Abrigando um enorme potencial de desenvolvimento e geração de riquezas a bioeconomia na Amazônia vem se solidificando com uma das grandes bandeiras de construção de um futuro mais sustentável e transformar a vida de milhares de brasileiros
A Amazônia, por sua notável diversidade cultural, ambiental, social e econômica, se apresenta como um ecossistema fértil para a bioeconomia. Um olhar mais atento, estético ou científico, nos permite perceber a riqueza de um bioma que, bem explorado, pode melhorar a qualidade de vida de aproximadamente 750 mil famílias, segundo um novo estudo da Embrapa. Estas famílias são compostas por agricultores familiares e comunidades tradicionais, que encontram na exploração de produtos florestais não madeireiros uma renda anual de mais de R$ 10,5 bilhões.
A riqueza da sociobiodiversidade
Em 2021, no estado do Pará, a sociobiodiversidade, que representa a rica relação entre a diversidade biológica e a diversidade sociocultural, foi responsável pela geração de 224 mil empregos, dos quais impressionantes 84% estão centrados em estruturas produtivas familiares.
No entanto, para que esta bioeconomia continue florescendo e produzindo frutos sustentáveis, é essencial que haja uma colaboração íntima entre o conhecimento científico avançado e os saberes tradicionais das comunidades amazônicas. Em uma enquete com especialistas, ficou evidente que o desenvolvimento de tecnologias sociais para agregar valor às cadeias produtivas e a exploração de bioprodutos baseados na vasta biodiversidade amazônica são os pilares centrais para os avanços em ciência e inovação na região.
Vislumbres da bioeconomia na amazônia
Em uma tentativa de compreender e mapear o potencial da bioeconomia amazônica, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) lançou um estudo abrangente este mês, intitulado “Visões sobre bioeconomia na Amazônia: Oportunidades e desafios para a atuação da Embrapa”. Assinado por oito especialistas da instituição, o documento destaca que a heterogeneidade do bioma requer diferentes estratégias de bioeconomia, cada uma adequada às distintas realidades presentes na região.
Leia o estudo na íntegra clicando aqui
Daniela Biaggioni Lopes, uma das pesquisadoras que assina o estudo, enfatiza que o entendimento da bioeconomia no contexto amazônico é crucial para direcionar as ações das instituições de ciência e tecnologia. O documento, além de explorar as nuances da bioeconomia, também serve como guia para os esforços da Embrapa na região.
Ao discutir bioeconomia na Amazônia, é vital entender o que ela significa no contexto amazônico. Trata-se de uma economia sustentável, concentrada no uso consciente e eficiente da biodiversidade local. Esta economia valoriza práticas regenerativas e busca promover a inclusão social, melhorando a qualidade de vida das populações locais, ao mesmo tempo que conserva a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.
Por sua vez, a sociobiodiversidade é um conceito que conecta a diversidade biológica à diversidade sociocultural. Os produtos oriundos da sociobiodiversidade são aqueles que originam de recursos da biodiversidade e que têm como foco a promoção e manutenção de práticas e saberes das comunidades tradicionais.
Ciência e o conhecimento tradicional
Para manter a riqueza e a vitalidade da Amazônia, é crucial que a ciência trabalhe de mãos dadas com os conhecimentos tradicionais. Ana Euler, diretora-executiva de Negócios da Embrapa e coautora do estudo, argumenta que a bioeconomia da sociobiodiversidade deve ser a força orientadora para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Euler destaca a importância de integrar o conhecimento ancestral das comunidades amazônicas com a ciência moderna para garantir a conservação da floresta. Além disso, a diretora defende que criar oportunidades para as pessoas que vivem na Amazônia é a melhor maneira de abordar e resolver os desafios presentes na região.
Nesse contexto, a colaboração entre o conhecimento tradicional e científico já produziu resultados promissores. Valentim, um dos pesquisadores, menciona a descoberta do potencial de microrganismos do guaranazeiro para a agricultura e saúde humana e a eficácia do óleo da planta amazônica, pimenta-de-macaco, para controlar pragas.
Olhando Para o Futuro
Em 2019, apenas no estado do Pará, a sociobiodiversidade gerou uma receita de cerca de R$ 5,4 bilhões, testemunhando o tremendo potencial econômico da região.
Para Daniela Lopes, da Embrapa, há uma grande oportunidade de contribuir, através do conhecimento técnico-científico, para a criação de modelos sustentáveis de bioeconomia que impulsionem o desenvolvimento regional, proporcionando prosperidade para as comunidades amazônicas.
O futuro da Amazônia, em muitos aspectos, repousa na forma como abordamos e exploramos sua riqueza. As estratégias de bioeconomia inclusiva, que integram ciência e sabedoria tradicional, são cruciais para garantir um futuro sustentável e próspero para a região.
A Embrapa na Amazônia
A Embrapa tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de ações de pesquisa e inovação na Amazônia, especialmente em relação à bioeconomia. Essas ações visam não apenas ao desenvolvimento econômico da região, mas também à sustentabilidade e inclusão das comunidades locais.
Desde 2014, a Embrapa prioriza o fortalecimento da bioeconomia na Amazônia. Em 2023, ela iniciou um novo projeto estratégico com um investimento substancial, reafirmando esse compromisso. A busca pela colaboração e parceria também é evidente, com a Embrapa ampliando esforços para trabalhar com instituições nacionais e internacionais. Esta abordagem colaborativa não apenas auxilia na captação de recursos, mas também fortalece a presença e influência do Brasil em fóruns internacionais.
A gama de soluções oferecidas pela empresa é vasta e diversificada. Ela tem gerado soluções tecnológicas para diversos setores, desde a agropecuária até a fruticultura, mostrando sua abordagem multifacetada para lidar com os desafios do bioma Amazônico. Além disso, os desafios focados na bioeconomia e o portfólio dedicado à Amazônia destacam o compromisso da Embrapa com a região.
As tecnologias que já foram geradas, como o manejo de açaizais e sistemas agroflorestais, demonstram um impacto real e tangível. O impacto econômico e a geração de empregos são testemunhos do sucesso dessas tecnologias.
A importância econômica dos produtos da sociobiodiversidade também não pode ser subestimada. Mesmo que a receita derivada da sociobiodiversidade possa parecer pequena em relação ao PIB nacional, ela é fundamental para muitas famílias de baixa renda na Amazônia.
Construindo a bioeconomia na Amazônia
O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), é uma iniciativa da Suframa que visa promover a exploração econômica sustentável da biodiversidade amazônica. Atuando em estreita colaboração com Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), o programa se concentra em captar recursos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM). Esses recursos são então canalizados para fomentar novos negócios e tecnologias de bioeconomia na Amazônia Ocidental e no Amapá. A estrutura do PPBio permite a transformação desses investimentos em soluções inovadoras, alavancando a biodiversidade e a indústria da região de forma sinérgica.
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