“A campanha do Maio Amarelo traz uma pauta relativamente simples e transcendental, mobilizando corações e mentes para meditar sobre o significado do verbo cuidar e do gesto de salvar vidas”.
Por Paulo Takeuchi
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Na lua, na grua, ou no trânsito da rua, todas as vidas importam. O mês de maio – e sua cor amarela a significar o “presta atenção” do semáforo da esquina – está chegando ao fim, mas a campanha para salvar vidas certamente vai continuar. É claro, pois se trata de uma pauta de cuidados que movimenta toda a energia que há em nós. Um movimento que recomeça todos os dias, pois vidas nos cercam, envolvem e nos completam. E todas elas importam. Aliás, como é gratificante também saber que nossa vida é importante para alguém. E, por consequência, como é difícil perder alguém que é importante para nós.
A campanha do Maio Amarelo 2022, “Juntos Salvamos Vidas!”, desenvolvida pelo Observatório Nacional da Segurança Viária (ONSV) em parceria com a Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN), e que conta com o apoio da Abraciclo, é esta pauta simples e transcendental, cumprido sua finalidade simbólica de mobilizar corações e mentes para meditar sobre o significado do verbo cuidar e do gesto de salvar vidas.
Nos demais dias do ano, assim procedendo, estaremos vitaminados com essa energia contagiante que faz valer a pena o viver, sempre influenciados positivamente pelo alerta amarelo do “presta atenção”. E ao continuar vivos, aprendendo e ensinando a cuidar e salvar vidas, descobrimos o quanto é precioso estar e ficar bem atentos, pois esta é a condição mágica para usufruir das coisas boas do viver, e do aprender a partilhar o ato sagrado e fraterno de conviver.
E essa descoberta se dá quando a gente aprende a acolher o outro, a distribuir gentilezas, a cultivar e partilhar boas práticas das relações de casa, no trabalho, no trânsito. O cotidiano é frenético, e por isso sugere a cada um cultivar – no modo irmão – os gestos que nos tornam craques na arte do saber viver. Sem descuidar que os outros vivam do jeito que lhes convém. Lembrando sempre, ao tratar bem aos outros, que somos sempre o outro na vida de alguém.
Insistimos que todas as vidas importam! E se todas elas importam precisam ser acolhidas, valorizadas… sem discriminação, preconceito ou imposição. E cada vez que lembrarmos disso na movimentação diária do trânsito, sobre duas, três ou quatro rodas nas ruas da vida, vamos lembrar nossos pais que insistiam em repetir: é melhor gastar bem um instante na vida do que acabar a vida num instante. Todas as vidas importam!
Durante a pandemia, essa sacudida inesperada na vida de todos nós, o susto trouxe ao cotidiano essa interrogação existencial. Quanto vale uma vida? Estávamos – ou ainda estamos? – diante das ameaças de um inimigo oculto, mortal, espalhado imperceptivelmente por todo o mundo, e nós nos perguntávamos: quanto valeria a vida de cada um, sem a vacina ou com soluções enganosas que a Ciência não tardou a esclarecer? A vida não tem preço e nada tem importância sem a vida. Faltou oxigênio. O2, lembrando, é a molécula original, o princípio da Vida, o apelido de Deus.
O dilema da falta de oxigênio foi traumático e cravou marcas indeléveis em todos que aqui vivem. De quebra, projetou a imagem do nosso Amazonas do pior jeito, quando faltou ar para prolongar ou assegurar a vida de tantas pessoas. Muitas delas, na linha heroica de frente de combate ao vírus, e com a dramática decisão sobre quem deveria receber ou não o oxigênio disponível para poucos, enquanto muitos agonizavam por sua escassez.
Que ironia: vivendo no coração da maior floresta tropical do planeta, uma verdadeira fábrica de trocar o gás carbônico produzido pelo progresso das civilizações, por oxigênio que ajuda o Brasil e o mundo a respirar melhor, ficamos sem o oxigênio engarrafado para salvar vidas. Não podemos jamais esquecer disso. Não se trata, aqui, contudo, de apontar culpados. A História vai se encarregar de julgar esse momento cruel, investigar em profundidade a responsabilidade por quase 700.000 mortos no Brasil, vítimas da pandemia. Um alerta, porém, precisa ser registrado.
Apesar de tantos cérebros, expulsos do país, pelo descuido crônico com relação à Ciência, outros tantos aqui permaneceram e poderiam perfeitamente ter salvo uma parcela significativa desses brasileiros que precisaram aguardar desesperadamente as vacinas produzidas em outros países. Não estamos no papel de juízes. Somos pessoas comuns, mais que isso, somos sobreviventes, iniciantes na arte do aprender e ensinar a cuidar e salvar vidas e, como nunca, amantes da existência, sobretudo quando ela é repartida e isso depende só de nós, desse amontoado de motivos que temos para viver, para cuidar deste maravilhoso presente chamado vida, que nos humaniza, nos torna mais compreensivos e mais pacientes para salvar e cuidar de gente. Afinal, todas as vidas importam!
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