista com Jorge Nascimento
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BrasilAmazoniaAgora: Jorge, como a Eletros se posiciona no cenário da indústria brasileira atual?
Jorge Nascimento: A Eletros representa 35 empresas que juntas são responsáveis por 97% dos eletrodomésticos e eletroeletrônicos consumidos no Brasil. Podemos dizer que a Eletros é uma entidade que traduz um Brasil que produz empregos, sustentabilidade e que, também, defende os avanços e acertos da Zona Franca de Manaus e seus benefícios que ajudam a proteger a floresta” Nosso impacto é direto: 3% do PIB da indústria brasileira, mais de 100 milhões de produtos fabricados por ano e cerca de 500 mil empregos gerados, entre diretos e indiretos. Trabalhamos para fortalecer nossa base industrial, fomentar inovação e sermos um elo entre desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental.
BAA – O que faz da Zona Franca de Manaus um modelo tão estratégico para o Brasil?
Jorge Nascimento: A Zona Franca de Manaus é muito mais que um polo industrial; ela é uma política de desenvolvimento regional que promove integração econômica, proteção ambiental e inovação tecnológica. Toda a produção nacional de micro-ondas, lavadoras de louça, televisores e grande parte dos bens de informática acontece ali. Além disso, 97% dos ar-condicionados produzidos no Brasil vêm de Manaus, consolidando a região como um dos maiores polos mundiais no setor. Esse modelo não só gera empregos como protege a floresta ao oferecer alternativas econômicas sustentáveis.
BAA – E qual é o papel das empresas da Eletros nesse contexto?
Jorge Nascimento: As empresas associadas à Eletros são protagonistas na geração de riqueza e na oferta de produtos que chegam à casa de milhões de brasileiros. Também impulsionamos a balança comercial ao reduzir a dependência de importações e criamos inovações sustentáveis que colocam o Brasil na vanguarda da indústria global. Na Zona Franca, muitas dessas empresas têm investido em soluções como bioplásticos e processos fabris mais limpos, mostrando que é possível crescer de forma responsável.
O presidente Jorge Nascimento destacou que qualquer redução nos créditos tributários pode levar ao esvaziamento da indústria local, com perda de empregos e migração de investimentos para outros países. Veja o vídeo abaixo:
BAA – Sustentabilidade e indústria ainda são vistos por muitos como incompatíveis. Como você vê essa relação?
Jorge Nascimento: Elas não só podem coexistir como precisam estar integradas. Há uma exigência intrínseca do modelo da Zona Franca de Manaus que prova isso. Empresas ali instaladas têm inovado com tecnologias de descarbonização e práticas sustentáveis, como a produção de bioplásticos, que reduzem a pegada ambiental. Além disso, ao gerar empregos formais, o polo industrial diminui a pressão sobre o desmatamento, garantindo que a floresta em pé seja um ativo econômico e ambiental.
BAA – Estamos em meio a discussões sobre a reforma tributária. Como isso impacta a Zona Franca de Manaus?
Jorge Nascimento: A reforma tributária é um ponto sensível. Qualquer mudança que reduza os incentivos fiscais da Zona Franca pode gerar desinvestimentos, perda de empregos e até migração de empresas para outros países. Isso enfraqueceria não apenas o Amazonas, mas todo o Brasil, aumentando nossa dependência de importados e pressionando ainda mais o bioma amazônico. É essencial garantir a manutenção das premissas constitucionais que sustentam a ZFM, valorizando seu papel na economia nacional e na proteção ambiental.
BAA – Você acredita que o modelo da Zona Franca pode inspirar outras regiões do Brasil?
Jorge Nascimento: Sem dúvida. O que acontece em Manaus é um exemplo de como desenvolvimento e sustentabilidade podem andar juntos. O modelo mostra que políticas de incentivo bem estruturadas são capazes de transformar uma região, reduzindo desigualdades, promovendo inovação e protegendo o meio ambiente. Ele pode e deve servir de inspiração para outras iniciativas de industrialização em áreas estratégicas do Brasil.
BAA – Qual seria o impacto de uma Zona Franca enfraquecida no contexto da crise climática?
Jorge Nascimento: O impacto seria devastador. Sem os empregos gerados pela ZFM, a pressão sobre a floresta aumentaria exponencialmente, com crescimento de atividades como o desmatamento e o garimpo ilegal. Isso não apenas comprometeria o bioma amazônico, mas também agravaria a crise climática global. A ZFM é um pilar estratégico para a economia e para o meio ambiente, e enfraquecê-la seria um erro com consequências irreversíveis.
José Jorge do Nascimento Júnior é presidente executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). É formado em Administração pela Universidade Federal do Amazonas. Atuou na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), e no Governo do Amazonas, onde foi Secretário de Desenvolvimento e Planejamento, o que lhe rendeu larga experiência em Desenvolvimento Regional. Hoje, na Eletros, está empenhado no fortalecimento da indústria nacional e defesa do modelo de desenvolvimento integrado da Zona Franca de Manaus