“…podemos perfeitamente alegar que os semicondutores de Bio&Tic são uma equação da Bioeconomia ou uma premissa de sua expansão no polo industrial de Manaus.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
O histórico da Zona Franca de Manaus, desde os anos 90, como maior polo eletroeletrônico da América Latina, revela não apenas uma capacidade produtiva impressionante, mas também uma tradição de inovação e aprendizado no campo da microeletrônica. É preciso reter e fazer valer esse ativo tecnológico e apostar em seus desdobramentos. O sucesso inicial na fabricação de semicondutores, ou circuitos integrados, como se dizia naquela época, reflete uma expertise que, apesar das mudanças no cenário global, permanece uma vantagem competitiva para a região e para o Brasil.
No cenário atual de acelerada evolução tecnológica, a indústria de semicondutores emerge como um campo de vital importância, servindo como a espinha dorsal de praticamente todos os dispositivos eletrônicos modernos, desde notebooks e desktops até servidores, televisores, veículos automotores e smartphones. Precisamos interpretar e mobilizar a tribo para para um fato de extrema relevância. A saber, a recente aprovação, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de um financiamento de R$ 290 milhões à Adata para a produção de três novos tipos de semicondutores no Brasil.
Isso representa um marco significativo nessa trajetória de desenvolvimento tecnológico do país. Este investimento, parte do Programa BNDES Mais Inovação, destaca-se não apenas pelo seu montante significativo, mas também pelo seu potencial impacto na redução da dependência tecnológica e produtiva do país. E onde Manaus poderia entrar nessa história? Como cutucar a bancada parlamentar para ajudar a decifrar a interrogação?
A Adata, uma das líderes globais na produção de suprimentos de memória, com presença em Taiwan, China e Brasil, planeja investir R$ 374 milhões na fabricação desses semicondutores, com o financiamento do BNDES cobrindo 77% desse valor. Qual é a demanda do Polo Industrial de Manaus. O que agregaria esse suprimento no diálogo entre o chip e o cipó? Além dos benefícios diretos à indústria tecnológica, esses avanços possuem implicações significativas para o Polo industrial de Manaus. Local onde estão concentradas fábricas de uma vasta gama de eletrônicos, essa região poderia se beneficiar enormemente da produção local de semicondutores.
Uma movimentação parlamentar nesse sentido, argumentando junto ao BNDES sobre os ganhos em vários níveis – incluindo a geração de empregos, o estímulo à inovação e a proteção ambiental – parece não apenas prudente, mas necessária. Tal iniciativa poderia fortalecer a relação entre a malha fabril de Manaus e a proteção da floresta, além de abrir novas fronteiras na aplicação dessas microtecnologias na prospecção de bioativos.
A estratégia de investimento em semicondutores se alinha aos objetivos da Nova Indústria Brasil, uma política do governo que visa reduzir a dependência tecnológica do país. De acordo com Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, os investimentos “vão fortalecer a base de tecnologia e contribuirão para tornar o país menos dependente de importações”, uma necessidade crucial para a segurança e soberania tecnológica nacional.
Não podemos ser barrados neste baile. Nem que seja de “penetra”, podemos perfeitamente alegar que os semicondutores de Bio&Tic são uma equação da Bioeconomia ou uma premissa de sua expansão no polo industrial de Manaus. E como pontuou Denis Minev no debate desta quarta feira, sobre Bioeconomia, a hora é agora, “nem só de carbono viverão os créditos de que precisamos para diversificar a economia atual.”
A lembrança dos primeiros celulares produzidos nacionalmente em Manaus, pelas mãos de gigantes tecnológicos como Nokia, LG, Samsung, entre outros, não é apenas um marco histórico; é um testemunho da capacidade técnica e inovadora do polo. Essa fase pioneira foi, infelizmente, seguida por um esvaziamento provocado pela concorrência asiática, mas a base de conhecimento e infraestrutura permaneceu. Tudo concorre para o bem dos que decidem trabalhar em mutirão. Ou não?
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
Coluna follow up publicada às quartas, quintas e sextas feiras, O Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do centro da indústria do estado do Amazonas e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor geral do portão BrasilAmazôniaAgora.
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