Atletas competiam no rio Paraguai quando duas ariranhas apareceram e os assustaram. Especialistas dizem que mamífero deve ter interpretado a presença dos humanos como invasão de território.
A maratona aquática “Eco Pantanal Extremo 2022” testemunhou uma cena inédita neste final de semana em Corumbá (MS). Durante a prova, uma dupla de ariranhas (Pteronura brasiliensis) começou a acompanhar dois atletas no rio Paraguai. Esta foi a primeira vez que a competição assistiu o mamífero apresentar o comportamento. O episódio, que preocupou quem assistia a competição, porém, pode ter um motivo previsível: a interpretação da presença dos nadadores pelos animais como um sinal de invasão de território.
De acordo com Luciano Silva de Oliveira, diretor-presidente da Fundação de Esportes de Corumbá (Funec), que organiza a maratona, o episódio foi registrado na manhã do último domingo (13). Na ocasião, os nadadores competiam o nado de um quilômetro. “Em oito anos de competição isso nunca aconteceu, primeira vez”, disse a ((o))eco.
Após o incidente, surgiu entre moradores de Corumbá a hipótese de que as ariranhas estivessem com filhotes, o que poderia ter motivado a perseguição contra os nadadores. O diretor-presidente da Funec, no entanto, disse que não pôde confirmar este dado.
A cena, porém, não interrompeu o desempenho dos atletas. À reportagem, a fundação disse que os nadadores chegaram em 1º e 2º lugar. “Só um deles que chegou de ver as ariranhas, o outro nem viu, continuou nadando”, acrescenta Oliveira. Duas embarcações, uma da Marinha do Brasil e outra do 3º Grupamento dos Bombeiros de Corumbá, como noticiou o Diário Corumbaense, se aproximaram dos atletas, assim que perceberam a ação dos mamíferos. O barulho dos veículos assustaram as ariranhas, que fugiram.
Maior lontra do mundo
Considerada a maior lontra do mundo, a ariranha é uma espécie endêmica (restrita) da América do Sul, mas apresenta declínio em muitos países. “No Uruguai a espécie já é considerada extinta. Na Argentina ela é criticamente ameaçada de extinção”, conta a ((o))eco Caroline Leuchtenberger, coordenadora global do mamífero na União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês).
No Brasil, o mamífero ocorre na Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, sendo o rio Paraguai – principal formador do bioma – uma de suas típicas áreas de ocorrência. “Noventa por cento da dieta delas é composta por peixes, eventualmente, especialmente em situações de falta de recursos, elas acabam consumindo outros tipos de presas, como jacarés, e outros vertebrados também”, acrescenta a especialista, que também preside o Projeto Ariranhas no Brasil.
Animais sociais, elas vivem em grupos formados sempre por um casal, sendo estes os únicos indivíduos que se reproduzem dentro do grupo, conta a coordenadora. Ela explica que, assim, o grupo aumenta de tamanho com a permanência dos filhotes de diferentes idades.
“Mas além dos grupos familiares, também existem grupos que são formados aleatoriamente sem nenhum parentesco. Sendo o formato de grupo familiar o mais comum”, comenta.
Sociais, mas também territoriais
Sobre o episódio registrado no rio Paraguai, em Corumbá (MS), Leuchtenberger, primeiro, esclarece que a presença do mamífero na região do porto da cidade é conhecida, e que o grupo já reside há algum tempo nessa área. O acompanhamento feito pelo mamífero diante da percepção de qualquer coisa diferente em seu ambiente, esclarece ela, também é um comportamento natural.
“Sempre que avistam algo diferente no seu ambiente, a sua reação é inspecionar, se aproximando, erguendo o pescoço, e em geral, vocalizando sons de alarme (bufos)”, esclarece Leuchtenberger ao explicar que essa reação não é um prenúncio de ataque, mas que, de fato, pode assustar aqueles que não conhecem a espécie.
No caso da maratona aquática, a especialista explica que a movimentação do grupo de nadadores no local não é comum. Por isso, as ariranhas podem ter confundido os atletas com algum outro grupo de ariranhas intruso em seu território. “Se ficarmos tranquilos elas perderão o interesse e perceberão que não representamos uma ameaça. A tendência é que elas relaxem e se distanciem. […] Como os nadadores seguiram os movimentos, isso pode ter ativado o sistema de defesa do grupo”, acrescenta.
Esse comportamento se dá, sobretudo, porque as ariranhas além de sociais também são territoriais. Isso significa que elas são animais que defendem os territórios ao longo dos corpos d’água onde habitam. “Elas passam grande parte do dia marcando esses barrancos, essas áreas para realmente sinalizar aquele trecho como sendo propriedade delas”, conclui Leuchtenberger.
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Recomendações sobre ariranhas
A ariranha (Pteronura brasiliensis) está em perigo de extinção, de acordo com o status de conservação elaborado pela IUCN. O cenário reflete a necessidade de engajamento para a promoção da conservação do mamífero.
De acordo com o Projeto Ariranhas, como qualquer outra espécie silvestre, o mamífero tem uma zona de conforto que, se invadido, ativa no animal o seu sistema de alerta. À pedido de ((o))eco, o projeto elencou uma série de recomendações sobre o mamífero:
- Manter distanciamento e evitar se aproximar da espécie;
- Em caso de avistamento e aproximação inesperada, não entrar em pânico, ficar em silêncio, evitar se movimentar muito e não fazer movimentos bruscos;
- Jamais se aproximar das tocas do mamífero ou nadar próximo a locais que tenham filhotes;
- Jamais alimentar ariranhas e evitar deixar restos de peixes/iscas em barcos que podem ser acessados pela espécie. Caso contrário, a ariranha pode se aproximar de pessoas e dos barcos, aumentando o risco de acidentes;
- Não reagir de forma agressiva a ariranhas. Elas podem reagir agressivamente a você ou a outras pessoas que a encontrarem.
Fonte: O Eco
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