O cinema indígena ganha destaque na 80ª edição do Festival de Veneza. Três filmes curtas-metragens, produzidos por indígenas yanomami, estarão em exibição no prestigiado evento cinematográfico, que ocorre entre 30 de agosto e 9 de setembro. Eles serão projetados em 4 de setembro, no evento dedicado ao cinema indígena yanomami chamado “Olhos da Floresta”. A programação também servirá para homenagear Morzaniel Ɨramari, o primeiro cineasta da etnia Yanomami.
Dentre os curtas que prometem encantar o público europeu, destaca-se “Mãri Hi – A Árvore do Sonho”, dirigido por Ɨramari. O filme foi agraciado com o título de Melhor Documentário de Curta-Metragem Nacional no Festival É Tudo Verdade deste ano. A produção apresenta a visão dos yanomami sobre os sonhos, contando com a participação especial do líder e xamã, Davi Kopenawa.
Ɨramari expressou seu desejo de que seu trabalho sirva para ampliar o conhecimento global sobre a cultura yanomami. “Este filme vai ajudar a fazer com que os não indígenas conheçam o povo yanomami, conheçam as nossas imagens. Assim, todos podem compreender como vivemos e como sonhamos, em especial, como os xamãs sonham”, comenta.
Morzaniel Ɨramari, oriundo da aldeia Watorikɨ na região do Demini, da Terra Indígena Yanomami, em Amazonas, tem uma trajetória respeitável no cinema. Ele foi formado pelo projeto Pontos de Cultura Indígena – Vídeo nas Aldeias. Em 2014, seu curta “Casa dos Espíritos” ganhou o prêmio de Melhor Filme pelo júri popular na Mostra Aldeia SP. Já em outra ocasião, seu longa-metragem “Urihi Haromatimapë – Curadores da Terra-floresta” foi laureado como o Melhor Filme do Forumdoc BH, na Mostra Competitiva do Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte.
A presença do cinema yanomami no Festival de Veneza indica não apenas o reconhecimento da qualidade técnica e artística de suas produções, mas também a importância de se valorizar e conhecer a riqueza das culturas indígenas. Com certeza, os espectadores sairão com uma compreensão mais profunda e apreciativa dos sonhos e tradições do povo yanomami.
Além do já mencionado curta-metragem de Morzaniel Ɨramari, outros dois filmes, “Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando” e “Yuri U Xëatima Thë – A Pesca com Timbó”, ambos produzidos pelas cineastas yanomami Aida Harika, Roseane Yariana e Edmar Tokorino, prometem ser destaques no evento cinematográfico. Esta é uma ocasião sem precedentes, marcando a estreia das mulheres yanomami em um festival de cinema internacional.
Aida Harika e Edmar Tokorino, ambos residentes da aldeia Watorikɨ e pertencentes ao coletivo de comunicadores yanomami, têm mostrado a capacidade e talento indígena no mundo do cinema. O coletivo foi estabelecido em 2018 pela Hutukara Associação Yanomami. Enquanto isso, Roseane Yariana, uma nativa da aldeia Buriti, foi uma das primeiras jovens selecionadas para participar das oficinas de formação em audiovisual em 2018.
Estes curtas são uma produção da Aruac Filmes e contam com a coprodução da Hutukara Associação Yanomami e produção associada da Gata Maior Filmes. Importante destacar o apoio institucional do Instituto Socioambiental, bem como o suporte de uma ampla rede de fundações e instituições internacionais que mantêm um foco especial na Amazônia Brasileira.
O envolvimento e o destaque destas mulheres no cinema internacional não apenas elevam a qualidade e diversidade do cinema brasileiro, mas também ressaltam a riqueza e profundidade da cultura indígena. As narrativas apresentadas pelos curtas servem como uma janela para a vida, tradições e percepções das comunidades yanomami. Ao oferecerem suas perspectivas únicas, estas cineastas estão, sem dúvida, ampliando a representatividade indígena e feminina no cenário cinematográfico global.
*Com informações Agência Brasil
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