“O Instituto Amazônia+21 está no caminho certo ao propor soluções criativas e inovadoras para os desafios da região. No entanto, é necessário ampliar sua abordagem, incorporando de forma mais ativa os atores locais, especialmente as entidades associativas e a comunidade científica, bem como priorizar a educação como ferramenta fundamental para a formação de uma nova consciência ambiental.”
Anotações de Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
O Instituto Amazônia+21, com pouco mais de dois anos de atuação, está prestes a participar da Conferência das Partes (COP) em Baku, onde integrará a delegação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O principal destaque de sua operação é uma plataforma que promete ser inovadora e criativa na abordagem de problemas complexos e urgentes relacionados à Amazônia. Embora a proposta seja ambiciosa e elogiável, é fundamental questionar se as soluções apresentadas realmente endereçam as demandas locais de maneira inclusiva e sustentável.
Iniciativas promissoras, mas há lacunas
A Facility de Investimentos Sustentáveis (Fais) e o Fundo Catalítico Amazônia são exemplos claros de uma abordagem que busca transformar o panorama econômico e ambiental da região. Essas iniciativas prometem gerar impacto em diversos setores, como bioeconomia, turismo sustentável e agricultura de baixa emissão de carbono, utilizando mecanismos como o “blended finance” para viabilizar negócios verdes. A proposta de estruturar R$ 620 milhões em investimentos, distribuídos em 260 negócios ao longo de três anos, é uma meta ousada que merece reconhecimento. No entanto, a mobilização de capital, por si só, não assegura a transformação necessária.
Um dos principais desafios dessa abordagem é que, apesar de suas boas intenções, ela não parece considerar suficientemente a participação ativa das comunidades locais. É preciso lembrar que qualquer iniciativa voltada para o desenvolvimento sustentável da Amazônia deve integrar, de maneira central, os atores sociais e associativos da região. A inclusão das populações tradicionais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas, bem como das organizações que as representam, é decisiva para que as soluções propostas tenham legitimidade e eficácia a longo prazo.
A importância da mobilização da Educação e Ciência
Outro ponto que merece atenção é o papel da educação e da ciência no desenvolvimento sustentável da Amazônia. Embora o Instituto Amazônia+21 tenha destacado a importância de gerar conhecimento e engajar diversos atores, há uma lacuna evidente na mobilização da comunidade científica e educacional. O desenvolvimento de uma nova consciência ambiental e de protagonismo social depende, essencialmente, da educação. As universidades, centros de pesquisa e escolas da região devem ser incluídos ativamente nesse processo, promovendo a formação de uma geração que compreenda o valor da floresta em pé e que seja capaz de gerar soluções inovadoras e sustentáveis.
A participação da comunidade científica não pode ser acessória, mas sim um pilar estruturante. Para assegurar a reposição dos parâmetros ambientais, é necessário investir em ciência e tecnologia de maneira contínua, desenvolvendo mecanismos de monitoramento, conservação e manejo dos recursos naturais. Somente com base em dados científicos sólidos será possível garantir que os investimentos e projetos promovidos pela Fais e outras iniciativas tenham um impacto positivo e duradouro.
A inclusão de outros atores sociais
A estruturação do Fundo Catalítico Amazônia e da Fais contou com a participação de mais de 40 organizações ao longo de 18 meses de trabalho. Isso demonstra um compromisso com o diálogo e a cooperação, o que é louvável. No entanto, para que o impacto dessas iniciativas seja ampliado e mais profundo, é essencial que as entidades associativas da Amazônia tenham um papel mais ativo. Sindicatos, cooperativas, associações de produtores locais e outras organizações da sociedade civil precisam ser incluídos como protagonistas nesse processo.
Afinal, são essas entidades que representam os interesses das comunidades diretamente afetadas pelas mudanças econômicas e ambientais da região. Elas podem atuar como interlocutores fundamentais entre o poder público, o setor privado e a sociedade, garantindo que os investimentos realizados sejam adequados às necessidades locais. A criação de uma rede de cooperação entre esses diferentes atores seria um passo importante para consolidar um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, que priorize não apenas o crescimento econômico, mas também a justiça social e a preservação ambiental.
Superar o discurso e partir para a ação
Outro ponto que merece crítica é a recorrente promessa de aportes bilionários para proteger as florestas tropicais, como os US$ 100 bilhões anuais prometidos pelo Acordo de Paris. Até o momento, essas promessas não se materializaram de forma concreta, o que gera frustração e desconfiança em relação ao compromisso real dos países desenvolvidos com a Amazônia. O Instituto Amazônia+21, ao participar da COP em Baku, tem a oportunidade de pressionar por maior transparência e ação efetiva por parte da comunidade internacional, indo além dos anúncios e exigindo resultados mensuráveis.
Ao mesmo tempo, a organização deve continuar a trabalhar para assegurar que as soluções apresentadas não sejam meramente importadas de outros contextos, mas que sejam adaptadas e moldadas à realidade local. O desafio da Amazônia é único, e as soluções devem refletir essa especificidade. É crucial desenvolver modelos de desenvolvimento que respeitem a complexidade do bioma, levando em conta suas características ambientais, sociais e culturais.
Rumo a um desenvolvimento inclusivo e sustentável
O Instituto Amazônia+21 está no caminho certo ao propor soluções criativas e inovadoras para os desafios da região. No entanto, é necessário ampliar sua abordagem, incorporando de forma mais ativa os atores locais, especialmente as entidades associativas e a comunidade científica, bem como priorizar a educação como ferramenta fundamental para a formação de uma nova consciência ambiental. Somente assim será possível garantir que o desenvolvimento da Amazônia seja verdadeiramente inclusivo, sustentável e capaz de promover qualidade de vida para as milhões de pessoas que dependem da floresta para sua sobrevivência.
Esse caminho exige uma mobilização contínua de todos os setores da sociedade, do poder público ao setor privado, passando pelas comunidades locais, cientistas e educadores. O futuro da Amazônia depende dessa sinergia, e o sucesso das iniciativas propostas pelo Instituto Amazônia+21, expressas no artigo de Marcelo Thomé, na Folha, estará diretamente ligado à capacidade de engajar todos esses atores na busca por um desenvolvimento que respeite a natureza e valorize a vida humana.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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