Os “Duces” sempre nos prometem um mundo maravilhoso, sem sofrimento e costumam se oferecer como o Messias da salvação. Mas, tão logo entram no poder só enxergam seus próprios interesses, e o final é sempre trágico.
Por Farid Mendonça Júnior
______________________________
O mundo segue com transformações políticas intensas, desafiadoras e perturbadoras. Presidente atacando jornalistas no novo continente. Jornalistas e torcedores sendo racistas com atletas pretos na Europa.
Pessoas que supostamente deveriam dar exemplos de liderança, educação, civilidade e tolerância, destilam ódio e seus sentimentos mais primitivos. Muitas vezes não sentindo qualquer remorso de externalizar suas preferências por raça e cor, entre outras cegas paixões.
Sabe-se que a humanidade costumeiramente vive de ciclos, alternando entre ciclos mais conservadores e outros mais liberais.
Entretanto, o mundo parece não estar definindo uma certa tendência. Enquanto alguns países estão passando da direita pra esquerda, outros insistem fazer o caminho inverso, até atingir a extrema direita.
Ressalto antes de mais nada que há pontos, ideias e propostas positivas tanto na esquerda como na direita. E que o extremismo é que não é razoável.
Não causa estranheza a situação da Itália. Tão bela e tão confusa ao mesmo tempo. Tão histórica e tão corrupta e caótica na política.
A rica história vai desde assassinatos no Senado da antiga Roma (quando nem mesmo Itália era) até o surgimento de uma nefasta ideologia conhecida por fascismo, de onde surgiram outros movimentos ideológicos de ultradireita, tal como o nazismo alemão.
E assim o fascismo e o nazismo lideraram juntos o caos que se abateu sobre o mundo e e, em especial, na Europa, principalmente naqueles anos terríveis de 1939 a 1945, que marcaram a Segunda Guerra Mundial e que foram responsáveis pela morte de cerca de 50 milhões de pessoas.
Retornando para a Itália, neste domingo que se avizinha, o berço do Renascimento poderá eleger a primeira mulher como Primeira Ministra, algo louvável num país tradicionalmente machista. Entretanto, terrível ao mesmo tempo, haja vista o romance, na verdade a mais pura convicção, da quase iminente primeira Ministra, Giorgia Meloni, com a ideologia fascista.
Esta política já foi Vice-presidente do partido Aliança Nacional, o qual surgiu do partido neofascista Movimento Social Italiano, composto por apoiadores de Benito Mussolini, o outrora líder ou “Il Duce”, como era conhecido, do fascismo italiano, e parceiro de todas as horas de Adolf Hitler.
Hoje ela faz parte do partido Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) desde 2012 e possui grandes chances de se tornar a nova primeira Ministra da Itália.
Se o partido difundisse a irmandade pelo sentido da palavra, tudo bem. Mas, sabe-se que há questionamentos sobre os direitos LGBT e política de imigração, defesa do ultranacionalismo, entre outras diversas pautas retrógradas, que já não cabem na diversidade cultural, sexual e libertária que a humanidade atingiu e tenta sustentar.
O fato é que esta pauta ultraconservadora e antiquada está presente no mundo todo, as vezes chegando a maioria de alguns países e por outras vezes alcançando percentuais entre 20 a 30% da população.
Isso representa grande ameaça para a liberdade e para os direitos duramente conquistados ao longo de séculos, e também para todas as instituições democráticas construídas com muita luta.
Recentemente, a população dos Estados Unidos conseguiu mandar “Il Duce” Donald Trump de volta pra casa. O Brasil, segundo as diversas pesquisas de intenção de voto, parece andar no mesmo caminho no sentido de despachar seu “Duce” do poder.
Infelizmente, a Itália parece estar fazendo o movimento oposto. E temo que em breve estaremos testemunhando pela televisão milhares de pessoas e cidadãos italianos deixando a bela Itália, num ritmo da canção Bella Ciao (música símbolo da resistência antifascista) com efeito inverso, devido aos arroubos autoritários que ocorrerão.
Na Rússia, o “Duce” deles em muitos aspectos e temas se parece muito com a pauta da ultradireita que anda arrebatando os corações mundo afora. E que infelizmente já mostra as garras do quão trágico isso pode representar, haja a vista a invasão da Ucrânia e as irresponsáveis bombas lançadas ao redor da maior usina nuclear da Europa, Zaporizhzhia, na Ucrânia. Inclusive, a Polônia já notificou a comunidade internacional de que já está se preparando para um desastre nuclear.
Além da convocação do “Duce” Putin de cerca de 300 mil pessoas para lutarem no esforço “individual” de guerra que o referido lunático criou a seu bel prazer, forçando milhares de russos a deixarem o país para não ter que perder suas vidas no front do egoísmo de um indivíduo.
Como diz o título do texto, Il Duce vive entre nós. Mas temos sempre que estar vigilantes para não deixá-lo crescer, e, caso ele esteja no poder, que então possamos arrancá-lo de lá na oportunidade que a democracia nos dá, se não for tarde demais.
Os “Duces” sempre nos prometem um mundo maravilhoso, sem sofrimento e costumam se oferecer como o Messias da salvação. Mas, tão logo entram no poder só enxergam seus próprios interesses, e o final é sempre trágico.
Vigiai os “Duces”!
Comentários