A próxima geração pode não conviver com a Amazônia viva. O alerta é dos cientistas britânicos John Dearing e Simon Willcock, que realizaram estudo que mostra como diversos novos fatores podem acelerar o colapso de diferentes ecossistemas pelo mundo. A pesquisa foi publicada na edição de junho da revista científica Nature Sustainability.
O estudo usou modelos de computador para simular o avanço da degradação amazônica e de outros exemplos, como a atividade pesqueira no litoral da Índia, e verificar a aproximação de um conceito que pode ser chamado de “limite climático” – que é quando o ecossistema colapsa. No caso da Amazônia, isso representaria que a floresta atual, fechada e úmida, seria substituída por outra mais seca e aberta.
Estimativa da Organização das Nações Unidas prevê que esse tipo de colapso no ecossistema amazônico acontecerá por volta do ano de 2100. Mas as pesquisas de Willcock e Dearing mostraram que, de acordo com as condições atuais, isso pode acontecer antes.
“Pode acontecer mais cedo do que se pensa. Podemos dizer realisticamente que vamos ser a última geração a ver a Amazônia”, lamentou Willcock em entrevista à emissora portuguesa RTP.
O cientista também foi ouvido pela reportagem da Folha de S. Paulo. Ao jornal, explicou que a Amazônia sofre por uma combinação entre mudança climática, desmatamento, perda de biodiversidade devido à caça e eventos climáticos extremos. Isso tem acelerado o processo de degradação.
“Um trabalho recente mostrou que a Amazônia já está perdendo resiliência, enquanto outro indicou que, uma vez que o colapso começar, ele será rápido. Segundo esse trabalho, se o processo começar em 2030, por exemplo, ele poderá se completar em 2080. A principal incerteza é saber quando esse limiar crítico será cruzado”, afirmou à Folha.
Apesar do alerta, Willock e Dearing destacam que algumas atitudes que podem ser consideradas “pequenas” têm potencial para, ao menos, retardar o processo. No caso da Amazônia, por exemplo, a diminuição do desmatamento e da caça poderiam representar um bom começo.
“A mesma lógica [que causa destruição] pode funcionar de forma contrária. Potencialmente, se aplicarmos pressão positiva, podemos ver rápidas melhoras dos ecossistemas”, resumiu à RTP.
Texto publicado em BRASIL DE FATO
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