Os riscos e aprendizados surgem quando o aumento de custos reduz o lucro e a arrecadação de impostos, enquanto a necessidade de maior investimento em capital afeta, a longo prazo, o nível de emprego e investimento, refletindo na estagnação da economia brasileira.
Por André Ricardo Costa
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A economia está quase bombando. Não muito em termos de investimentos e produtividade, mas de consumo. O PIB brasileiro de 2024 deve registrar crescimento superior em duas vezes, no mínimo, ao que se previa em janeiro. É pouco diante do que queremos de máxima prosperidade para o país como um todo, mas o suficiente para impulsionar a demanda pelos produtos do Polo Industrial de Manaus e revisar as projeções de faturamento que, com quase 18% de aumento, deve superar os R$ 203 bilhões.
Não se pode dizer que os agentes econômicos locais estão eufóricos com este cenário. Estamos no pico das preocupações com os ajustes pontuais da logística em meio às restrições de navegação. Com alguns percalços, soluções estão sendo efetivadas a nível de governo, prestadores de serviços e indústrias, sobre quem ocorre o maior impacto econômico. A “Taxa da Seca” imporá efeito de cerca de R$ 500 milhões, embutindo o custo das estruturas provisórias em Itacoatiara, para evitar algo no nível dos R$ 1,5 bilhões estimados para o ano passado.
À parte a falta de ações sistêmicas e sinais de problemas de governança, pode-se ressaltar o efeito aprendizado. Sem dragagem, os prestadores de serviços nos modais aquaviário e aéreo encontraram maneiras de assegurar a continuidade dos serviços, e boa parte das empresas anteciparam a aquisição de insumos. Assimilaram as lições, encontraram as soluções.
Contudo, o que está por ser estimado é relacionado a dados difíceis de obter e conceitos difíceis de abstrair. A antecipação da aquisição de insumos por parte das empresas faz elevar a necessidade de reter recursos para quitar as obrigações de curto prazo. Aumenta a necessidade de investimento em giro. Vetor e expressão de ineficiência. Em agosto houve forte aumento no volume de empréstimos a pessoas jurídicas no Amazonas, em cerca de R$ 2 bilhões. Consequência indireta da Seca? Questão em aberto.
A necessidade de investir em giro agrava as barreiras de entrada típicas de uma economia vocacionada à indústria, como a nossa. É peculiar do modelo industrial a demanda por investimento em capital fixo, fonte de valor por escala, volume, no que será ofertado à sociedade, e diversidade de escopo. Somando todos os agentes econômicos, tem-se a “Formação Bruta de Capital Fixo”, indicador frequentemente usado como fonte de comemoração. Quanto maior, melhor.
Contudo, giro e capital fixo são sugadores de recursos que precisam ser contidos. Boa parte dos esforços globais de inovação ocorrem nesse sentido. Demonstrar isso aos condutores das políticas públicas é um desafio. Se uma atividade sofre aumento de custo, reduz o lucro e arrecada menos imposto de renda. Se a atratividade cai pelo aumento da necessidade de investir em giro e em capital fixo, somente a longo prazo se observa a queda no investimento e nível de empregos. Daí que a economia brasileira está estagnada há décadas e só ganha do que a terra pode dar ao Agro.
A médio prazo, o desafio é perceber o contexto em que ocorre o aumento da demanda pelos produtos do PIM e consequente ajuste na previsão de faturamento. Há desequilíbrio no orçamento federal semelhante à trajetória de 2008 a 2015. Que se evidencie o aprendizado ante o risco que se repete. Se todos os aspectos da economia amazonense forem otimizados, seremos afetados por um suave banzeiro.
André Ricardo Costa é Doutor em Administração pela FEA/USP e professor da Ufam
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