Nunca foi tão perigoso defender a natureza no Brasil. Os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari, em junho passado, evidenciaram a situação que milhares de defensores do meio ambiente e dos Povos Indígenas enfrentam diariamente no país, principalmente na região amazônica. Infelizmente, como o caso de Bruno e Dom mostra, muitos desses ativistas encontram a própria morte nessa luta.
“Os repetidos relatos de violência contra defensores fizeram do Brasil um dos países mais perigosos da região para defender o meio ambiente”, afirmou à BBC Brasil Pedro Vaca Villarreal, relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Villarreal lembrou dados de um relatório de 2021 da entidade que já alertava os governos da região amazônica para o aumento da violência. No contexto brasileiro, ele também destacou a leniência e a postura agressiva de lideranças políticas do país contra a sociedade civil e os temas de meio ambiente e Direitos Indígenas.
“A situação de violência contra pessoas que contribuem para a deliberação pública e a democracia, como jornalistas, ativistas e defensores no Brasil, tem sido agravada por comentários estigmatizantes e erráticos de autoridades públicas de alto escalão, o que em muitos casos pode aumentar os riscos inerente ao trabalho dessas pessoas”, disse Villarreal.
Sobre o caso de Bruno e Dom, o Fantástico (TV Globo) exigiu imagens exclusivas da reconstituição do crime realizada pela Polícia Federal e pela Polícia Civil do Amazonas no começo do mês. Um dos assassinos confessos, Jeferson da Silva Lima, explicou aos investigadores como foi a abordagem ao barco do indigenista no rio Itaquaí e a troca de tiros entre eles. Ao final, os criminosos queimaram os corpos das vítimas e ocultaram o barco de Bruno em um igarapé. Outros dois suspeitos presos, Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, e o irmão dele, Oseney, se negaram a participar da reconstituição.
Do outro lado da fronteira, no Peru, a insegurança também marca a vida de Povos Indígenas e Tradicionais da floresta, impulsionada principalmente pelo avanço do crime organizado associado ao tráfico internacional de drogas.
No El País, Jacqueline Fowks destacou a situação e ressaltou a presença dos criminosos nessa área como uma das principais ameaças aos defensores dos Direitos Indígenas e do meio ambiente.
Em tempo: Grupos indígenas relataram novos ataques armados contra comunidades Guarani-Kaiowá em Naviraí, no Mato Grosso do Sul. Nas últimas semanas, o conflito entre indígenas, agricultores e policiais militares se intensificou, com pelo menos três mortes desde maio. A mais recente aconteceu na 5ª feira (14/7), com o assassinato de Márcio Rosa Moreira, líder indígena que atuava na luta fundiária nessa região. A Folha deu mais informações.
Texto publicado originalmente em Clima INFO
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