Pesquisadores do Instituto Mamirauá e diversos órgãos unem forças para desvendar as causas das mortes dos botos e tomar medidas emergenciais. A seca e altas temperaturas são apontadas como possíveis catalisadores, enquanto análises emergenciais buscam respostas mais concretas.
Pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá têm enfrentado uma corrida contra o tempo nos últimos dias para proteger os botos das águas que circundam a cidade de Tefé, no Amazonas. Desde o último sábado, um evento de mortandade sem precedentes tem assolado a região, com 110 mortes já registradas de botos-rosa e tucuxi. Apenas ontem (29), 70 animais foram encontrados mortos.
Busca por respostas
De acordo com a pesquisadora Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, uma força-tarefa foi estabelecida entre vários órgãos para identificar a causa da morte dos botos. A seca e a temperatura da água, no entanto, estão claramente associadas ao ocorrido.
“Diversas possibilidades foram consideradas, mas o calor, a seca, definitivamente têm relação com o que aconteceu. Se foi o calor em si, algum tipo de hipertermia, ainda não sabemos. Minha teoria é que o calor tenha intensificado algum outro fator na água”, elucidou a pesquisadora, a ((o))eco.
Condições críticas do lago Tefé
O lago Tefé é uma formação lagunar do rio Tefé, próximo ao ponto em que ele deságua no Solimões. Neste ano de 2023, o lago tem enfrentado uma seca histórica. Além da drástica redução em seu nível, a água remanescente tem apresentado temperaturas extremamente elevadas.
Historicamente, a temperatura máxima já registrada no Lago Tefé foi de 32°C. Na última quinta-feira (28), os termômetros registraram 40°C.
“Claramente, com essa temperatura, algo é afetado. Talvez não apenas o calor, mas acredito que o calor tenha potencializado alguma toxina, alguma alga, fitoplâncton, cianobactéria, algo assim. Mas tudo isso são suposições no momento”, afirma Marmontel.
Análises emergenciais
Conforme Marmontel, amostras de sangue dos animais coletados serão enviadas amanhã (30) de helicóptero para São Paulo e Rio de Janeiro para análises emergenciais, na tentativa de descobrir se alguma doença está causando as mortes, como toxoplasmose ou botulismo. Análises na água também serão realizadas, e a expectativa é que até terça-feira (3) já se tenha uma resposta.
“Não temos uma resposta ainda porque tudo é muito difícil aqui. Tem que enviar para Manaus [para análise], mas o caminho até lá é via barco e o barco não passa porque está seco. Há um limite de horas para chegar lá, então, não é trivial realizar alguma análise”, explica. Tefé está localizada a cerca de 500 km de Manaus.
Alerta e ação
No último sábado (23), Miriam Marmontel estava em uma reunião quando foi informada de que 19 botos haviam sido encontrados mortos no lago Tefé.
“Naquele momento, para tudo! Para tudo e vamos para o campo. Eu desci no dia seguinte, mas a nossa equipe foi para o campo e confirmou esse número no sábado. No domingo foram [encontrados mortos] 3 ou 4, no dia seguinte, 3. Pensamos que ia acabar, mas começou a aumentar novamente e ontem tivemos 70”, relata a pesquisadora.
Durante a semana, várias ações foram executadas, incluindo o monitoramento dos animais vivos, busca e recolhimento de carcaças e coleta de amostras para análises de doenças, além da análise da qualidade e monitoramento da temperatura e nível da água. Até agora, já foram alocados R$ 100 mil para tais ações.
O Instituto Mamirauá conta com o apoio local do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), da Prefeitura de Tefé, do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, do Exército e da Defesa Civil.
Impacto e futuras intervenções
A corrida é contra o tempo. Análises preliminares indicam que o lago Tefé abriga uma população de cerca de 900 botos-rosa (Inia geoffrensis) e cerca de 500 tucuxis (Sotalia fluviatilis). Com uma taxa de reposição da espécie de cerca de 5%, uma perda de 110 indivíduos em tão pouco tempo causa um grande impacto na população local.
Segundo Marmontel, 80% dos animais encontrados mortos eram botos-rosa.
“Acho importante observar os animais vivos. Dependendo do resultado das análises, pode ser que realizemos uma grande operação de translocação, caso eles estejam bem, para o rio Solimões”, explica.
Neste fim de semana, uma mobilização emergencial de resgate dos botos está prevista, com apoio externo oferecido por instituições e equipes do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD Brasil), WWF-Brasil, R3 Animal, Aquasis, Lapcom-USP, Instituto Baleia Jubarte, Sea Shepherd Brasil, Instituto Aqualie, Universidade Nilton Lins e ICMBio.
Com informações d’O Eco
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