A Amazônia, o pulmão verde do mundo, enfrenta um novo desafio em sua já complexa trama ambiental com aquecimento: fenômenos oceânicos simultâneos que intensificam e prolongam as secas na região. Este cenário é resultado de uma conjuntura delicada que une, de forma perturbadora, o El Niño e o aquecimento do Atlântico Tropical Norte , comprometendo diretamente o regime de chuvas.
O cenário emergente
Os dados atuais, conforme divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), são alarmantes. Nos primeiros 18 dias de setembro, a Amazônia registrou 4.974 focos de calor. Em comparação com a média histórica do período de 1998 a 2022, isso representa um aumento expressivo. A preocupação torna-se ainda maior ao lembrarmos que setembro de 2015 registrou 5.004 focos e que 2022 surpreendeu com 8.659 focos.
Renato Senna, meteorologista e responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa, explica a confluência dos eventos. “O Atlântico Tropical Norte está colaborando com o El Niño. Dois eventos simultâneos são problemáticos”, alerta, remetendo à seca recorde de 2009 a 2010.
Enquanto anteriormente ocorria uma grande cheia a cada década ou quinzena, a frequência aumentou para quase uma vez a cada três anos desde então. Renato destaca que, apesar das frequentes cheias, é a seca que causa o maior impacto na região, afetando a geração de energia, navegabilidade e até mesmo o acesso à educação e saúde.
A relação oceano-floresta
Os mecanismos de ação desses fenômenos, embora se manifestem em áreas distintas da Amazônia, são estranhamente semelhantes. Águas oceânicas mais quentes geram correntes de ar que se movem na direção da floresta. Seja do Pacífico pelo El Niño ou do Atlântico, o resultado é a inibição da formação de nuvens e, consequentemente, a redução das chuvas.
Nesse contexto, o planeta torna-se mais quente. E a repercussão deste aumento do aquecimento não se limita às águas oceânicas, refletindo diretamente sobre a Amazônia.
A Resiliência da Amazônia
Apesar de ser resiliente a inundações frequentes, a Amazônia ainda não está preparada para enfrentar os devastadores efeitos das secas. Senna evidencia que os efeitos das secas são muito mais catastróficos para a região, impactando energia, navegação, educação e saúde. A frequência e a intensidade das secas têm aumentado, mas as consequências das inundações são ainda mais devastadoras.
Liana Anderson, especialista em secas na Amazônia do Cemaden, enfatiza a crescente preocupação com as queimadas. Condições climáticas adversas deixam a paisagem mais inflamável e, consequentemente, mais vulnerável ao fogo. As áreas que sofreram desmatamento no passado são ainda mais propensas a incêndios.
Em conclusão, a atual situação na Amazônia não é apenas o resultado de fenômenos naturais, mas também reflete a falta de ação e planejamento adequados. As previsões meteorológicas e os alertas científicos são claros. A questão agora é: estamos prontos para enfrentar esses desafios e proteger nosso maior bem natural? A combinação de fenômenos oceânicos e o aumento das queimadas representam uma ameaça real e iminente para a Amazônia.
*Com informações GOV.BR
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