“A Malásia escolheu desmatar é negociar madeira e acabou com suas reservas florestais. As áreas novas e de expansão urbana, em Singapura, são “terras” conquistadas por meio de aterramento marítimo. A tecnologia aí aplicada é algo fascinante. E as florestas conservadas assim continuarão.“
Por Wilson Périco
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Enquanto o acordo entre Mercosul e Mercado Comum Europeu tem patinado por razões que escapam ao comum dos mortais, as negociações entre o Mercosul e um país asiático – no caso o mais interessante para o nosso Continente, Singapura – veio à luz com pompas e expectativas. E expectativas – posso arriscar – do melhor calibre. Tive o privilégio de visitar há 8 anos, e posso adiantar que essa aproximação de propósitos e ganhos representará negócios e oportunidades de que precisamos para sair dessa maré onde a pandemia nos enfiou a todos.
E quem é Singapura neste tabuleiro de alternativas? O que me chamou a atenção na visita foi o fato do país ser o menor dos Tigres Asiáticos do ponto de vista territorial e de recursos naturais e ser o ‘melhor lugar do mundo para fazer negócios”. Essa é a opinião do Banco Mundial e de quem transita no universo business nesta maloca global. Será porque tem o melhor IDH da Ásia e o 9º do mundo?
O acordo de Singapura com o Mercosul, o primeiro de nosso mercado sul-americano com um país asiático, foi traduzido pelas autoridades brasileiras como sendo “moderno, abrangente e inovador”. Em outras palavras, isso significa dizer que o país terá a oportunidade de mergulhar num espaço denso, proveitoso e dinâmico das cadeias globais de valor. Essa convivência com novos paradigmas de negociação multilateral implica em aprendizagem e salto de qualidade em nossas transações.
Uma das implicações desta movimentação empresarial e diplomática é que, rapidamente, iremos identificar nossas vulnerabilidades e talentos. Valorizar nossos ativos e habilidades e aprender compartilhando o que temos é tudo de bom e não tem preço. Habilidades e oportunidades demandadas nas grandes transações são a equação do crescimento. Paradigmas tarifários e regulatórios para orientar serviços, investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual, medidas sanitárias e fitossanitárias e defesa comercial… eis algumas das narrativas que invadirão em breve nossos relatórios, argumentos e conversações.
Que país é este, originalmente configurado pela colonização inglesa, na mesma época em que o Império Britânico descobrira no universo tropical amazônico um repertório imensurável de oportunidades que não tardaram a aproveitar? Singapura tem similaridades climáticas e culturais com a Amazônia. Temos muito a partilhar…
Chama a atenção de quem vai a Singapura ver seu território intensamente urbanizado – é muita gente para pouco espaço. Pois bem, o país tem 50% de sua área antropizada, enquanto os outros 50% são ainda cobertos por vegetação. Decididamente nós somos aquilo que virou consequência de nossas escolhas. A Malásia escolheu desmatar é negociar madeira e acabou com suas reservas florestais. As áreas novas e de expansão urbana, em Singapura, são “terras” conquistadas por meio de aterramento marítimo. A tecnologia aí aplicada é algo fascinante. E as florestas conservadas assim continuarão.
O nosso novo parceiro no Mercosul é referência e top no ranking em algumas áreas, como o quarto principal centro financeiro do mundo, o segundo maior mercado de cassinos e o terceiro maior centro de refinação de petróleo do planeta. Seu porto é um dos cinco mais movimentados da logística de transportes global e o país é o lar do maior número de famílias milionárias em dólares per capita do planeta. Que lições podemos assimilar em favor da Amazônia com este novo parceiro do Mercosul?
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