A modernização sustentável, essencial para a transição energética, depende de redes inteligentes capazes de armazenar e redistribuir energia, garantindo eficiência e sustentabilidade.
Por Alfredo Lopes
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No Polo Industrial de Manaus desde 2000, a UCB Power, uma multinacional brasileira e uma das maiores marcas de soluções de armazenamento de energia do Brasil e da América Latina, acreditou que poderia potencializar a sua oferta em prol da região Amazônica com soluções de energia limpa e inovadora para as comunidades locais, tornando-se líder no fornecimento de soluções de armazenamento de energia para comunidades e sistemas remotas. Fundada em 1973 por um imigrante sul-coreano, a empresa teve um importante crescimento a partir da entrada do GEF Capital Partners, gestora de private equity focada em empresas que promovem eficiência de recursos e impacto ambiental positivo, tornando a empresa a maior fornecedora de baterias portáteis para celulares e laptops e baterias estacionárias.
Coluna Follow-Up
FOLLOW-UP – Quais são os principais desafios enfrentados pelo setor energético na Amazônia no contexto da descarbonização?
Ronaldo GERDES – As emissões mundiais de carbono quadruplicaram nos últimos 50 anos, e a situação na Amazônia não é diferente, especialmente no setor energético. Por ser uma região remota, é inevitável que as linhas de transmissão e distribuição não consigam atingir todos os brasileiros, que na prática utilizam petróleo para geração de energia. O setor energético atende a essas populações, hoje acima de 3 milhões de pessoas, com geração termelétrica, acessível e de operação conhecida.
Neste contexto, os principais desafios enfrentados para a descarbonização são essencialmente quatro:
- Respeitar contratos firmados por 25 a 30 anos de utilização das termelétricas construídas, atribuindo a elas o comprometimento com o investimento já realizado;
- Realizar uma transição justa e gradual para os investidores, de forma a preservar o patrimônio e introduzir opções de energias renováveis junto às termelétricas em operações híbridas;
- Transpor as barreiras existentes e priorizar os programas setoriais na vanguarda das soluções limpas e renováveis com armazenamento para sistemas isolados;
- Incentivar o uso de tecnologias que tenham menor complexidade de implementação, associada à menor complexidade de operação e manutenção dos sistemas a serem instalados.
FUP – Considerando que a região ainda depende fortemente de combustíveis fósseis, termelétricas e hidrelétricas, quais são as alternativas viáveis para a transição energética?
GERDES – O contraste é nítido. Uma região que é chamada por muitos de “pulmão da humanidade” depende de combustíveis fósseis para que sua população possa realizar suas atividades residenciais, comerciais e industriais. Os efeitos cumulativos dessa dependência já deixaram de ser problemas locais e alcançaram a expectativa nacional e internacional de implementação de soluções para redução dos gases de efeito estufa. A urbanização é inevitável, mas a deterioração da qualidade ambiental é evitável. Portanto, a transição energética é necessária e urgente e pode passar por algumas dessas alternativas:
- Utilização de biocombustíveis;
- Inserção de energias renováveis às usinas termelétricas existentes, com armazenamento para suprir a intermitência e dar equilíbrio às fontes;
- Construção ou reforço de políticas sociais para atendimento às pessoas sem energia, que incluam a implementação de soluções locais de micro usinas onde a energia tenha melhor qualidade;
- Eletrificação fluvial, substituindo o motor a diesel por motor elétrico e baterias de lítio.
FUP – Como empresário do setor energético, como você avalia o papel do armazenamento de energia na promoção da sustentabilidade na Amazônia?
GERDES – O Brasil é signatário dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas), em compromisso firmado na Conferência das Partes (COP) de 2015. A UCB Power é individualmente signatária e se empenha em implementar estratégias para lidar com as crescentes preocupações ambientais, seja inovando em seu parque tecnológico, seja implementando soluções de baixo carbono. O armazenamento de energia por baterias é o “pulmão” do setor elétrico, uma vez que este ativo carrega em si a eficiência, a qualidade, a redução de custos e a otimização, conforme podemos contextualizar:
- É um ativo de modernização do setor elétrico devido às suas contribuições inovadoras e à diminuição do uso de combustíveis fósseis;
- É um ativo de otimização da geração de energia, podendo ser acrescido às usinas renováveis ou às que possuem várias fontes de geração, desempenhando um papel de equilíbrio, gerenciamento e controle;
- É um ativo que pode reduzir custos operacionais e riscos de corte de fornecimento;
- É um ativo que proporciona constância no fornecimento e segurança energética, viabilizando o desenvolvimento econômico junto às comunidades remotas.
FUP – Pode nos contar sobre algum projeto ou iniciativa de sua empresa que esteja contribuindo para a descarbonização da matriz energética na região?
GERDES – A UCB Power vem trabalhando em P&Ds desde 2020 para contribuir com a inserção do armazenamento junto às comunidades e às usinas termelétricas, com foco na descarbonização. Essa capacidade técnica nos habilitou a participar de programas setoriais públicos e contratações privadas que levam energia para a região da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do estado do Maranhão), utilizando energia solar fotovoltaica com baterias.
Podemos destacar o programa Universalização como o de maior capilaridade, que contou com aproximadamente 48 mil baterias de LFP (lítio ferro fosfato) como parte da solução dos SIGFIs (Sistemas Individuais com Geração de Energia por Fontes Intermitentes), atendendo a cerca de 30.000 unidades consumidoras nas áreas de atuação das distribuidoras Energisa, Equatorial, Norte Energia, Roraima Energia e Amazonas Energia.
FUP – Quais lições a Amazônia pode oferecer para outras regiões do Brasil e do mundo em termos de políticas de descarbonização e sustentabilidade?
GERDES – Existem áreas da Amazônia Colombiana, Peruana, ou Venezuelana que possuem o mesmo tipo de biodiversidade e correspondem a florestas tropicais úmidas, onde a aplicação dos projetos utilizados no Brasil se mostra igualmente exitosa. Por terem o mesmo tipo de floresta, as soluções já amplamente testadas na Amazônia Brasileira podem ser exemplos de sucesso para todos esses países. Também no continente africano, há semelhança nos sistemas isolados, onde não há redes de distribuição ou transmissão. Para esses países, o uso dos sistemas de energia solar com armazenamento de energia também tem se mostrado adequado e a solução mais rápida e acessível para levar energia constante e limpa às comunidades isoladas e sem acesso à energia.
No Brasil, para as demais regiões já atendidas pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), as baterias têm um papel de destaque em termos de políticas de descarbonização e sustentabilidade, uma vez que farão parte da modernização do setor elétrico. Não há redes inteligentes quando não é possível armazenar energia quando sobra e devolvê-la à rede quando necessário. Isso é modernização com foco em sustentabilidade.
Essas lições aprendidas fazem parte das oportunidades a serem incorporadas ao plano estratégico do setor elétrico, com foco em uma transição energética justa e que alcance a todos.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
Quem é Ronaldo GERDES?
Vice-presidente de Relações Institucionais na UCB S/A, membro do conselho do CIEAM, onde lidera o comitê de transição energética.
Graduado em Engenharia Industrial – Mecânica pela Universidade Metodista de Piracicaba, possui MBA em Administração de Empresas pelo Instituto Euvaldo Lodi.
Com mais de 40 anos de experiência na indústria de manufatura eletrônica, atuando em posições de liderança, desenvolvendo competências e expertise executiva na implementação de estratégias de negócios tanto no Brasil como em outros países, com amplo conhecimento na gestão de empresas industriais
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